Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1
Semprefuimagrapornatureza,apesar
de comergrandesquantidades.Durante
a minhavida,fuiouvindocomentários
menosagradáveis,como“éssó ossos”,“és
umesqueletoandante”,“tensanorexia”.
Eraalgoque,ao início,medeixavades‑
confortável,masfelizmentesemprecon‑
seguilidarbemcomisso.Aceitavao meu
corpoe tinhaumarelaçãosaudávelcom
o queviaao espelho.Decidiembarcarna
jornadade aumentode pesoe de treinos
demusculação,pormime paramim,
nãoparaagradara terceiros.Tomeiessa
decisãoporquesubiumasescadase fiqueilogocansada.Queriasentir‑memais
fortee percebercomoé queo meucorpoiriareagir.Lembro‑medequeantes
detreinar,em2016,estavacom 45 kg(istoa comermuitomasmal);noano
passado,conseguichegaraos 56 kg.Seantesjá estavagrataaomeucorpo,hoje
emdiaamo‑o depaixão,poisé fantásticovera transformaçãoquesofrie queme
tornoumaisfortea todosos níveis.Soutotalmentea favorda mudançadesdequea
mesmasejafeitade coraçãoe porquequeremos,nãopeloqueos outrosnosdizem.

PatríCia rEbElo, 29 anos


Mafalda bEirão 29 anos


Tudo começou com um par de calças
brancas. Isto de ter um blog e uma voz para
quem me segue – seja uma pequena ou
uma grande audiência – deixa ‑me exposta
a todo o tipo de comentários. até aqueles
mais chatos que, na grande maioria
das vezes, preferia não ter de ler. “Calças
brancas não são para pessoas como tu.
só a Pipoca e a Maria Guedes é que podem
usá ‑las.” É o suficiente para me deixar
a pensar: mas não eu porquê? Este foi
o meu ponto de viragem e foi quando
percebi que estava cansada de me sentir
diferente. Cansada de me sentir deslocada,
de me encolher porque não encaixava
(literalmente) num 36, de me sentir menos
bonita por não ser como as outras. Porque
é que temos de estar reféns dos padrões
da sociedade? Porque é que eu, só porque
visto calças L ou 40, não posso usar um
tipo específico de calças? E porque é que
temos esta sede incessante de viver presos

a uma letra ou a um número impresso
numa etiqueta? Mas não só. Questiono ‑me
também sobre a constante necessidade
que temos de criticar quem nos rodeia.
se o meu corpo é meu (e se eu considero que
posso usar umas calças brancas), porque
é que alguém decide ter voz para me julgar
sobre as minhas escolhas? Desde quando
é que o corpo dos outros se tornou um tema
de conversa no nosso dia a dia? não devíamos
apenas preocupar ‑nos com o corpo em que
vivemos e com a saúde que nele habita?
De onde surge esta constante necessidade
de validar a palavra “magra” como elogio e de
massacrar a palavra “gorda” como um ataque
ou até uma ofensa? se ter uma plataforma
me deixa mais exposta aos comentários
que podem surgir, também me permite
dar voz a todas estas questões. E enquanto
a tiver, não me calarei. Porque todos os
corpos são bonitos, sejam eles como forem.
Com ou sem calças brancas.

ana ribEiro, 20 anos


a história do meu corpo apenas eu
sei, pois sou eu que convivo e vivo
nele. nesta pele que me envolve.
nestas marcas que fazem de mim
quem eu realmente sou. Vivo com
uma doença crónica da pele já faz
cinco anos. Trata ‑se de uma doença
que vive em mim e que nunca irá
deixar ‑me. Já ouvi sussurros e já vi
vários olhares julgadores, apenas
por algumas marcas. Mas não deixo
que isso me afete, porque ela faz
de mim a pessoa que sou hoje.
Uma pessoa humilde e com
bondade. apenas temos um corpo
e devemos amá ‑lo e estimá ‑lo, pois
ele é o nosso templo, o nosso pilar.
Vamos fechar os olhos e olhar para
o nosso interior, porque realmente
somos maravilhosas.
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