Você SA - Edição 252 (2019-05)

(Antfer) #1

E um dos campos mais promissores
não está nas jovens empresas disrup-
tivas, mas dentro das grandes cor-
porações, cada vez mais ávidas por
inovar. Tanto que, de acordo com um
estudo da startup de investimentos
americana Gust, publicado em 2016
e que entrevistou 579 aceleradoras
no mundo todo, cerca de 67% pre-
tendiam gerar receita por meio de
serviços corporativos. Apenas 32%
esperavam ter retorno financeiro com
os exits — quando uma startup com
a qual a aceleradora trabalha é com-
prada e as ações são vendidas. E esse
movimento está chegando ao Brasil.
“Tal como ocorreu nos Estados Uni-
dos e na Europa, as aceleradoras bra-
sileiras encontraram no atendimento
às organizações uma forma de fechar
as contas e alcançar sustentabilidade
econômica”, diz Caio Ramalho, coor-
denador do curso de MBA em private
equity, venture capital e investimen-
tos em startups da Fundação Getulio
Vargas do Rio de Janeiro.
Com isso, departamentos inteiros
estão sendo criados dentro das ace-
leradoras apenas para oferecer servi-
ços como treinamentos corporativos,
implantação de times ágeis e progra-
mas de incubação em conjunto com
grandes empresas. Algumas deci-
diram ir mais longe e estão focadas
apenas nesse trabalho. E, prometen-
do fazer a inovação sair do discurso,
as aceleradoras passaram a ser um
competidor de peso contra as con-
sultorias tradicionais. “Por estarem
mais próximas da linguagem e das
práticas dos empreendedores, elas
tendem a ganhar muito ofertando
esse serviço”, diz Igor Piquet, diretor
de empreendedorismo da Endeavor.


Menos Excel, mais
mão na massa
Criada há sete anos, e tendo acelera-
do 260 startups, a Ace é um exemplo
desse movimento. Desde 2014, a em-
presa prestava serviços para grandes


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companhias de forma pontual, mas
há um ano resolveu criar um novo
braço dentro do grupo com a ope-
ração voltada apenas para o público
corporativo. Captaram 5 milhões
de investimento de um fundo e lan-
çaram a Ace Córtex em fevereiro
de 2018. “Queríamos entregar algo
além de um PowerPoint com cen-
tenas de slides apontando possibi-
lidades. Nosso objetivo era ajudar
as empresas a encontrar estratégias
de produtos que causassem impacto
em seus negócios e a desenvolver os
projetos junto com elas no dia a dia”,
diz Pedro Waengertner, CEO da Ace.
Um dos exemplos foi o trabalho que
a Ace Córtex realizou com a empresa
de previdência privada BrasilPrev,
em 2018. “Capacitamos os líderes
da empresa em metodologias ágeis
e ensinamos a eles como apresen-
tar ideias em formatos de pitch, por
exemplo”, diz Pedro. Como resultado,
no perío do de cinco meses os execu-
tivos da BrasilPrev apresentaram oito
projetos de novos produtos. “A ex-
pectativa da companhia é que essas
iniciativas gerem 20 milhões de reais
de retorno em um ano”, afirma Pedro.
A estratégia caiu no gosto das em-
presas e os clientes da Ace Córtex
saltaram de dois, no início de 2018,
para 33 atualmente, entre eles gigan-
tes como Basf e Natura. Com isso, o
grupo, que atualmente emprega 40
pessoas, pretende aumentar esse nú-
mero para 100 até o fim do ano. Esses
novos profissionais serão, sobretudo,
empreendedores — bem-sucedidos
ou não. “Já conhecíamos o talento de
muitos deles, que tinham passado pela
aceleradora anteriormente e que, por
algum motivo, não tiveram sucesso
em suas startups.” O fracasso, ali-
ás, é visto com bons olhos. “Quem já
empreendeu lida melhor com a incer-
teza inerente aos negócios em fases
tão iniciais e não se dá por vencido
diante das dificuldades, além de ser
mais questionador”, diz Pedro.

EMPREENDEDORISMO

Para cada necessidade
A Startup Farm também ajustou a
rota no meio do caminho. Fundada
há oito anos e com um currículo
pelo qual passaram startups como
Easy Taxi e WorldPackers, em 2014
a aceleradora resolveu estruturar a
OpenCorp Farm, uma unidade de
negócios voltada para grandes em-
presas. “Muitas corporações nos pro-
curavam para ajudá-las, então vimos
uma oportunidade de atender melhor
essa demanda”, diz o CEO Alan Leite.
Entretanto, em vez de formatar
serviços personalizados, a estra-
tégia da OpenCorp Farm foi iden-
tificar necessidades comuns das
corporações e criar soluções que se
adaptassem a qualquer companhia.
“Percebemos uma procura por trei-
namentos sobre empreendedorismo
para cargos de gerência e diretoria,
aceleração de projetos internos com
as metodologias de startups, além
de workshops de resolução de pro-
blemas”, afirma Alan. Outra tática
foi replicar o programa de acelera-
ção da Startup Farm, que recruta
empresas de todos os segmentos,
em outros que selecionam startups
de ramos específicos, como o Ahead
Visa e o Ahead Banco do Brasil.
Atualmente, a OpenCorp Farm
tem seis clientes, entre eles Cen-
tauro, Banco do Brasil e Oi Futuro,
e pretende dobrar a receita em 2019.
O time, que hoje tem 16 pessoas,
deve aumentar para 22 até o fim
do ano. “Terão oportunidade os
profissionais com experiência em
gestão de portfólio de empresas, in-
vestimentos e relacionamento com
grandes corporações”, afirma Alan.

Alan Leite, CEO da
Startup Farm:
identificar as
grandes
necessidades das
corporações foi a
chave para o
negócio dar certo
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