Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1

estilo


que são poucas as marcas que têm peças que vão além do L.
E se neste momento está a pensar “não existem porque elas
são demasiado gordas”, o melhor mesmo é dar dois passos
atrás, porque apenas 15% daquelas são consideradas obesas.
E mesmo que assim fosse, não teriam também elas o direito
de vestir peças de roupa de que gostem e lhes fiquem bem,
que as façam sentir-se bem (independentemente do tamanho
que usam)? Não serão elas donas dos mesmos direitos de
trato? Quer parecer-nos que não.
Se existe algo em comum entre as nossas entrevistadas,
é que (independentemente das fases da vida) todas passa-
ram por situações menos agradáveis em lojas. Sentiram os
olhares, por vezes ouviram as “bocas” que escapam por entre
os lábios, e num dos casos, o da jornalista Carolina Pereira,
houve um encontro de primeiro grau com a “simpatia” (e
aqui usamos a palavra simpatia com o máximo de ironia
possível) de quem trabalha nestes espaços: «Já passei por

uma situação desagradável numa loja. Tinha ido para a casa
de uns amigos, eles queriam sair à noite, e eu como não tinha
nada para vestir, decidi comprar algo. Então, encontrei um
top de que gostei numa loja, e fui experimentar para ver se
ficava bem. E a senhora que lá trabalhava viu-me a pegar
na camisola e disse: ‘Se quiser, há coisas para o seu tamanho
daquele lado.’ Eu disse: ‘Desculpe?’ E ela respondeu: ‘Isto
provavelmente não vai servir-lhe, mas tem outras opções
para o seu tamanho.’ Eu entrei, vesti a t-shirt, era um L,
e acabei por ter de a chamar para pedir um M.»
Este tipo de preconceito está de tal forma enraizado na
sociedade que ninguém lhe escapa. Como nos conta Cristia-
na Morais: «Eu tenho uma coisa que me ficou para sempre
marcada na memória, que foi quando uma amiga minha,
que é mais gordinha, como eu, me disse: ‘Tu vestes-te como
se fosses uma pessoa magra.’ O que ela queria dizer era que
eu me visto como as outras pessoas, com roupa de cor, com
padrões, porque não vejo diferença. Eu não gosto de me vestir
só de preto, eu não gosto de esconder as minhas curvas.»

um ProblEma além dos tamanhos
Qualquer pessoa que tenha tirado um curso de Design de
Moda, ou que tenha mínimas noções de confeção de roupa,
sabe perfeitamente que todas as peças partem de um molde.
Molde esse que começa por ser feito num tamanho S, em
duas dimensões, e conforme se vai aumentado em tamanho
(M, L, XL, XXL), vai alargando também em dimensões.
E aqui surge então uma nova problemática: o fitting das
peças. Se temos por base um corpo magro, que apenas se vai
aumentado, como podem as peças ficar bem num corpo mais
gordo? Seria de esperar que as peças plus size estivessem já
adaptadas, mas nem sempre acontece, como nos diz Maria
Inês Peixoto: «Tu vais a uma secção de gordas e a maioria
da roupa é mais escura e mais largueirona, não há nada
estruturado. É muito raro haver peças estruturadas. Nos
tamanhos mais normais, há uma estrutura das peças, mas o
que me parece é que os designers não percebem os corpos das
gordas, e aqui entram a minha grande luta e o meu desafio.
Por exemplo, mesmo que exista um XL, ou um XXL, esse
é feito a pensar no corpo de uma pessoa magra, enquanto
um corpo gordo tem sempre mais curvas. E existem formas
de contrariar isso. Há designers como o Michael Kors ou o
Christian Siriano, que estão a apostar nesta área, que é de
nicho, porque são cada vez mais as pessoas que se preocupam
com o que vestem.» Sobre este problema, Carolina Pereira
vai mais longe, falando não só acerca da necessidade de existir
um maior controlo sobre as dimensões dos tamanhos, mas
também sobre os possíveis impactos que estas diferenças
podem ter: «Os tamanhos das peças são enviesados. Não
há um controlo aqui por parte das marcas. Quantas vezes
vais a lojas em que o S e o M são iguais? Isto faz com que

Imagem de campanha da Lane Bryant.

Imagem de campanha
da Good American.
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