Introdução à História da Filosofia 2 Marilena Chauí

(Zelinux#) #1
vida. Visto que fazemos tudo para evitar a dor física e a perturbação do ânimo e
para buscar o bem-estar do corpo e da alma, precisamos do prazer que, por isso,
"é o começo e o fim da vida feliz". Podemos, assim, observar porque prazer e dor
são critérios do conhecimento, pois é a partir deles que se poderá conhecer a
complexidade do desejo e decidir o que se deve escolher ou rejeitar.

A FÍSICA


Diz Epicuro:

Não pode afastar o temor, que importa para aquilo a que damos a maior importân­
cia, quem não souber qual é a natureza do todo [o universo] e se perturbar com fá ­
bulas míticas. Por isso não se podem gozar prazeres puros sem o conhecimento da
Natureza.

Vimos, ao iniciar, o elogio de Lucrécio à filosofia de Epicuro, por ter liber­
tado os homens das trevas da superstição, nascida do medo diante da Natureza.
É sobretudo à física epicurista que o elogio é endereçado, pois dela dependem a
canônica e a ética, isto é, o conhecimento verdadeiro e a ação virtuosa dos ho­
mens. Por que essa física é apresentada por Lucrécio como libertadora para os
homens, afastando o medo e a superstição? Porque ela recusa conceber a Natu­
reza (a physis) de maneira mítico-religiosa como as de alguns pré-socráticos
(como Heráclito, Parmênides e Empédocles), e mesmo as de Platão, de Aristó­
teles e dos estoicos, pois em todas essas concepções a existência da Natureza
pressupõe a de seres ou princípios transcendentes que lhe deram um começo,
uma organização e uma finalidade. Para compreender a Natureza, a física epi­
curista não precisa recorrer a qualquer transcendência, e mesmo dispensa ex­
pressamente esse recurso.


Os princípios fisicos


A física de Epicuro, conhecida sobretudo pela Carta a Heródoto, funda-se em
um conjunto de princípios, que podem ser assim resumidos:



  1. "Nada nasce do nada" ou "nada se origina daquilo que não é". Se assim


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