Você SA - Edição 252 (2019-05)

(Antfer) #1

AGORA | ENTREVISTA COM A PRESIDENTE


20 wMAIO DE 2019 wVOCÊ S/A


cursar economia na Universidade Co-
lumbia para expandir e conhecer um
novo grupo de pes soas. Nunca fui ar-
tista de delegar. Eu negociava cachês,
fechava contratos e organizava festi-
vais. Quando tive o problema no braço
e parei de tocar, não foi fácil. Depois
do baque, pensei que poderia unir mú-
sica com business. Alguns colegas de
faculdade estavam trabalhando na
Sony em Nova York. Mandei currículo
e, um belo dia, fui chamada para par-
ticipar da seleção de um programa
global de trainee da gravadora. Eles
estavam recrutando dez talentos ao
redor do mundo para influenciar a
liderança e fui escolhida.


Sua capacidade de negociação lhe
rendeu um cargo de CEO. Que estra-
tégias usa para convencer pessoas?
A regra número 1 é valorizar a pers-
pectiva do outro. Em negociações
calorosas, se você não considerar o
ponto de vista alheio, não haverá acor-
do comum. Outra coisa, eu falo “não”.
Muitos vendedores dizem “sim” para
tudo. Há ideias que parecem boas, mas
com nossa experiência sabemos que
não funcionarão. Eu e meu time nega-
mos projetos que nos dariam vanta-
gens, mas prejudicariam a outra par-
te. Isso gera confiança e credibilidade.


Você foi contratada grávida e
desembarcou no Brasil para
implementar a operação com um
bebê de 2 meses. O que diria às
mulheres que buscam conciliar
liderança com maternidade?
Tentem olhar as coisas de outra for-
ma. Foi difícil, mas eu evitei a vitimi-
zação. Eu pensava: talvez estivesse
infeliz na Sony agora. Além disso,
estava mais perto de meus pais e
tinha o privilégio de morar ao lado
do escritório. Meu marido deixou um
emprego de diretor na Holanda para


me acompanhar e não falava uma
palavra em português, mas podia
estar em casa com nosso filho. Era
chato tirar leite com bombinha no
banheiro do avião para amamentá-
-lo? Era. Mas racionalizei para ver
o lado positivo da situação.

Dificulta ser mulher e jovem à
frente de uma multinacional?
Não, porque não deixo dificultar. Mui-
tas vezes, os homens encaram uma
jovem executiva como “menininha”
e não se preparam tão bem quanto
se fossem negociar com um homem.
Quando a conversa acaba, estão
perdidos sem entender o que houve,
porque conheço meu negócio e sei
argumentar com dados. Já estive em
conversas com oito executivos, todos
homens, jogando com meu emocio-
nal, dizendo frases como “você não
está sendo legal”. Algo que jamais
falariam a outro homem.

Como lida com essas situações?
Lembro-me de uma vez, em Londres,
durante uma reunião com um CEO
e outros executivos. Quando entrei
na sala, um deles me pediu para ir
pegar café. Meu superior ficou ca-
lado. Saí, busquei o café, sentei-me,
entreguei meu cartão. Meu chefe,
que tinha um humor bem inglês,
perguntou: “Quer pedir mais algu-
ma coisa para ela?” Olha, eu levo na
boa, porque acho que não avança-
remos no embate frontal com eles.
Nesse sentido, acredito no movimen-
to HeForShe [campanha da ONU
para envolver os homens na defe-
sa da igualdade de gênero].

Qual é o feedback mais importante
que já recebeu na carreira?
O pianista tem um nível de exigên-
cia alto, pois o público que assiste a
concertos não aceita uma nota erra-
da. Certa vez, um colega disse que
eu não deveria esperar dos outros o
que esperava de mim mesma. Que
eu tinha de entender as limitações,
os recursos e o tempo de cada um.
Depois disso, repensei o jeito de lide-
rar e passei a me colocar no lugar do
outro. Além de me frustrar menos,
incentivo as pessoas a fazer melhor.

Como você enxerga o futuro
da BrandLoyalty no Brasil?
Temos de estar preparados para
manter nossa excelência impecável,
independentemente dos desafios e
das surpresas que o país possa nos
impor. O foco agora é fortalecer a
empresa em termos de estrutura,
mantendo a taxa de crescimento, a
qualidade da entrega e a inovação.
Vamos introduzir o selinho digital,
expandir para outros estados e de-
senvolver parceiros locais, fazendo
com que marcas famosas daqui se-
jam conhecidas lá fora.

“Era chato


tirar leite no


banheiro do


avião para


amamentar?


Era. Mas


racionalizei


para ver o


lado positivo


da situação”
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