REVISTA VOX - 7ª Edição

(VOX) #1

om a morte de
Adolf Hitler em
1945, vários na-
zistas fugiram da
Alemanha com
medo de serem
capturados pelos russos e ameri-
canos que dominavam o país. Neste
contexto do pós-guerra, a rota de
fuga de muitos desses fugitivos era
a América do Sul. No entanto, antes
mesmo do fim da Segunda Guerra,
havia simpatizantes do nazismo no
Brasil, sobretudo na Alta Paulista.
Com o fim da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), alemães e rus-
sos já vinham de seus respectivos
países para morarem no interior do
Estado de São Paulo. Movidos pelo
sonho de uma vida de trabalho na
lavoura, famílias abandonaram o cli-
ma frio da Europa nos anos 20 para
conhecer o calor tropical brasileiro
em diversas cidades da região.
Naquele período, cerca de 50
famílias alemãs começaram a cons-
truir suas vidas na zona rural, espe-
cificamente no Rio Feio, próximo
ao Salto Botelho em Lucélia. Com
o decorrer dos anos, a comunidade
criou raízes no local e o território
que antes era conhecido como Co-
lônia Nova Pátria, por um decreto do
governo de Getúlio Vargas passou
a ser chamada de Colônia Paulista.
O território era dividido em
lotes e cada espaço era pouco
superior a 21 alqueires, sendo que
cada alqueire correspondia a 2,42
hectares. Antes de chegarem ao
Brasil, ainda na Alemanha, as fa-
mílias compravam essas terras. Já
em território paulista, os registros
de nascimentos eram feitos nas
cidades de Araçatuba e Valparaíso.
Os imigrantes que viveram na-
quela comunidade a partir dos anos
20 tentaram preservar os hábitos
culturais de seu país de origem. No
decorrer de uma década, entre 1923
e 1933, além de lutarem para esta-
belecer um vínculo entre a língua
alemã e portuguesa, os imigrantes
criaram dentro da Colônia um forte
sentimento nacionalista, reforçado
com a ascensão do regime nazista.
Nos anos 30, enquanto Hitler
dominava a Alemanha com um
forte aparato de propaganda ide-


ológica, os alemães que viviam na
Colônia Paulista consideravam sua
pátria como uma entidade sagrada,
fortalecendo as bases de identidade
germânica em terras estrangeiras.
Motivados pelo apelo militar do
governo nazista, o fluxo de imigran-
tes alemães que moravam em terras
paulistas e viajavam para a Alema-
nha foi intensificado a partir do final
de 1930, através do engajamento
alemão na Segunda Guerra Mundial.
Com o retorno para a Europa de
famílias que viviam na Colônia Pau-
lista, ocorreu também uma migração
de famílias que viviam na zona rural
para a cidade. Assim, a comunidade
germânica que vivia próxima à Lu-
célia aos poucos foi se extinguindo
do mapa regional.
A maior parte das pessoas que
viveram durante aquele período na
Colônia Paulista morreu. O que resta
dessa passagem histórica são ape-
nas os depoimentos de descentes
dos alemães.
Hoje, no local, restam apenas
fragmentos de um cemitério deterio-
rado pela ação do tempo, bem como
pelo avanço da lavoura de cana de
açúcar na região.
“O caso da colônia alemã de
Lucélia é sintomático. O que restou
de seu cemitério está sendo toma-

do pelo agronegócio e não se tem
notícia do que aconteceu com a
documentação da colônia”, afirma
Bruno Soares, professor universitá-
rio e mestre em História pela Unesp
de Assis.

Bernardes, Venceslau e Assis
Os movimentos nacionalistas
alemães, de forte tendência ao
nazismo não surgiram somente em
Lucélia e cidades da região. Diversas

Com o fim da


Primeira Guerra


Mundial (1914 - 1918),


alemães e russos


vieram de seus


respectivos países


para morar no interior


paulista, e cerca de 50


famílias se instalaram


em Lucélia.


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