Valor Econômico (2020-04-23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 12 da edição"23/04/2020 1a CAD B" ---- Impressapor CGBarbosaàs 22/04/2020@21:22: 17


B12|Quinta-feira, 23deabrilde 2020


Agronegócios


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


ComércioApenas os embarques de soja em grão deverão


aumentar36% neste mês e no próximo, segundoa Abiove


Exportação de granéis


agrícolas deve seguir


em forte alta até maio


RUYBARON/VALOR

AndréNassar, presidente-executivo daAbiove: indústriatemadotadomedidasdesegurançae apoiadooscaminhoneiros


FernandoLopese


FernandaPressinott


DeSãoPaulo


Impulsionadaspela soja, as ex-


portaçõesde granéisagrícolasdo


país continuamaquecidasneste


mêsdeabrileassimdeverãoconti-


nuaremmaio.EstimativadaAsso-


ciaçãoBrasileira das Indústrias de


ÓleosVegetais(Abiove)aponta


queosembarquesdesojaemgrão,


farelode soja, milhoe açúcarten-


dem asomar30,8 milhõesde to-


neladasnosdoismesesnosportos


de todosopaís, ante 24,6 milhões


em igualperíodo de 2019.De


acordocoma entidade,esse au-


mento, de 25%, terá reflexopositi-


vo de mesmaproporçãona quan-


tidadede fretesrodoviáriospara


otransportedasmercadorias.


A soja em grão, carro-chefe do


agronegócio nacional, éaloco-


motiva do avanço. Conforme a


Abiove, as exportações da oleagi-


nosa, que já atingiu 11,6 milhões


de toneladas no mês passado


(US$4bilhões), um recorde para


março, deverão alcançar25,5 mi-


lhões de toneladas em abril e


maio, 36,6% maisque no mesmo


bimestre de 2019. No casodofa-


relo, o incremento será menor—


poucosuperiora 3%, para3mi-


lhões de toneladas—, eno con-


junto (grão efarelo) a receita de-


verá subir27%,paraUS$ 9,8 bi-


lhões, levando-se emcontapreços


praticados no mercado em abril.


Segundo André Nassar, presi-


dente-executivo da Abiove,para


sojaemgrão aestimativa está em


linhacom o grande volume de


vendasantecipadasecomumade-


manda externa ainda aquecida,


sobretudodaChina.Nocasodofa-


relotambémpesamproblemaslo-


gísticos enfrentadospela Argenti-


na, um dos mais importantes


players globais na área,devido a


restrições relacionadas ao comba-


te ao novo coronavírus. Algumas


dessesproblemas, realçou,asin-


dústriasinstaladasnoBrasilconse-


guiramresolver, daí o fluxo tam-


bémnãotersidoprejudicado.


“Conseguimos adotaralgumas


medidas importantesde higiene


edistanciamento dosfuncioná-


rios em suas atividades. Também


estamoscolaborandocom os ca-


minhoneiros —principalmente


no que se refere à alimentos, com


a distribuição de lanches. Agora


estamoscorrendoparaproviden-


ciar máscaras, comoalguns mu-


nicípios estãoexigindo”, afirmou


Nassar aoValor.Outro ponto im-


portante é que,no mercado de


soja, as exportações brasileiras


não estão enfrentando barreiras


aseusprodutosemoutrospaíses.


Nesse contexto, oexecutivo


lembrou que,segundo pesquisa


realizada pela plataforma de


transportes FreteBras,ademanda


total por fretes rodoviários para


granéis comdestinos aosportos


recuou 25% em marçoeabril, mas


que, considerada apenasas cargas


agrícolas, a retração foi de apenas


1,4%.Isso porque apesquisanão


inclui os portos do chamadoArco


Norte,onde oescoamento está em


fortealtaem virtude da conclusão


doasfaltamentodoBR-163.


Ampliar as exportações poderá


ser uma saída também para oóleo


de soja, que tem metade da sua pro-


dução no Brasil destinada à fabrica-


ção de biodiesel, cujademanda in-


ternaestá em queda. “O próprio au-


mento das exportaçõesde soja em


grão e farelopoderá amenizar parte


dessa retração dasvendasdebiodie-


sel no Brasil, mas exportartambém


podeserumasaída”, disseNassar.


Ele observou que, no último lei-


lão de biodiesel realizado pelogo-


verno, ovolumenegociadofoi de


cerca de 1 bilhão de litros, a serem


comercializados entre maioe ju-


nho, 200 mil litros a menos que no


leilão anterior. E que a queda po-


derá ser maior, umavez queficou


definidoquepoderáhaverumcor-


te de 20% casoademanda não


absorvaovolumecontratado.


Aliançacom23 paísespedefim debarreiras


AssisMoreira


DeGenebra


Umaaliança entre23 importan-


tes países exportadorese importa-


dores agrícolas se comprometeu


ontem,em Genebra,amanter o


bomfuncionamentodo mercado


globaledas cadeias de alimentos


em resposta àcrise de covid-19. A


aliançarepresenta 63% dos expor-


tadores agrícolas,casosdeBrasil,


Austráliae EstadosUnidos,e 55%


dos importadores, entreos quais


União Europeia, Japãoe Suíça.


Em nota distribuída a outros


membros da OMC,essespaíses des-


tacamque apandemia exigeuma


resposta global coordenada, reco-


nhecemque o foco imediato deve


ser assegurar a saúdeeasegurança


de seus cidadãosepregam, ao mes-


mo tempo, que é preciso preparar o


terreno paratornarviável uma forte


retomadadaatividadeeconômica.


Aavaliaçãoé que os mercados


globais de commodities estãobem


preparadaspararesponderàcrise.O


Sistemade Informação do Mercado


Agrícola(AMIS), da FAO,aagência


daONUparaagriculturaealimenta-


ção,constataque os mercadosglo-


baisdealimentoscontinuamequili-


brados eque os estoques de cereais


deverão atingir seu terceiro maior


nívelhistóriconesteano,alémdeser


maisdoqueadequadaadisponibili-


dadede exportação de milho, arroz


esojaederivados(fareloeóleo).


No entanto, os participantes da


aliança lembramque vários países


estão reavaliandosuas próprias


respostas sobresegurança alimen-


tar na esteira da covid-19, eque al-


gunsestão impondo restrições à


exportação. Segundo o grupo, isso


cria um ambiente comercial im-


previsível que pode afetaradispo-


nibilidade de alimentos e resultar


em picos de preços,maior volatili-


dade nas cotações e mesmoem es-


cassezdeprodutosimportantes.


Para a aliança, aadoção de res-


trições às exportaçõespode pro-


vocar umacrise de insegurança


alimentar generalizada por causa


da disrupção das cadeias de supri-


mentoglobais. Os países também


advertiram que éimportante evi-


tar perdas de alimentos eestragos


causados por problemas de logís-


tica —oque,por suavez, pode


exacerbar riscos de segurança ali-


mentareperdaseconômicas.


Os países da aliançasecom-


prometem a manter os mercados


abertos e conectados.Também


destacaram a importânciadein-


formaçõescorretassobreagricul-


tura comovolumede produção,


consumo e estoque,assimcomo


preços, parareduzirincertezas e


permitir agovernos, tradings,


consumidores eprodutores to-


mardecisõesbeminformados.


Operaçõesde barterdriblamincertezas e avançam no campo


Comercialização


MarinaSallese


Rafael Walendorff


DeSãoPaulo


Apesar das turbulências gera-


das pela pandemia de coronaví-


rus, que colocou no radar de es-


pecialistas riscos àoferta privada


decréditoparaqueosprodutores


rurais no Brasil financiem suas


safras, os recursosaté agora con-


tinuam fluindo e as operações de


barter (troca de insumos pela co-


lheita futura)seguem particular-


mente aquecidas, inclusive com


aantecipaçãodenegócios.


Ainda assim, fontescomoo


consultor José Carlos Vaz, ex-se-


cretário de Política Agrícola do


Ministério da Agricultura,e o ex-


ministro Blairo Maggi, presidente


do conselho da processadorade


grãosetrading Amaggi, amaior


de capital nacional no segmento,


têmdúvidassobreacontinuidade


dessecenário.Isso por causadas


CédulasdeProdutoRural(CPR).


Instrumento comumnas opera-


ções de financiamento do agricul-


tor pelas tradings, aCPR ainda po-


de ser incluída nas recuperações


judiciais de produtores rurais pela


MP do Agro,oque aumentouote-


mor do enxugamento de crédito.


Em coletiva comaministrada


Agriculturasobre oPlanoSafra,


Maggi afirmouque, diante da re-


solução,enxergava “o fluxo de re-


cursosminguando”ebancos, tra-


dings e fornecedores de insumos


comreceiodeemprestardinheiro.


No mercado, por enquanto, o


sentimento éoutro. RenatoGui-


marães, CEO da distribuidora


goianadeinsumosSinAgro, éum


dos que esperam que as opera-


ções de barter avancemainda


mais. Amodalidade já responde


por 60% das negociações da em-


presae,segundoele,opercentual


deveráaumentaresteano.Segun-


do ele, nas operações com soja a


procura tem sido maiorpelo bar-


ter em real, por contadopreço


atrativo da saca no mercado in-


terno, valorizado pelo câmbio,e


dacotaçãofuturadodólar.


“Obarteréumaótimaferramenta


de gerenciamento de riscoe prote-


ção, porquete permitefazerum


hedgenatural,umescamboe,assim,


cresce num momentocomo este”,


justificou. Em 2019,a SinAgroteve


um terçoda sua receita, de R$ 1,1 bi-


lhão, proveniente da originação de


grãos. Acapacidadeestática instala-


da de seus armazéns, que fazem2,5


girosaoano,éde270miltoneladas.


Em MatoGrosso,aindanão foi


possível sentir qualquer retração


dos agentes privados para financiar


os agricultores por meiodas CPRs,


segundo o superintendentedo Ins-


titutoMato-Grossense de Economia


Agropecuária (Imea), DanielLator-


raca. Pelo contrário, aalta do dólar


acelerou oritmo de comercializa-


ção da soja que serácolhida só em


2021 e atingiu patamarrecorde


30,23%da produção esperada.


Segundoele, as operações de


barter tambémestão rentáveise


tendem a aumentar nas próximas


semanas. Latorraca destacouque


esta é asafra “maisdesafiadora”


dos últimosanospara se planejar,


porque vai exigir muitashabilida-


de dos produtores para travar des-


pesasereceitasnamesmamoeda.


Para Carlos Branduliz, gerente de


operaçõesdebarterdaBayernoBra-


sil, o crescimentodas operações de


barter,que foi de 50% ao ano na em-


presanas últimas trêssafras,tendea


se manter,mesmocomapandemia,


por causado seu caráter protetivoe


graçasàsuapopularização.


A políticada Bayer, segundoele, é


de estímulo ao barter,com aoferta


de serviços associada àferramenta.


Umdeleséachancedeoprodutorse


beneficiardealtasdepreçodascom-


modities por prazos pré-determina-


dos.“Buscamosofereceraindaame-


lhor experiência comas tradings,


quesãonossasparceirasnessastran-


sações”,afirmouBranduliz.


NaSyngenta,LeandroSerau,dire-


tor financeiro da empresano Brasil,


que é controladapela ChemChina,


disse que o aumento das operações


debarterjáfoisentidoesteano,“jus-


tamente porqueassegurammaior


mitigação de riscoem ambientes


bastantevoláteis”. Em relação ao


cumprimentodecontratos,eledisse


que a perspectiva é boa. “Comexce-


ções pontuaisligadosa perdas de-


correntesde seca [que afetousobre-


tudoo Rio Grande do Sul], houve


grandeproduçãoemtodoopaís”.


Eduardo Monteiro, diretor de


distribuição da MosaicFertilizantes,


avaliou que, no caso da companhia,


asoperaçõesdebarterestãomais


aceleradas. Para opróximociclo de


verão em muitas regiões,segundo


ele, a maiorparte dos insumosjá


foi comercializadaehá produtores


que buscamfechar negócios, inclu-


sive, paraasafrinha de milho de


2020/21 eaté mesmo paraasafra


2021/22 de verão, em virtudedas


boasrelações de trocaatuais. “O


mercado de fertilizantes,em2020,


já rodou aproximadamente 50%”.


Entre seus parceiros (tradings, re-


vendas e cooperativas) e entrecon-


correntes,a Mosaicinformou não


ter tido notíciade renegociaçãode


contratosde barter,mesmo como


cenárioeconômicoconturbado.


Na cooperativa paranaenseCoca-


mar,asvendasdeinsumosviabarter


não representammaisdo que 10%


dos negócios eopercentual, segun-


do José Cícero Aderaldo,vice-presi-


dente da cooperativa, tende a se


mantereste ano. Segundoele,aes-


tratégia de gerenciamento de risco


recomendadaaos 15,5 mil coopera-


dosédevendasdegrãosemparcelas


aolongodoano,oqueminimizaris-


cosetemsemostradomaisrentável.


SILVIA ZAMBONI/VALOR

O ex-ministro Blairo Maggi,presidentedoconselhodaAmaggi, temequeempresastentemevitarnegócioscomCPRs


Pandemianãotira apetitedaSinAgro


DeSãoPaulo


ASinAgro, distribuidora de in-


sumos goiana,não tirouopédo


acelerador em 2020e, mesmoem


meioàpandemia,prometeinvestir


R$ 30 milhõesparaaabertura de


deznovaslojasnopaísatéjunho—


são17atualmente.Aempresatam-


bém deveráinaugurardois centros


climatizadosde sementesde soja


nos municípios mato-grossenses


dePrimaveradoLesteeÁguaBoa.


Comaexpansão das operações,


Renato Guimarães, CEO da SinAgro,


disseque arede passará a ter opera-


ções em 27 cidades esete Estados.A


expectativa é que o faturamento to-


tal alcanceR$ 1,6 bilhãoeste ano,


45,5%acima de um ano antes. Até


2019, aempresa atuava em Mato


Grosso, MatoGrossodo Sul, Goiáse


Bahia eainauguração das novas lo-


jas marcará sua entrada física


emMinasGerais,TocantinsePará.


Guimarãesconsideraque, mes-


mo durante a pandemia, omerca-


doestáaquecidoenãoénecessário


esperar para investir. Oanúncio da


aquisição do grupogoiano Tec


Agropela canadenseNutrien, há


umasemana,foicitadapeloexecu-


tivo comoprovadesse aquecimen-


to. “Grandes empresas e fundoses-


trangeiros já viramo potencialdo


mercado de distribuição de insu-


mosnoBrasil.Cabeanóscontinuar


investindoporaquitambém”.


Na visão de Guimarães, a forte


demandaglobal por alimentos, a


aptidão do Brasilpara a produção


agrícola,comatecnificação cada


vezmaiordasfazendas,eadesvalo-


rização do real ante odólar —que


favorece as exportaçõesde com-


moditiescomosoja,milho,canade


açúcar e café —dão sustentação


aoagronegócioemmeioàcrise.


A relaçãode troca favorável ao


produtor de grãos —sobretudo na


soja —para acomprade fertilizan-


tes éoutro fator que estimula o


mercadode insumos.Nosegmen-


to de defensivos, estoquesabaste-


cidosdãocertofôlegoàoperação.


Na área de sementes,o inves-


timentoda SinAgrodevepro-


porcionar ganhologístico e re-


duçãode custos.“Temos20 se-


menteirosque são nossosforne-


cedorese agoravamospoderre-


tiraro materialmais cedopara


organizara distribuição. Éum


alíviogrande,porquenumespa-


ço curtode 20 a30dias éque fa-


zemosas entregas”, disse.(MS)


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