Aero Magazine - Edição 311 (2020-04)

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VARIAÇÃO CAMBIAL
A reação das economias mundiais
frente às más notícias foi rápida e
irradiada para todo o mundo. Ne-
nhum país ficou imune. Algumas
aeronaves que entraram na inspe-
ção de pré-compra com o dólar
cotado a 4,34 reais finalizaram
esse procedimento com a moeda
americana chegando a 5,09 reais


  • alta de 17%, até então inimagi-
    nável em tão pouco tempo.
    Exemplificando, em uma aero-
    nave de seis milhões de dólares, o
    impacto na negociação final foi de
    quatro milhões e meio de reais em
    apenas um mês, enquanto se fazia
    a pré-compra. E o pior, sem pers-
    pectivas de melhoras. Ao contrário,
    no dia seguinte, a cotação do dólar
    chegou a bater a casa dos 5,25 reais.
    Ou seja, para os compradores que
    decidiram seguir com os negócios,
    ficou difícil concluir as transações
    nas mesmas bases iniciais.
    Em resumo, muitos negócios
    de compra e venda na aviação de
    negócios foram cancelados. Ou-


inclusive em aeronaves particulares.
O dólar mostrava um padrão
e tinha uma causa aceitável para
o patamar em que estava. Para o
mercado de aeronaves de negócios,
a estabilidade do dólar é a princi-
pal preocupação, muitas vezes em
detrimento do patamar em que a
moeda se encontra. Enfim, 2019
se estabeleceria como um ano de
recuperação e fundamental para a
retomada do crescimento da aviação
de negócios brasileira.

LUZ AMARELA
No início de 2020, o mercado
encontrou um pouco mais de turbu-
lência do que o esperado. Algumas
divergências políticas associadas
às primeiras informações sobre
a covid-19 lançaram ainda mais
pressão na cotação do dólar, mas
a inércia do ano anterior e as boas
perspectivas mantinham as buscas
por aeronaves de negócios no Brasil.
Eis que, em março, as luzes
amarelas do mercado se acende-
ram. Com a crescente escalada da
covid-19 e os potenciais danos à
economia mundial cada vez mais
claros, a busca por uma moeda
mais segura fez o dólar se valorizar
novamente perante o real em meio
a fortes quedas das bolsas mun-
do afora. Desta vez, as questões
políticas não eram mais o foco e,
sim, as incertezas sobre o impacto
financeiro em um futuro bem próxi-
mo com a pandemia decretada. As
perspectivas econômicas já não se
desenhavam de forma tão animado-
ra – para não dizer trágica.
Nesse cenário, a aviação de
negócios começou a sentir a inse-
gurança do mercado, uma vez que,
embora seja uma das ferramentas
de desenvolvimento indispensáveis
para qualquer empresa que deseja
garantir posicionamento no merca-
do, exige investimentos.

N


o final de
janeiro de
2020, diante do
alastramento
da covid-19, a
Organização
Mundial da Saúde declarou
Emergência de Saúde Pública de
Âmbito Internacional (PHEIC) e
criou uma situação sem preceden-
tes para a humanidade. O planeta
praticamente parou depois de uma
desaceleração brusca o suficiente
para danificar alicerces e lançar
pessoas da zona de conforto rumo
às incertezas globais. Assim como
guerras, ataques terroristas e outras
pandemias, o novo coronavírus se
mostrou capaz de deixar sequelas
profundas, sobretudo para o mer-
cado de compra e venda de aerona-
ves de uso privativo, um dos mais
sensíveis a mudanças de rumo.
No Brasil, a aviação de negócios
vinha de uma recuperação gradual
após sucessivas perdas até 2018,
relacionadas principalmente a
instabilidades cambiais e questões
políticas. No ano seguinte, 2019, o
setor se firmou em uma trajetória
ascendente mesmo passando por al-
gumas turbulências, principalmente
quando ficou claro que a política
econômica brasileira seria pautada
pela redução das taxas de juros – o
que tornava o Brasil menos interes-
sante para investidores em busca de
taxas que fizessem valer o risco de
aportar capitais em um mercado em
desenvolvimento.
Na prática, com menos dólares
no mercado, a pressão pela valori-
zação da moeda norte-americana
ficou maior e o preço em real para
as aeronaves começou a sua escala-
da. Ainda assim, era inquestionável
a melhora da saúde da economia
brasileira, que mostrava nítidos
sinais de recuperação e motivava
o mercado a fazer investimentos,

em uma aeronave
de seis milhões
de dólares, o
impacto na
negociação
final foi de

4,5


milhões
em apenas um mês,
enquanto se fazia
a pré-compra

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