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A14 QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Esportes
Ciro Campos
O Campeonato Paulista será
retomado com uma série de
cuidados para os jogadores e
muito provavelmente sem a
presença de torcida nos está-
dios. Em entrevista ao Estado ,
o diretor médico da Federação
Paulista de Futebol (FPF),
Moisés Cohen, não estipula
prazos para a volta do futebol,
mas revelou que a entidade vai
divulgar em breve um protoco-
lo de cuidados para os clubes
retornarem ao trabalho após o
período mais crítico da pande-
mia do novo coronavírus.
lQuais serão os cuidados neces-
sários para os times voltarem
aos treinos?
Estamos fazendo um protoco-
lo de orientação da FPF para a
volta do campeonato. Este é o
objetivo. A única coisa que não
sabemos é quando será esse re-
torno. Essa é a pergunta princi-
pal. Nós elaboramos alguns cui-
dados que vão desde a avalia-
ção e os testes que deverão ser
feitos antes de os jogadores se
reapresentarem. Depois have-
ria uma nova bateria de testes
durante essa fase e 15 dias de-
pois um último teste.lEm termos de treinamento, o
que os clubes poderão fazer com
os jogadores?
Nossa orientação será para fa-
zer um trabalho primeiramen-
te individual, depois num gru-
po e, na sequência, coletivo. Tu-
do isso demandaria de 15 a 20
dias. Do momento em que eles
retornarem, não teria campeo-
nato dentro desses 15 a 20 dias.
Temos de orientar tambémquem trabalha no clube, de co-
missão técnica até o pessoal da
manutenção. A orientação é
que todos voltem com o núme-
ro mínimo de funcionários e se-
guindo todos os cuidados dos
órgãos governamentais: uso de
máscaras, luvas para quem for
utilizar alimentos...lOs jogadores teriam de usar
máscaras?
É uma coisa para se discutir.
No meu plano original, você te-
ria de isolar as pessoas por 15
dias no mesmo lugar, como se
fosse um regime de concentra-
ção utilizado para a Copa, e
cercado de cuidados de limpe-
za. Mas aí obviamente cada
um tem a sua realidade. Tem
clube que não tem como abri-
gar os atletas no centro de trei-
namento ou os funcionários
da cozinha não teriam como fi-
car confinados. Um plano alter-
nativo seria o atleta vir, usar
máscara e ser muito bem orien-
tado no sentido de voltar para
casa e continuar com os mes-
mos cuidados para não ser um
transmissor. A FPF não pode-
ria se responsabilizar por isso.
Nosso protocolo seria um guia
de orientação. Mas não tem co-
mo vigiar se o atleta está se-guindo, se é obediente, se não
foi à noite em alguma festa
com muita gente. Não tem co-
mo controlar. Isso fica como
responsabilidade do atleta.lQuem realizaria os testes?
Esta é outra questão. Quem pa-
ga a conta? Esses testes não es-
tão fáceis, porque demanda é
alta e o preço foi lá para cima.
Mas isso vai regularizar. Obvia-
mente que os importadores es-
tão trazendo isso de outros paí-
ses. A outra parte é saber
quem paga. Por enquanto nãofoi discutido se será o atleta, o
clube, a FPF ou a CBF. Mas as
condições mínimas, vamos co-
locar para os clubes seguir. Se
nenhum clube fizer, fica com-
plicado. O campeonato fica
comprometido. Em uma parti-
da, o jogador poderá contami-
nar o companheiro do outro ti-
me. São muitas variáveis.lE quais os cuidados com os
árbitros?
Vale a mesma coisa. É até me-
nos difícil. O importante é pas-
sar a mensagem que estamoscom o radar ligado, que quan-
do for o momento de voltar já
estaremos preparados.lOs jogos serão com os portões
fechados mesmo?
Em um primeiro momento,
com todos esses cuidados sen-
do tomados, será com portões
fechados, sem sombra de dúvi-
das. Isso vale até segunda or-
dem. As informações de que
tratamos são muito variáveis.
O que é verdade hoje pode não
ser a verdade daqui uma sema-
na. Tudo muda muito rápido.O São Caetano encaminhou um
ofício para a Federação Paulista
de Futebol no final da manhã de
ontem em que solicita sua desis-
tência da Série D do Campeona-
to Brasileiro por causa da pande-
mia do novo coronavírus.
O campeonato teria início
em maio, mas foi adiado. Em no-
ta oficial, o clube do ABC, que
tem como diretor de futebol o
executivo Paulo Pelaipe, lamen-
tou a circunstância que levou à
decisão e explicou que as incer-
tezas que envolvem o futebol
brasileiro e o calendário foram
responsáveis pela desistência.
“Esta foi uma medida bastan-
te pensada e extrema, que infe-
lizmente precisou ser tomada
em decorrência dos problemas
e de todas as incertezas que en-
volvem o futebol brasileiro e o
seu calendário de competi-
ções”, informa o documento.O São Caetano ainda afirmou
que prefere “honrar compro-
missos” e “preservar a saúde fi-
nanceira do clube” em vez de
dar prosseguimento a futuras
dívidas oriundas da paralisação
do futebol. “Queremos, desta
forma, preservar a saúde finan-
ceira do clube em um momento
de grande dificuldade para hon-
rar compromissos já estabeleci-
dos com jogadores, comissão
técnica e todo o quadro de fun-
cionários”, concluiu.
A equipe do ABC paulista inte-
gra a quarta divisão do Campeo-
nato Nacional. O São Caetano,
no entanto, já esteve entre os
grandes clubes do Brasil. Em
2000 e 2001, por exemplo, ter-
minou o Brasileiro da Série A na
segunda colocação. No ano se-
guinte, chegou a final da Copa
Libertadores. Na ocasião, o São
Caetano foi derrotado pelo
Olímpia, do Paraguai, que vivia
o ano de seu centenário.Alemanha marca reinício
do futebol para 9 de maio
Robson Morelli
Jogador de futebol que não se
sentir seguro para voltar ao tra-
balho no Brasil pode se recusar
a treinar e a entrar em campo. A
CBF e as federações estaduais,
juntamente com as TVs e os clu-
bes, discutem há duas semanas
a possibilidade da retomada do
futebol. De acordo com o enten-
dimento de advogados traba-
lhistas com foco em atividades
esportivas, no entanto, um atle-
ta pode se valer do “direito de
resistência ao trabalho” para
não se expor ou correr risco de
morte enquanto não se sentir à
vontade em relação a proble-
mas ambientais e naturais, co-
mo uma pandemia.
O assunto torna-se polêmico
porque o País vive a situação
trágica e assustadora da covid-- “O jogador não tem de traba-
lhar quando sua vida corre risco
ou é ameaçada. Ele é como qual-
quer outro trabalhador cujo
contrato é regido pela CLT.
Tem o direito de se recusar a
entrar em campo”, explica o ad-
vogado trabalhista Higor Maf-
fei Bellini, especialista em direi-
to esportivo.
Ele defende o caminho da
transparência na relação entre
atleta e clube para solucionar es-
se problema. “O jogador tem de
falar isso para o seu clube, para
o patrão. Tem de dizer que não
se sente seguro de voltar ao tra-
balho. Ele não é pago para se ex-
por a riscos desnecessários. Ma-
chucar-se durante uma partida,
faz parte. Pegar uma doença
sem cura ainda, não.”
Segundo Bellini, esse direito
do esportista está na Constitui-
ção, não de forma clara, mas
com boas brechas para o seu en-
tendimento. O especialista faz
comparações com outras profis-
sões. Para ele, um motorista de
ônibus pode se recusar a fazer o
seu trabalho se entender que
corre risco ao dirigir um veículo
cujos pneus estão “carecas”. Da
mesma forma é o jogador de fu-
tebol. “Ele pode não querer sair
de casa durante esse período de
isolamento social.” O advoga-do, que cuida da carreira de 27
jogadores de seleção brasileira
e de clubes como Corinthians e
São Paulo, lembra outro aspec-to. “Isso sem falar do aspecto
psicológico do profissional,
que pode sofrer abalos diante
de todo esse cenário, de perdasde pessoas próximas, da família
ou de amigos.”
O advogado do Sindicato dos
Atletas Profissional do Estado
de São Paulo, Guilherme Marto-
relli, defende que o jogador está
sujeito às leis trabalhistas como
qualquer outro. Por isso enten-
de que o atleta não está total-
mente seguro. “Como seu con-
trato é regido pela CLT, ele se
submete às normas vigentes. Se
faltar ao trabalho, é advertido,
depois suspenso e até demitido
sem justa causa. Ocorre que, se
isso acontecer, a briga será nos
tribunais para saber se o clube
agiu de maneira correta dentro
desse cenário atual.”
CBF, federações e clubes ne-
gociam para retomar o futebol
na segunda quinzena de maio.
Para isso, além de autorização
dos Estados e até do governo
federal, se for o caso, terão de se
reunir com os atletas e conven-
cê-los a trabalhar.TABELAFRANKFURTOs dirigentes alemães plane-
jam o retorno da disputa dos
campeonatos da primeira e da
segunda divisão com 300 pes-
soas em cada jogo, sem a presen-
ça de público, a partir de 9 de
maio. A proposta será apresen-
tada hoje em uma assembleia
virtual da Liga Alemã de Fute-
bol (DFL, na sigla em alemão),
com a participação de represen-
tantes das 36 equipes.
Elaborado por uma comissão
médica da Federação Alemã de
Futebol (DFB), o documento
contém regras de higiene, prevê
a realização de testes e propõe
supervisão permanente dos
atletas. Também é apresentadoum planejamento para os trei-
namentos, em pequenos gru-
pos e respeitando regras de dis-
tanciamento entre os jogado-
res. Todas as atividades deve-
rão ser feitas com os portões fe-
chados e cada jogador seria exa-
minado antes de cada prática.
Nos últimos dias, vários clu-bes alemães retomaram a roti-
na de treinos, ainda que em ati-
vidades bem diferentes das que
eram realizadas antes da pande-
mia do coronavírus. A priorida-
de das equipes é fazer trabalhos
que não exponham os jogado-
res a contatos muito próximos.
Os trabalhos costumam ser
realizados em quartetos e com
o vestiário fechado, além de ha-
ver conversas contínuas com
médicos. Mas a retomada dos
jogos ainda parece distante – o
Campeonato Alemão está sus-
penso desde 13 de março –, ain-
da que o país tenha uma das ta-
xas de mortalidade mais baixas
do mundo pela covid-19.
Antes da paralisação, o Ba-
yern de Munique (atual hepta-
campeão nacional) estava na li-
derança do campeonato, com
55 pontos, quatro a mais que o
Borussia Dortmund, após 25 ro-
dadas realizadas. Restam nove
rodadas para o fim da disputa.ENTREVISTA
COM TITE E NEYMAR, CBF
ARRECADA R$ 5 MILHÕESSão Caetano desiste de
disputar a Série D
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Dirigente afirma ser
impossível estabelecer
prazos para times
voltarem e prevê partidas
com portões fechados
SEGURANÇADIRETOR MÉDICO DA FPF‘Todos os clubes de-
vem voltar com nú-
mero mínimo de fun-
cionários e seguindo
todos os cuidados’‘Jogador pode se recusar a trabalhar’, dizem advogados
]Com arrecadação inicial de R$ 5
milhões, a CBF anunciou a campanha
“Movimento Seleção Solidária”, moti-
vada pela crise econômica, sanitáriae social causada pela pandemia do
novo coronavírus. A iniciativa já envol-
ve 41 jogadores que passaram pela
seleção, além do técnico Tite, mem-
bros da comissão técnica, do presi-
dente Rogério Caboclo e da própria
CBF, que doou a maior parte.Orientação. Moisés Cohen acredita que primeiros treinos teriam duração de 15 a 20 diasFinanças. Paulo Pelaipe,
diretor do São CaetanoMoisés Cohen, diretor médico da Federação Paulista de Futebol (FPF)
‘Os clubes deveriam
manter os atletas
isolados por 15 dias’
ALEXANDRE VIDALMoisés CohenCESAR GRECO / AG. PALMEIRASDireito. Atletas não precisam correr riscos desnecessáriosEspecialistas alertam
que se o atleta não sentir
segurança para treinar e
jogar nessa situação de
pandemia, pode dizer não
55 pontos
tem o Bayern de Munique,
líder do torneio. O time está
4 pontos na frente do Borussia
Dortmund, a 9 rodadas do fimALEXANDRE VIDAL / FLAMENGO–30/4/Canal Unico PDF - Acesse: t.me/jornaiserevistas