Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1

IMAXTREE (2) - ELLEROSEVANDERNURG/#MOSTREMNOS/ GETTY IMAGES (2)


Esta discussão não é propriamente nova. Aliás, a forma
como as mulheres são retratadas pelos media tem sido alvo
de investigações académicas ao longo dos tempos, mesmo
antes de aparecerem as redes sociais. Margaret Gallagher,
num estudo da UNESCO, The Portrayal and Participation of
Women in the Media, com data de 1979, notava que «no geral,
o tratamento das mulheres pode ser descrito, nas melhores
das hipóteses, como limitado», evidenciando que, à época,
a mulher ainda era vista – e assim retratada – como a dona
de casa perfeita, dependente de um homem para subsistir e
sem ter uma voz ativa e participativa na tomada de decisões.
Hoje, passados 40 anos da publicação do estudo de Gal-
lagher, a discussão persiste com uma nova roupagem e
com acesso a mais informação, muito por culpa das redes
sociais e da rápida propagação de mensagens. Por exemplo,
o movimento Me Too (eu também, em português), que
promove a exposição de casos de assédio e agressão sexual
a mulheres, teve a sua maior exposição no fim do ano 2017
aquando da publicação de um artigo do jornal New York
Times sobre o produtor Harvey Weinstein. Apesar de não
ter tido a mesma magnitude em Portugal como teve noutros
países, a conversa e a partilha de histórias não desanimaram,
mesmo sendo apenas online. O hashtag #MeToo tornou-
se um espaço seguro de apoio para mulheres. Outro dos
movimentos que surgiram nos últimos anos está ligado à

aceitação corporal – também ele com uma hashtag associada:
#BodyPositive –, onde muitas mulheres encontraram, pela
primeira vez, uma oportunidade de se mostrarem e serem
vistas tal e qual como são.

O VALOR DE UMA IMAGEM
Se olharmos para as estatísticas, sete em cada dez mulheres
sentem-se pressionadas a alcançar padrões de beleza não
realísticos, o que contribui para uma epidemia de ansiedade
relacionada com a sua aparência. O facto de as mulheres se
sentirem mal com o seu corpo e a forma como se apresentam
ao mundo é um resultado de serem confrontadas todos os
dias com uma definição de beleza muito limitada. «Quando
vemos fotografias nas revistas, temos consciência de que
foram retocadas com Photoshop. As mais jovens também
o sabem, mas o estrago já está feito. Todas nós já fomos
expostas a este conceito de imagem ideal. É por isso que,
mesmo sabendo que aquela foto foi alterada, nos sentimos
mal por não sermos assim», conta-nos Diedrichs. Esta
insegurança instalada pelas hierarquias e pressões sociais,
segundo o estudo apresentado pela professora universitá-
ria, tem um reflexo real nas nossas vidas e no nosso dia a
dia: impede-nos de sermos assertivas (30%), de usarmos
a roupa que queremos (40%) e de nos expressarmos como
verdadeiramente somos (37%).
Sete em cada dez mulheres é um número grande e impac-
tante na promoção da diferença. Sendo assim, porque é que
estamos em 2019 e ainda falamos nisto? Porque «deixámos
que os homens nos educassem sobre o ideal de mulher»,
responde Amanda de Cadenet, fundadora da plataforma
Girlgaze. Como explica a socióloga Liesbet van Zoonen no
seu estudo Perspetivas Feministas dos Media, «é provável
que desentendimentos apareçam quando existe uma falta
de simetria nos códigos da fonte e do recetor no momento
de transformação do discurso». Contextualizando esta
realidade, porque é que são os homens a maior fontede
decisão quando são as mulheres e as suas necessidades

Inclusividade
na moda: Ashley
Graham (ao
centro) assume
a liderança
das modelos plus
size e marcas
como a J.Crew
(à direita) fazem
um casting mais
representativo
e real.

V

Esta é uma
das imagens
do projeto
#MostremNos.
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