Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1
assar um dia inteiro a fazer compras pode ser ex-
tenuante mas, ao mesmo tempo, extremamente
compensador. Afinal de contas, haverá lá melhor
coisa do que ter a possibilidade de gastar o nos-
so tempo (e dinheiro) a comprar peças de roupa
que nos fazem sentir bem, e nos ajudam a dizer ao mundo
“Este sou eu”? A resposta, para grande parte das pessoas é,
certamente, um redondo “não”, mas a verdade é que nem
para toda a gente esta experiência é assim tão feliz. Como
é que é possível? A resposta é simples: tente, da próxima
vez que for às compras, olhar para as etiquetas das peças
(camisas, camisolas, calças ou vestidos) que está a comprar


  • não só para confirmar se correspondem ao seu tamanho
    mas para confirmar a quantidade de tamanhos existentes,
    e prepare-se para ficar perplexa com o que vai descobrir.
    Isto porque, se olhar atentamente, vai notar que em grande
    parte das peças de roupa os tamanhos acabam num mísero
    L, isto quando a extensão não vai apenas até ao M. Ou seja,
    a roupa é feita para poder ser usada/comprada, mas não é
    para todos. Existe um enorme grupo de pessoas excluído
    e afastado desta experiência, e estamos claramente a falar
    de todas as que vestem tamanhos plus size.
    Seria de esperar que, hoje em dia, o mundo da moda –
    que se tem valido dos três principais bastões da sua nova
    santíssima trindade (feminismo, inclusão e diversidade)
    para vender as suas peças estampadas com frases “I Love
    Myself” ou “I’m Perfectly Imperfect” – tivesse mudado
    a sua atitude. Mas aparentemente, esta adaptação ainda
    não se verifica, pelo menos, não totalmente. «Continua a
    ser difícil encontrar peças de roupa para mim, já existem
    algumas opções, mas são opções limitadas, porque nem


todas [as marcas] incluem esse nicho», diz-nos Maria Inês
Peixoto, modelo plus size agenciada pela Face Models «as
que têm, têm apenas um quadradinho no cantinho da loja,
e são coisas que metem medo ao susto. As gordas também
gostam de vestir coisas bonitas», remata. A mesma ideia
é corroborada pela fotógrafa Cristiana Morais: «Em lojas
físicas, não tenho muita facilidade em encontrar roupa. Há
marcas com uma seleção plus size, mas não têm à venda em
loja tudo aquilo que existe. Só para aí 20% do que existe está
à venda online. As marcas do grupo Inditex onde comprava
quando era adolescente, por exemplo, agora já não compro
lá [por causa da falta de tamanhos].» E se achava que estes
eram apenas dois casos isolados, e para que não lhe restem
dúvidas sobre a falta de diversidade de tamanhos nas peças,
incluímos também a experiência de Ana Queirós, segurança
de profissão: «Sou alta, tenho as costas largas, e peito, e isso
faz toda a diferença em peças como casacos, camisolas e até
mesmo t-shirts. Por esse motivo, sempre tive dificuldade em
encontrar peças para o meu tamanho, então, às vezes, acabo
por preferir comprar uma camisola masculina.»

EXCLUSÃO E PRECONCEITO
De acordo com o mais recente estudo publicado pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos sobre a mulher portuguesa,
43% das pessoas do sexo feminino têm um peso acima do
que seria considerado normal, uma tendência acompanhada
mundialmente por tantos outros países. Claro que se trata de
um valor elevado, mas mais do que nos dizer se as mulheres
têm quatro ou cinco quilos a mais, diz-nos uma coisa: existe
uma grande margem de pessoas que a indústria está a excluir

FOTOS: IMAXTREE (7) completamente. Especialmente se tivermos em conta


P


V

CHROMAT

TOME

ECKHAUS LATTA MICHAEL KORS
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