Elle - Portugal - Edição 369 (2019-06)

(Antfer) #1

WilMa Moisés 29 anos


Sou uma mulher negra, angolana, que vive em Portugal desde os 4 anos de
idade, país onde existe, e continua a existir, uma grande falta de representati‑
vidade nos meios de comunicação de mulheres como eu. Cresci a andar numa
espécie de ponte metafórica. De um lado, tinha o que a sociedade portuguesa
considerava “bonito”, e do outro, o que a sociedade angolana louvava como
o “corpo ideal” (duas imagens bem distintas, já que em Portugal prevalece
o culto do corpo magro e na cultura angolana é venerada a mulher curvilínea).
A minha mãe sempre me ensinou a celebrar o meu corpo. Sempre estive rodeada
de mulheres confiantes, independentemente de serem magras, altas, baixas
ou gordas. Houve desde muito cedo uma descomplicação do corpo nu e uma
afirmação constante praticada em casa de que o corpo era motivo de orgulho.
Essa é a base da relação que construí com o meu corpo. Não é uma relação
perfeita e carece de uma aprendizagem contínua. A minha adolescência foi
a altura em que mais me senti insegura, pois perco peso com muita facilidade
e achava ‑me magra demais (e eu não queria isso). É algo com que lido até hoje,
mas aprendi a utilizá ‑lo como um ponto a meu favor. Aprendi a gostar do
meu corpo com as suas falhas, a criar a minha própria visão do “corpo ideal”.
Atualmente, treino três a quatro vezes por semana, tento ter uma alimentação
relativamente saudável, com batota aos fins de semana, e beber muita água.
Nunca me senti tão bem fisicamente, e isto reflete ‑se diretamente no meu
bem ‑estar psicológico e emocional.


lara andradE, 26 anos


aceitar o meu corpo sendo uma mulher
transexual não foi uma tarefa fácil,
porque eu via em mim todos os defeitos
do mundo. Foi só com o tempo que
consegui ver que todas as mulheres têm
corpos diferentes e únicos, e que eu não
era exceção! Eu apenas era mais uma
mulher a tentar lidar com os padrões
de beleza que a sociedade nos impõe,
sendo mulheres cis ou trans, como é o
meu caso. Hoje em dia, posso dizer que
aceito o meu corpo como ele é, apesar
de, claro, haver partes dele de que não
gosto tanto e talvez queira mudar, mas
não gostar não quer dizer que não aceitei
essas partes! Hoje em dia, em conversa
com amigas, costumo dizer que até nem
tive muito azar em relação ao meu corpo,
agora consigo olhar ‑me ao espelho
e ver mais as coisas positivas e não as
negativas, como antes. E sei que mesmo
essas negativas eu posso trabalhar para
conseguir mudar a minha visão sobre
elas. agora sou feliz com o meu corpo, e
tenho muito orgulho nele e em ser quem
sou. se para uma mulher cis pode ser
muito complicado lidar com as críticas
da sociedade por serem altas, baixas,
magras ou gordas, para uma mulher
trans é o dobro de complicação.
É preciso ter muita força de vontade para
não desistir e aguentar todas as críticas
e os obstáculos que nos aparecem,
e é preciso aceitarmo ‑nos como somos
e termos orgulho em nós!
Free download pdf