Aero Magazine - Edição 311 (2020-04)

(Antfer) #1

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E


stamos vivendo
tempos extraordi-
nários. A realidade
surpreende até os
mais bem elaborados
planos de crise, os
fatos são sempre mais impressio-
nantes. Os efeitos da crise do novo
coronavírus na aviação brasileira
começaram a ganhar forma em
11 de março deste ano de 2020.
Naquele dia, o conselho delibera-
tivo da Associação Brasileira das
Empresas de Serviços Auxiliares
do Transporte Aéreo (Abesata)
havia se reunido e, com visão
prospectiva, de olho no exterior,
já tinha traçado planos estratégi-
cos para enfrentar o que viria a
se concretizar. Naquele encontro,
presencial, ao nos despedirmos,
nos abraçamos temerosamente,
como que se soubéssemos o que
seria o amanhã.
Na imprensa, surgiam as pri-
meiras notícias de cancelamentos
de voos internacionais. A Delta
anunciava medidas financeiras

para enfrentar o novo vírus, a La-
tam reduzia a malha internacional
em 30% e a Lufthansa cancelava
naquela semana vinte mil voos em
todo o mundo.
Em seguida, já por conta das
linhas traçadas dois dias antes, na
sexta-feira 13 de março, fizemos
uma reunião emergencial e pre-
sencial entre Abesata, o sindicato
das empresas (Sineata) e as entida-
des que representam os trabalha-
dores. Estávamos preocupados
e com o pé no chão. Já tínhamos
noção do que estava por vir. Sabí-
amos que o problema poderia ser
grande e, talvez, paralisar os voos
por um mês e meio – no máximo.
Naquele dia já não houve contato
físico nos cumprimentos.
O fim de semana passou e
o Brasil era outro na manhã de
16 de março, segunda-feira. Da
sexta para a segunda, a Ameri-
can Airlines havia cancelado os
voos para o Brasil e a Azul havia
adiado os voos para Nova York,
além de anunciar cortes em dez

bases nacionais. A situação era
crítica. Nos reunimos de novo –
representantes tanto das empresas
de serviços auxiliares como dos
trabalhadores – e, desta vez, fica-
mos mais distantes uns dos outros.
Estávamos assustados e muitíssi-
mo preocupados.
A preocupação era mais que
pertinente. No dia 18 de março, o
Chile havia fechado as fronteiras
aos estrangeiros, logo seguido pela
Argentina. Em pouco tempo, o
fechamento de fronteiras passou a
ser adotado dia a dia em inúmeros
países. Voos só para repatriação
de estrangeiros. Pátios de grandes
aeroportos mundo afora abarro-
tados com grandes aeronaves. O
caos estava instalado.

REMUNERAÇÃO POR VOO
Corremos para costurar um aditi-
vo à convenção coletiva de traba-
lho para tentar evitar demissões
em massa. Àquela altura, tudo era
feito virtualmente. O segmento
de serviços auxiliares é intensivo
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