Na região
O historiador e jornalista Marcos
Antonio Vazniac, da cidade de Lucé-
lia, realizou em 2001 uma pesquisa
no acervo do Estado para escrever
a História de Lucélia. Encontrou no
Departamento Estadual de Ordem
Política e Social de São Paulo (DEOPS/
SP) mais de 300 prontuários da cida-
de para serem pesquisados. Segundo
ele, existem caixas com documentos
de Adamantina, Osvaldo Cruz, Flórida
Paulista, Mariápolis e de todos os
municípios do Estado de São Paulo.
A Revista VOX teve acesso a parte
destes relatórios e constatou que a
maioria dos prontuários foi enviada
pela Delegacia de Polícia de Lucélia,
com assinatura do delegado da época.
Constatamos que foram investigados
minuciosamente a vida e postura dos
líderes religiosos através de questio-
nários enviados pelo DEOPS, desde
qualificação completa até circuns-
tâncias a conduta moral, política e
ligações com grupos financeiros. As
religiões predominantes eram: Cató-
lica Apostólica Romana; Congregação
Cristã no Brasil e Presbiteriana.
Também os municípios eram
questionados sobre a existência ou
inexistência de campos de aviação
em caso de pousos emergenciais
para uma possível intervenção militar.
Postura das escolas do município fo-
ram avaliadas para verificar se havia
propaganda subversiva ou manifesta-
ção contrária às decisões do governo,
assim como a de sindicatos industriá-
rios, comerciários e patronais.
Matérias veiculadas em jornais da
região que mencionavam algum ato
político, como a formação da AMNAP
(Associação dos Municípios da Nova
Alta Paulista) ou visitas de deputa-
dos por exemplo, eram grifadas em
vermelho e encaminhadas para o
Departamento.
No DEOPS, o arquivo com infor-
mações era chamado de "Dossiê
Lucélia". Lá continha nomes de todas
as pessoas de destaque na política e
na sociedade luceliense.
Já como historiador, questiona-
mos Marcos Antonio sobre a pers-
pectiva que analisa o período militar,
confira: "Na verdade a ditadura acon-
teceu num período histórico chamado
Guerra Fria. O jogo de política inter-
nacional estava indefinido. Existia
uma bipolarização, pois o Brasil iria
ou para o lado soviético ou para o
lado americano. E nesse contexto da
ditadura militar, toda a América Latina
foi para o lado americano. Então todo
o pensamento crítico que existia foi
unitizado. Os militares não foram
atrás de pessoas comuns, mas de
Chico Buarque, do Plínio Marcos. Ou
seja: dos intelectuais, artistas e dos
universitários que eram pensadores.
O grande legado negativo, segundo o
jornalista Mino Carta da revista Carta
Capital, é a "unitização" da sociedade.
Nós vamos demorar pelo menos 100
anos para nos recuperar do estágio
que estávamos de desenvolvimento
cultural, artístico e científico. Houve
uma censura. O grande lado negativo
é a censura, mas hoje falar só em Di-
tadura Militar é um termo errado, pois
o militar na verdade foi um punhal e
existe um pulso que empurra esse
punhal. A sociedade civil, igrejas, as
marchas com Deus pela Família, fo-
ram órgãos que apoiaram a ditadura.
Os militares não agiram sozinhos. E
existem também todo o contexto
econômico internacional".
Jorge Cavlak
Ateu e comunista. É assim que
definimos a personalidade de Jorge
Cavlak, 74 anos. Natural da cidade de
Lucélia, o entrevistado é celebridade
conhecida na região pelo seu ponto
de vista marcante e opiniões que,
muitas vezes, vão contra a maioria.
Ele foi uma das poucas pessoas
que sofreram represália no período
militar. Começou a entrevista ques-
tionando que "consta que a ditadura
terminou, aonde foi que terminou?
Não tenho estatística, mas acredito
que o Brasil está pior em termos
de violência do que esteve naquela
época".
No DEOPS/SP havia mais de 300 prontuá-
rios de Lucélia para serem pesquisados. Exis-
tem caixas com documentos de Adamantina,
Osvaldo Cruz, Flórida Paulista, Mariápolis...
Jorge Cavlak - um impositor da Ditadura