O Estado de São Paulo (2020-04-23)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUINTA-FEIRA, 23 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Acostumado a velejar por me-
ses em completa solidão, o na-
vegador, escritor e empresá-
rio Amyr Klink compara a sen-
sação com o isolamento en-
frentado por todos durante a
pandemia do novo coronaví-
rus. “Eu tenho histórico de ex-
periências de confinamento”,
conta ele. Klink, entretanto,


diz que a situação atual é mui-
tas vezes pior que uma tor-
menta em alto-mar. “Estamos
em uma calmaria que pode ser
fatal, nós estamos à deriva”,
diz o navegador a Emanuel
Bonfim na última edição do
podcast “Na Quarentena”.

http://www.estadao.com.br/e/klink

N


a terça-feira o ministro
Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal
Federal (STF), autorizou a
abertura de inquérito para in-
vestigar as manifestações pró-
ditadura militar realizadas no
domingo. É preciso investigar.
É preciso investigar o hor-
ror. Domingo foi um dia de
horror. Usando a Bandeira Na-
cional como capa de Zorro
por cima de trajes que imitam
fardas militares de camufla-
gem, os circunstantes exigi-
ram medidas exótico-totalitá-
rias, como o fechamento do
Congresso e do próprio STF.
Contra o horror, o pedido de
investigação foi protocolado
na segunda-feira, dia 20, pelo
procurador-geral da Repúbli-
ca, Augusto Aras, que cumpriu
seu dever funcional. O Brasil
precisa identificar a indústria
que está por trás desse pesade-
lo que vai virando realidade.
Todos sabemos que o presi-
dente da República é a cereja
podre do bolo infecto. Vestin-
do uma camisa vermelho-cha-
vista, ele compareceu ao ato
em Brasília e discursou diante
de faixas que pediam “inter-
venção militar já”. Ao estrelar
a matinê lúgubre, o governan-
te antigoverno segue sua tour-
nê como animador de auditó-
rios macabros e de macabros
de auditório.
Não obstante, o próprio Bol-
sonaro não figura como alvo
do inquérito. Isso significa
que, ao menos por agora, não
será oficialmente reconheci-
do o que já é ululantemente
público: que o chefe de Esta-
do patrocina, com seus gar-
ganteios perdigotários, a his-
teria golpista da extrema direi-
ta brasileira. Deixemos isso
de lado – por enquanto. Não
há de ser nada.
O que mais conta, neste mo-
mento, não é investigar o ób-
vio comprometimento presi-
dencial, mas descobrir quem
atua, e como, no backstage das
vivandeiras machistas. O deci-
sivo, agora, é saber com que di-
nheiro, por meio de que engre-
nagens de comunicação e com
que logística esse movimento
se tornou uma empresa bem

administrada. Quem financia
esse circo que, enquanto bate
palmas para aquele tal que
deu de declarar “eu sou, real-
mente, a Constituição”, traba-
lha para implodir a Constitui-
ção federal? Quem gerencia a
estratégia? Onde estão os cére-
bros por detrás dos descere-
brados? Estão fora do Brasil?
Se não quiser virar geleia, a
República precisa decifrar o
enigma. Para piorar as coisas,
pouca gente ajuda. O presiden-
te da República e as milícias,
num coro afinadíssimo, sabo-
tam as políticas sanitárias,
chantageando o povo pela rea-
bertura de seus comércios, e
ninguém faz nada. As oposi-
ções entraram em quarentena
moral. É inacreditável. A passi-
vidade e a desarticulação das
oposições estarrecem. É nesse
deserto desolador que a inicia-
tiva de Augusto Aras desponta

como o único gesto sério con-
tra o golpismo que bate bum-
bo. Viva Augusto Aras. Fora
ele, só o que temos para pro-
testar contra o anacrônico fas-
cismo vintage são as frases bal-
buciadas do neoestadista Ro-
drigo Maia e – ah, sim – a deci-
são tomada pelo ministro Ale-
xandre de Moraes.
Os três pelo menos agiram.
Perceberam que não adianta
pedir “paciência histórica” e
esperar que as instituições to-
mem as providências. Ora, as
instituições são vertebradas
por pessoas e, se essas pes-
soas não agirem com cora-
gem, não haverá como barrar
o arbítrio. As pessoas que ver-
tebram as instituições têm de
se mexer e, para isso, preci-
sam do clamor organizado das
oposições. Ou é isso, ou os fas-
cistinhas de WhatsApp vão le-
var a melhor.
Os fascistinhas de What-
sApp só não levarão a melhor
se os crimes sobre os quais se
apoiam forem desmascara-
dos. É aí que entram as fake

news. Se quisermos de fato
desvendar a máquina do gol-
pismo, teremos de entender o
nexo entre a indústria clandes-
tina das fake news e o bolsona-
rismo. Não basta seguir o di-
nheiro. É preciso seguir as
fake news.
Em sua decisão, Alexandre
de Moraes apontou o rumo.
Determinou que se apurem a
“existência de organizações e
esquemas de financiamento
de manifestações contra a de-
mocracia e a divulgação em
massa de mensagens atentató-
rias ao regime republicano,
bem como as suas formas de
gerenciamento, liderança, or-
ganização e propagação que vi-
sam lesar ou expor a perigo de
lesão os direitos fundamen-
tais, a independência dos Po-
deres instituídos e ao estado
democrático de direito, trazen-
do como consequência o ne-
fasto manto do arbítrio e da di-
tadura”. Nada mais justo.
Agora, finalmente, as fake
news entraram na mira certa.
Elas são produto de uma in-
dústria organizada, profissio-
nalizada, tecnologicamente
bem equipada, que opera por
meio de negócios ilícitos e de
relações de trabalho clandesti-
nas. Essa indústria, que é cri-
minosa na forma e no conteú-
do – como são, não por acaso,
as próprias fake news –, turbi-
na a propaganda de ódio e pro-
move a fúria inconstitucional,
antidemocrática e antirrepu-
blicana. Essa indústria politi-
za o debate sobre medicamen-
tos, bombardeia a credibilida-
de da imprensa, calunia as ins-
tituições, desacredita a ciên-
cia, enxovalha a universidade,
demoniza a arte e fomenta o
fanatismo. Ela convence os
malucos – alguns dos quais
em altos cargos públicos – de
que incêndios na Amazônia
não existem e de que o vírus é
fabricado em aulas de marxis-
mo cultural. Essa indústria mi-
lionária é o motor do bolsona-
rismo. Ou ela vem à luz, ou a
treva cobrirá o resto.

]
JORNALISTA, É PROFESSOR
DA ECA-USP

Vídeo com policial cantan-
do em ruas vazias foi feito
para aplacar a tristeza.

http://www.estadao.com.br/e/tenor

PODCAST ‘NA QUARENTENA’


‘Estamos à deriva’, diz Amyr Klink


As negociações, segundo
comunicado do banco esta-
tal, foram realizadas para
quitar uma dívida do clube
com a empresa.

http://www.estadao.com.br/e/cska

l“Há vários estudos que concluíram o contrário. Tem eficiência em mui-
tos casos dependendo da fase em que foi usada.”
SILVIO VERA

l“Que pena! Mas vamos na esperança de encontrar um tratamento
eficaz até descobrirem uma vacina.”
DANIELA LIMA OLIVEIRA

l“Todos os vírus são mutantes e podem ter variações. Pode ser que
lá não sirva, mas aqui pode ter alguma eficácia.”
FLÁVIO BARBOSA

l“Primeiro estudo. Temos que aguardar os outros que estão em fase
final para chegar a uma conclusão mais real.”
ALEX PEREIRA

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

O Midtjylland, da Dinamar-
ca, instalou telões no esta-
cionamento de seu estádio
para que seus torcedores
acompanhem partidas.

http://www.estadao.com.br/e/dinamarca

Espaço Aberto


Q


uem estava atribuin-
do a última das crises
governamentais ao es-
tilo do presidente da
República e ao conflito entre
Jair Bolsonaro e o ex-minis-
tro Luiz Henrique Mandetta
não perdeu por esperar além
de um par de dias. O presiden-
te já está desautorizando o mi-
nistro recém-empossado, Nel-
son Teich, e desafiando o
compromisso do novo minis-
tro com uma atitude cautelo-
sa e baseada em fatos compro-
vados, de revisão da política
de isolamento.
Os menos pessimistas espe-
ravam que, afastado o minis-
tro que seria um suposto desa-
feto, Bolsonaro deixaria a po-
lítica de combate à pandemia
em mãos da autoridade com-
petente, aliás, declaradamen-
te em “alinhamento comple-
to” com ele, e assumiria como
prioridade total a gestão da
crise sanitária, social e econô-
mica provocada pela pande-
mia. Mas sua conduta depois
da demissão de Mandetta pa-
rece ser não mais a de comba-
te à política identificada com
seu ex-ministro, mas a de insa-
tisfação com as instituições
da República.
No domingo Bolsonaro lide-
rou um comício em praça pú-
blica não para protestar contra
o isolamento, como vinha fa-
zendo, mas, como disse, a fim
de dar sua vida “para mudar o
destino do Brasil”. Em seu dis-
curso, em palanque improvisa-
do da caçamba de uma picape,
deu um passo a mais em sua
verdadeira campanha contra o
Congresso, o Supremo, os par-
tidos políticos e mesmo con-
tra a Constituição, não só com
palavras, mas também com
condutas pouco apropriadas
ao papel presidencial no Esta-
do Democrático de Direito.
Em poucas palavras, expres-
sou teses esdrúxulas sobre a
democracia, como o conceito
equivocado de que “todos es-
tão submissos à vontade do
povo”. Nas democracias, o po-
vo não submete nem é submis-
so à vontade de ninguém. Só
se submete à Constituição,
que garante a sua liberdade e


emana dele próprio, o povo.
O contexto do discurso, as
palavras de ordem implícitas
que não vêm de hoje – como o
fechamento do Congresso, do
Supremo Tribunal Federal e
dos partidos, e a substituição
da Constituição pelo famige-
rado AI-5 – são questões gra-
ves. Evidenciam que, para Bol-
sonaro e seus seguidores, as
autoridades legitimamente
eleitas devem submeter-se a
uma massa rebelada comanda-
da por ele, que se comprome-
te a fazer não tudo o que a
Constituição permite, mas
“tudo o que for necessário” –
linguagem da política associa-
da à da violência.
O povo brasileiro reconquis-
tou sua liberdade em 1985, pe-
lo voto popular, com imensas
manifestações políticas – a
campanha das Diretas-Já – e
uma negociação realista entre

praticamente todas as tendên-
cias da oposição, que escolhe-
ram Tancredo Neves e puse-
ram fim a um longo período
de regime autoritário. A Cons-
tituição de 1988, cuja legitimi-
dade veio do voto popular, es-
tabelece que a representação
do povo, que se expressa nas
urnas, e não em carreatas, é
prerrogativa compartilhada
pelo Legislativo e pelo Execu-
tivo. Qualquer medida de for-
ça contra o Congresso equiva-
leria a tentativa de golpe.
Talvez os inspiradores do
presidente – não por acaso do-
tados de escassa experiência
de vida pública, com pouco ou
nenhum conhecimento da ges-
tão de governo e nenhuma ca-
pacidade para avaliar tanto
obstáculos reais como a resi-
liência dos que tratam como
adversários – tenham elucubra-
do uma tática de provocar o
Parlamento, com o propósito
de induzi-lo a erro e justificar
um golpe de força contrário.
Mas o Congresso, cuja expe-
riência mediana de vida públi-

ca é considerável, incluindo fa-
miliaridade com a gestão de
governo, e muitas vezes déca-
das de habilidades para fazer e
receber concessões, não deve-
rá cair nessa arapuca. Ao con-
trário, poderá exercer os
freios e contrapesos que a
Constituição lhe outorga para
se contrapor a eventuais desli-
zes do presidente.
Talvez o primarismo das
táticas de alguns dos inspira-
dores da Presidência os condu-
za ao devaneio de um golpe
com apoio militar. Tratar-se-
ia de uma perfeita manifesta-
ção de alienação do que hoje
representam as Forças Arma-
das brasileiras, institucional-
mente comprometidas com o
Estado Democrático de Direi-
to e com suas responsabilida-
des de manutenção da ordem
interna e da defesa externa do
País. Elas dispõem de uma ofi-
cialidade altamente prepara-
da, disciplinada e hierarquiza-
da, que repelirá qualquer ten-
tativa contra a ordem demo-
crática, como – fique bem cla-
ro – seus dirigentes têm torna-
do público inúmeras vezes.
Caso tentasse agir fora dos
limites da lei e em desrespeito
à Constituição, o Poder Execu-
tivo seria contido pelas insti-
tuições. Para tanto os cida-
dãos brasileiros contam com
o Supremo Tribunal Federal,
um Poder que fala pela Consti-
tuição e se há de pautar pela
absoluta neutralidade partidá-
ria, ideológica e religiosa na
imposição da lei.
Uma certa perda de confian-
ça do Parlamento no presiden-
te vem se avolumando desde
sua eleição e a ela se soma um
começo de desgaste de sua po-
pularidade, uma vez que ele
criou expectativas altas sem
que as razões do descontenta-
mento popular com os servi-
ços públicos essenciais fossem
bem enfrentadas por seu go-
verno. Com popularidade rela-
tivamente menor e desconfian-
ça do Parlamento, Bolsonaro
terá de mudar, pois a democra-
cia brasileira ele não mudará.

]
SENADOR (PSDB-SP)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
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Entre as mais de 100 op-
ções, estão automóveis da
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A democracia


sob ataque


Se tentasse agir fora dos
limites da lei, o Poder
Executivo seria contido
pelas instituições

A indústria ilegal de ‘fake news’


por trás dos atos pró-ditadura


Motor do bolsonarismo,
ou essa indústria
vem à luz, ou a treva
cobrirá o resto

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


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Estudo aponta que


hidroxicloroquina é


ineficaz


Análise dos EUA de tratamento em
militares veteranos mostrou que
remédio não ajudou a curar a covid-

]
Eugênio Bucci

JAIME BORQUEZ/DIVULGAÇÃO TORCIDA

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ISOLAMENTO

Policial e tenor
finlandês faz sucesso

LUXO

Carros blindados têm
desconto de R$ 50 mil

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