Aero Magazine - Edição 311 (2020-04)

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Temos de preparar o day after.
O plano de retomada da ativi-
dade”, ouvimos de Miguel Dau,
diretor de Operações de GRU.
“Precisamos de um plano para a
manutenção da cadeia produtiva.
A atividade de transporte aéreo
tem margens muito pequenas e o
segmento de serviços em solo é
uma das partes mais frágeis desta
cadeia, sem caixa para sobreviver
e com despesas pesadas por causa
do grande contingente de mão de
obra. Se houver quebradeira destas
empresas, os aeroportos param”.
Os trabalhadores das esatas
estão na base da pirâmide salarial
do setor aéreo. Entidades como
a Associação das Concessioná-
rias Aeroportuárias (ANEAA), a
Infraero e sobretudo a Secretaria
Nacional de Aviação Civil do Mi-
nistério da Infraestrutura também
reconheceram isso. Mais gente
surgiu para nos socorrer, como a
equipe técnica do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social, o BNDES. Esse time foi
capaz de desenhar um modelo de
acordo especial, unindo as esatas
com a aviação regional ou de
pequeno porte, em uma solução
bifurcada e específica para fazer
com que as empresas de serviços
auxiliares recebessem recursos
carimbados para serem usados na
folha de pagamento. No cenário
de pandemia, só o dinheiro vindo
dos bancos públicos federais


  • BNDES e Caixa Econômica
    Federal – garantiram os compro-
    missos da maioria das empresas
    em solo frente ao contingente que
    estaria sendo dispensado, nas mais
    diversas modalidades, e teriam
    de sobreviver com seus familiares
    para, então, estarem prontos ao
    trabalho assim que a situação volte
    ao normal.


tempos de encontro de ideias,
de parcerias e de fortalecimento
nas relações, pessoais e institu-
cionais. Vimos a sensibilidade
dos aeroportos, das companhias
aéreas internacionais e, duramen-
te, amargamos a falta de paga-
mento dos serviços já prestados
às companhias aéreas domésticas.
Sem caixa para pagar seu pessoal
em 6 de abril, foi penoso ver que
nem os serviços prestados antes
da eclosão da pandemia estavam
sendo quitados. Enfim, depois de
as esatas “implorarem de joelhos”,
aos quarenta e cinco minutos do
segundo tempo, uma parcela da
dívida foi quitada e o estrago foi
grande, mas não enorme, como
temíamos.

AEROPORTOS
Mas o bom é que crises, como
tudo, são feitas de aspectos
negativos e positivos. Outra
grata surpresa, entre várias nestes
tempos turbulentos, foi a parceria
e o espírito colaborativo da GRU
Airport, que administra o maior
aeroporto da América do Sul,
o de Guarulhos. “Nunca vimos
nada assim e não temos fórmulas
mágicas. Mas há ferramentas que
podem nos ajudar, em especial o
plano nacional de mobilização.

AFASTAMENTO E MEDO
Com várias localidades sem aten-
dimento, muitos trabalhadores
tiveram de ser afastados, pois não
havia nada a ser feito por eles no
aeroporto. Era estarrecedor! Mas
aí surgiu, como sempre acontece
em grandes crises, o inesperado.
Pensamos que todos os trabalha-
dores iriam lutar para seguir na
ativa, para garantir o trabalho e
o sustento. Só que não foi isso o
que aconteceu.
Muitas pessoas estavam com
medo. Queriam ficar em casa com
os seus familiares. Queriam cuidar
de si e dos outros. Não queriam
contrair a covid-19: o que se ouvia
era que o “mal” entrava no Brasil
através das aeronaves. E não se po-
dia negar que o serviço essencial
exercido pelas empresas de ground
handling, tal qual ocorrido no pas-
sado quando de outras epidemias,
passou a ser de extremo risco.
E era natural o medo. Nossos
trabalhadores são os que cuidam
da desinfeção das aeronaves, da
limpeza e recepcionam os pas-
sageiros no embarque e desem-
barque, manipulam a carga aérea
e fazem a vigilância e segurança
contra atos de terrorismo. Estão
na linha de frente nos aeroportos.
Tempos de crise também são

Nossos
trabalhadores
atuam na linha
de frente nos
aeroportos e muitos
têm receio de
contrair a doença

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