Folha de São Paulo - 25.03.2020

(nextflipdebug5) #1

A14 QUARTA-FEIRA,25DEMARÇODE 2020 aeee


mercado coronavírus



  • Fernanda Brigatti


sãopauloNoprimeirodia
de quarentena obrigatória
no estado deSãoPaulo,do-
nos de bareserestaurantes
aindaviviamaexpectativa
de quegovernofederal apre-
sentealguma medida de so-
corroque possaevitar oure-
duziroriscodefechamentos
edemissões.
Hárelatosdedispensas em
pequenos negócios.Restau-
rantes,bares, lanchonetes e
padariassó pode funcionar
paraentregas,sejamelas
no modelo deliveryoupa-
ra oclientebuscar no local.
Osindicato querepresenta
os trabalhadores do setor,o
Sinthoresp,diz que já na se-
gunda-feira ( 23 )pelo menos
50 funcionáriosdorestau-
ranteMacaxeiraforamdemi-
tidos.Desses, 32 chegaram a
assinartermos derescisão;
os outros aguardamatenta-
tivadenegociaçãodo sindi-
cato.Oproprietário nãofoi
localizado.
Percival Maricato,presi-
dente da Abrasel-SP (Associ-
ação deBareseRestaurantes
deSãoPaulo), diz que, sem
medidasdeapoio, 30 mil ba-
reserestaurantescorrem o
risco defecharatéofim des-
ta semana, levando embora
cercade 180 mil empregos.
Odirigente estápedindo
queosassociadosesperem
antes detomar decisões mais
radicais,comofechar defini-
tivamente.Nestaterça-feira
( 24 ), primeirodia da quaren-
tena de 15 dias determinada
pelogovernador JoãoDoria
(PSDB), enviou aosrestau-
rantes orientações sobreas
possibilidades previstas na
medida provisória 927 ,pu-
blicadaemediçãoextra do
Diário OficialdaUnião no
domingo( 22 ).
Algumas dasregras da MP,
que já estãovalendo, cons-
tavam da listadereivindi-
cações encaminhadas pelas
associaçõesdosetor,como
AbraseleANR (Associação
Nacional deRestaurantes),
aogovernofederal.Acon-
cessão deférias individuais
ecoletivaseouso de banco
de horas, porexemplo, fica-
rammaisfáceis.
Asuspensão docontrato
de trabalho,que acaboure-
vogada nanoite de segunda-
feira, não agradou ao presi-
dentedaAbrasel-SP.“Para
nós, não erauma medida
razoável porque nãoexpli-
cavacomo os funcionários
sobreviveriam no período”,
diz.“Amaioriados donos de
restaurantes, principalmen-
te os menores,temumarela-
çãomuitopróximo dos fun-
cionários”,firmaodirigente.
Enquantoogovernonão
divulganovas medidas
—na segunda,osecretário
deTrabalhoePrevidência,
BrunoBianco,afirmouque
nova MP serápublicada—,o
Sinthoresp, sindicato dos tra-
balhadores, negociouuma al-
teraçãonaconvenção daca-
tegoria.“A ntecipamosade-
cisão porqueogoverno quer
excluirosindicato”,diz ose-
cretário-geralRubens Silva.
Assituações previstas são
aconcessão deférias sem a
necessidade decomunica-
çãoprevia,apossibilidade
dereduzir salários ematé
25 %durante oestado deca-
lamidade públicaeasuspen-
são docontratodetrabalho
poratéquatromeses, duran-


te os quais deve haveropa-
gamentodemetade dova-
lor do salário.
Entreospedidos dosres-
taurantehátambémodefi-
nanciamentode impostos
devidosedos geradosapar-
tir de marçoecriação de li-
nhasdecréditoespeciaispa-
ra operíodo derecuperação
das empresa. Aosgovernos
estaduais as associações pe-
demtambémmaistempo
parapagar ICMS (Imposto
sobreaCirculação deMer-
cadoriaseServiços).
Sem apoio,Maricato, da
Abrasel,considerainviável
aatividade paramuitosres-
taurantes.
OLaCasserole,tradicional
restaurantefrancês no lar-
godo Arouche,regiãocen-
tral deSãoPaulo,optou por
fecharasportas durantea
quarentena.Nosábado ( 21 ),
apósoalmoço, todos osfun-
cionários,dosalãoedese-
toresadministrativos,foram
dispensados.
Ocálculo, dizoproprietá-
rio LeoHenry, foique man-
teraoperação paraatender
odeliverynão seriavanta-
josoenãocobriria oscus-
tos. Além disso,exigiria que
os funcionárioscontinuas-
sem se deslocando,ficando
expostosemummomen-
to crítico.
Paraevitarcortes,ores-
tauranteoptou pela suspen-
são doscontratos de traba-
lhoeamanutençãode 50 %
dovalor dos salários.Acasa
emprega 35 pessoas.
Oempresário esperaque
haja algumtipodeassistên-
ciadogovernoparaossa-
lários.“Três, quatromeses
nessa situação são insusten-
táveis paraosrestaurantes,
mastambém paraosfunci-
onários”,diz.
Apesar das situações ad-
versasedainsegurançano
momento,háquemváem
direção oposta.Sylvio Laz-
zarini, doVaranda Grill,cal-
culaquecercade 80 %dos
seus 320 funcionários este-
jam emfériascoletivas.Os
demais estão trabalhando
nacozinhaenoatendimen-
to apedidos.
Além dasencomendasfei-
taspormeiode um aplica-
tivodeentregas,arededeu
início,nasemana passada,
aumserviçopróprio,aten-
dendo asregiões dosJardins
edaavenidaFaria Lima,as
duasnazona oestedacapi-
talpaulista.
Para dar fluxoaesseaten-
dimento,Lazzarinirelata ter
colocado setefuncionários.
Originalmente contratados
comogarçons, esse funcio-
náriosconseguiram seguir
naativaporquetêmmoto-
cicletas. “Eles estão traba-
lhandocomentregasefi-
camcomataxa de entrega
emaisagorjeta.”
Nasemanapassada, quan-
do já haviarecomendação
paraque osrestaurantesre-
duzissemonúmerodeme-
saserestriçõesmaioresco-
meçavamaserdiscutidas,
Lazzarini determinouaefe-
tivaçãodecinco funcionári-
os cujo período deexperiên-
cia chegavaaofim.
“Eu sei queomomentoé
muitodifícil, tambémtenho
contas parapagar,certo?”,
afirmaoempresário,que
esperaprazosmelhores pa-
ra opagamento de dívidas e
repactuação nos prazos pa-
ra impostos.

Quarentena


começa,ebares


erestaurantes


já demitem


Setor esperasocorrodogoverno


federal; alguns estabelecimentos


fazemacordos parareduzir salários


Entregadoressequeixam de que demanda


eriscos cresceram, mas os ganhosnão



  • Paula Soprana


sãopauloEnquantoatradici-
onalrede St. Marchecancelou
pedidos de entregaemalgu-
masregiões deSãoPauloeo
PãodeAçúcareoExtra infor-
mam queacomprapode de-
moraratéduas semanaspara
chegar àcasados clientes, en-
tregadores do aplicativoRap-
pi ficamatéduas horas nesses
locais paralevaracomprado
mêsaconsumidores.
PodemrecebercercadeR$ 5
aR$ 10 por 4 kmrodados,con-
formerelataramquatromo-
toristas àFolha.Ataxavaria
conformeadistânciaeope-
dido.Nãofosseocontextode
pandemia,continuariasendo
osustentodemuitosciclistas

emotoboys sem emprego for-
mal.Oproblemaéqueadifi-
culdade do trabalho mudou
—com riscodeexposição e
tempogastoemmercado—,
masopagamento éomesmo.
“Dezreais paraandar três
quilômetrosefazer umacom-
pradeR$ 1. 500 paraalguém
que estáemcasa?Não sou
chofer”, diz Luciano Ramos
da Silva, 39 ,motoristadetrês
aplicativos há mais de um ano.
Os pedidos de R$ 1. 500 (qua-
se R$ 500 amais do que um
salário mínimo)Silvadiz que
derrubaeressaltaqueaté
são poucos.Já os deR$ 300 a
R$ 600 tornaram-secomuns.
Ascompras defarmácia que
Silvafaz quasesempreinclu-
emálcool emgel,que ele e

grandepartedos colegas não
usam. “Quando nãofaltacoisa
no supermercado,etá faltan-
do emtodas asregiões,agen-
te dá um jeitodelevar.Amarra
aqui,colocanamochila. Mas
não usa álcool, não”,diz Viní-
cius Leocardio, 26 ,que opera
no Rappieno iFood.
Areclamação levouoSindi-
motoSPasolicitar,nestaterça
( 24 ),reuniãocomopresiden-
te Jair Bolsonaroeoministro
daSaúde, Luiz Henrique Man-
detta.“Nãotemos luva, álcool
emgel, máscara.Além de ser
um riscoaomotorista,éum
riscoaocliente querecebe a
mercadoria.Todoomundo
em quarentena,eomotoris-
ta fazendo seu trabalho,mas
semcontrapartida das em-

presas”, diz Gilbertodos San-
tos, presidentedosindicato.
NoBrasil, decisões maisre-
centes de açõescoletivas em
cortes superioresforamem
direçõesopostas ao definir
se hávínculo empregatício
entremotoristaseplatafor-
masde entregas. Em janeiro,
aJustiçareconheceuque não
hárelação trabalhistanocaso
do iFood.Já nocaso da Log-
gi,foideterminado vínculo
em primeirainstância,mas
ojulgamentoestáemcurso.
Assim, empresasdetecno-
logia intermediáriasnãotêm
obrigação legal degarantir as-
sistência de saúde. Pela lei,mo-
toristas devemcontribuir pa-
ra oINSS, maspoucosofazem.
Desde queavulnerabilida-
de dosentregadores viroute-
ma em outros países que en-
frentamovírus,UbereiFood
anunciaram fundos milionári-
os de assistênciaamotoristas.
Recomendação do Ministé-

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