Aero Magazine - Edição 311 (2020-04)

(Antfer) #1

MAGAZINE 311 | (^53)
portos, percebo uma nítida redu-
ção na quantidade de passageiros.
Ao trocar de aeronave com outra
tripulação, já é possível perceber a
tensão no ar. Não há mais abraços,
beijos e apertos de mão. Apenas
um aceno e a troca de informações
de praxe.
Alguns voos previstos para o
resto do mês são cancelados e, no
lugar da escala de voos, temos re-
servas e/ou sobreavisos. No jantar
com a tripulação, o assunto é um
só. Será que vai haver demissões?
Por quanto tempo devem durar
as restrições? Qual o verdadeiro
risco desse vírus? Não param de
chegar notícias, vídeos e ‘memes’
via celular.
Recebo o relato de um
amigo que está em Buenos Aires.
Segundo ele, ao chegar ao hotel,
os tripulantes foram instruídos a
permanecer em seus quartos até a
hora da apresentação para o voo
de retorno, proibidos de sair até
mesmo para fazer uma refeição.
Ao longo dos outros dias de voo, a
quantidade de passageiros se reduz
significativamente. Voos com 20
a 30 passageiros agora não eram
incomuns.
CONGONHAS DESERTO
No último dia, ao passar pela
base, um comissário pede para
ser substituído ao apresentar
alguns sintomas. Felizmente, dias
depois, ele me informou que seu
teste havia dado negativo para a
covid-19.
Tenho um dia de folga e
logo depois um voo bate e volta
para o Nordeste. Chegando ao
aeroporto, sou informado de que
haverá mudança de equipamento,
pois dois voos anteriores haviam
sido cancelados e os passageiros,
reacomodados nesta aeronave.
Ainda assim, não decolamos com
capacidade máxima.
No voo de retorno, ainda
menos passageiros. Alguns colegas
me informam que suas escalas
foram modificadas para levar ae-
ronaves para armazenamento em
outros aeroportos, com maior ca-
pacidade de pátio. Tinha três dias
de folga e depois deveria assumir
uma programação de quatro dias,
que foi cancelada.
Enfim, terminei o mês de
licença não remunerada. Moro
perto de Congonhas. É ao mesmo
tempo triste e assustador ver um
dos mais importantes aeroportos
do Brasil praticamente deser-
to. Depois de entrar em LNR fico
sabendo que dois amigos meus,
pilotos em duas empresas diferen-
tes, contraíram o vírus...”
Comandante de narrowbody em
uma empresa brasileira*
“Até o
carnaval, voos
lotados, como
de costume”

Free download pdf