Amante dos livros e da escrita,
possui em sua casa uma biblioteca
particular com mais de mil livros
adquiridos durante a vida, sendo que
cerca de 300 destes, são cadernos
personalizados contendo os textos
de Cavlak.
Acredita que quem comandou a
ditadura foram os Estados Unidos,
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas
Gerais. Diz ainda que não foi nem
uma revolução, mas um roubo do
Poder do Estado motivado pela
igreja, empresariado e a marcha que
deflagrou todo o processo em frente
a Praça da Sé.
Em relação ao fim da ditadura
numa visão global, ele observa que
"deixou o povo alienado porque
acovardou a todos. Por exemplo, se
tivesse sido preso não falaria segu-
ramente sobre o assunto".
Não possui nenhuma convicção
política partidária neste momento
de sua vida. Revelou à reportagem
que foi simpatizante do Partido dos
Trabalhadores (PT) por muitos anos,
mas a conjuntura depois da Era Lula
não o agrada. "Mesmo sendo comu-
nista, não me filiei ao Partido Comu-
nista porque o intelectual não pode
ficar preso a uma única premissa.
Temos o direito de errar e acertar,
mas precisamos de liberdade".
“Para os militares todo mundo era terro-
rista, inclusive fui petrificado como o doutri-
nador de estudantes”,
Jorge Cavlak
Cavlak e seu acervo com
mais de mil livros
Num ponto de vista pessoal, Jor-
ge contabiliza que levaremos mais
de mil anos para termos condições
de formar revolucionários, pois não
é necessariamente um rebelde que
põe fogo ali e quebra a vidraça. É
preciso esculhambar qualquer valor
que exista.
Já numa perspectiva municipal,
Cavlak sentiu na pele o poder da cen-
sura militar. Aos 24 anos orientava os
estudantes que buscavam ajuda para
os trabalhos escolares, pois na época
a bibliografia era escassa. Como ti-
nha muito conhecimento através dos
livros que lia, colaborava com quem o
procurava, mas sempre seguindo sua
linha de raciocínio, diferente daquela
aplicada nas escolas.
De acordo com ele, os profes-
sores ficavam assustados quando
algum aluno chegava falando mal
dos Estados Unidos e logo pergun-
tavam quem havia ensinado aquilo.
Não demorou muito para que tivesse
um mandato de prisão emitido pela
circunscrição da polícia de Lins,
acusando-o pelo crime de pensamen-
to. "Veio um mandato de prisão, mas
meu pai era entusiasta da Maçonaria
e haviam alguns militares maçons.
Eles conseguiram anular para que
não fosse preso. Generalizavam
muito. Para os militares todo mundo
era terrorista, inclusive fui petrificado
como o doutrinador de estudantes".
Cavlak sempre escreveu e se
diz um "observador da sociedade
capitalista". Na época foi orientado
por um conhecido a esconder seus
manuscritos. Este homem, oficial
de justiça naquele tempo, tinha sido
preso por hastear a bandeira a meio
palmo quando houve o golpe militar.
Depois que saiu da prisão, falou para
Jorge que se pegassem o que es-
crevia, estaria ferrado e dificilmente
sairia ileso. Desta maneira, parte de
seu acervo foi encaminhado para a ci-
dade de Pacaembu, e a outra metade,
ocultada no assoalho de uma igreja.
Jorge relembra que outro cida-
dão luceliense recebeu o mesmo
mandato e foi preso, porém não
existia tanta implicância sobre ele,
pois não estava na mesma faixa
intelectual. "Os militares pegavam
qualquer cidadão e diziam que eram
subversivos. Eles usavam a expres-
são subversão que era se submeter
ao que estava ali para trazer um
valor novo. A guerrilha não existiu.
Houve o Lamarca, o Marighella e
fizeram errado.
Para finalizar, falamos sobre a
Comissão Nacional da Verdade e
perguntamos a opinião dele sobre
o assunto: "A Comissão da Verdade
vai fazer algumas restaurações par-
ciais, mas não é necessariamente só
os que morreram fisicamente. É um
capítulo doloroso. Qual o crime em
impedir um poema, o meio de boas
ideias que possam servir de estru-
tura para essa geração que está
chegando? Nós vamos deixar uma
herança mais que maldita porque
estamos deixando um país acéfalo
e desmoralizado".