Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1

especial corpo


JOÃO DESCalÇO (1) ‑ MaRTa SOaRES (1) ‑ DR (1)

CristianaMorais 31 anos


Desdecriançaquesoujulgadaporo meucorponãoir de encontro à forma
“ideal”.Noentanto,sempreconseguiabstrair‑medoscomentários negativos
e admiro‑meporisso.Nãosãoosoutrosquedefinem quem eu sou. E desde
cedotiveconsciênciadeque,apesardeexistiremdiferentes tipos de corpos, não
haviarazãoparao meunãoserconsideradonormale aceite, por mim e pelos
outros.Alémdisso,semprefuivaidosa,o quemeajudou a perceber o meu
corpoe a sentir‑meconfortávelnele.Aocrescer,nuncative “role models” com
quempudesseidentificar‑menestasquestões,masconsidero fundamental, no
crescimentoe nodesenvolvimentodanossaidentidade e da nossa autoestima
desdecriança,haverreferênciasquepossamfazercom que nos apercebamos
dequenãohámalemserdiferente.Estafoiumadasrazões que me levaram a
publicarestafotografia.Poder,dealgumamaneira,ajudar quem não aceita o
seucorpoa valorizar‑see a ganharalgumaconfiança.É importante ter cons‑
ciênciadequesomosdiferentese aceitarmo‑nostalcomo somos.

dona de mim


Mariana ViCEntE,
28 anos

Às vezes, é difícil vermo ‑nos como
somos. Especialmente quando a
nossa identidade é associada à nossa
imagem. Escrevi o meu primeiro e
único texto na gazeta do colégio sobre
obesidade, quando tinha 15 anos,
por ser um assunto que considerava
relevante. no entanto, era algo que me
magoava porque nunca era vista da
mesma forma que as outras pessoas
magras e populares da escola – por
não conseguir ser igual. aos poucos,
fui começando a praticar desporto
e a dar a volta. Ganhei confiança, e
o corpo foi ‑se desenvolvendo. Perdi
o peso que queria. até que perdi
controlo. De desportista e sociável
passei a anorética. Tinha 17 anos
quando me perguntaram (depois
de ter atingido os 30 e tal quilos)
se queria continuar a ler revistas de
moda ou recuperar e fazer o último
ano do secundário. Decidi continuar a
minha jornada, mas depois desenvolvi
bulimia. acreditava que teria de
continuar assim para recuperar o
peso que tinha ganho. nunca olhei
para trás. Pensei que eram fases.
Perdi amigos, confiança e respeitava
apenas uma coisa: a balança. Hoje
em dia, não “compro” as perspetivas
de ninguém, evito dar importância
às tendências, foco ‑me no essencial,
retomo o caminho perdido e,
sobretudo, o tempo. Porque no fim,
quem se levanta, quem se deita e
quem vive neste corpo (marcado por
cicatrizes e memórias) do passado sou
eu, a responsável por mim mesma.

Testemunhos de pessoas reais sobre o processo de aceitação do seu corpo.

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