O Estado de São Paulo (2020-05-09)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A rainha Elizabeth II tentou
animar os britânicos lembran-
do que nunca se deve “perder
a esperança”, em discurso exi-
bido nesta sexta, quando se
lembra o 8 de Maio de 1945.
“No começo, as perspectivas
pareciam sombrias; a saída,
distante; o resultado, incer-
to”, comentou, lembrando a


2.ª Guerra. “Mas continua-
mos acreditando que a causa
era justa, e esta convicção nos
sustentou. Nunca percam a es-
perança, esta era a mensagem
do Dia da Vitória na Europa.”
Discurso foi gravado no caste-
lo de Windsor.

http://www.estadao.com.br/e/rainha

H


á quase quatro meses,
com a pandemia de co-
vid-19, o mundo mer-
gulhou numa crise sanitária
sem precedentes há mais de
um século, desde a “gripe es-
panhola”. Mesmo as socieda-
des mais avançadas na ciência
e na técnica estão penando pa-
ra lidar com o minúsculo ví-
rus. O número de contagia-
dos e de óbitos cresce a cada
dia, deixando muitos em pâni-
co diante da difícil escolha en-
tre a renúncia ao ritmo ordiná-
rio da vida e o risco de fazer
parte da multidão de vítimas.
Os atingidos pela pandemia
merecem todo o nosso respei-
to e solidariedade. E se até
aqui fomos poupados pela mi-
núscula e assustadora criaturi-
nha e ainda gozamos de boa
saúde, demos graças a Deus!
Sem diminuir o drama de
tantos, minha reflexão é um
convite à esperança, cujos si-
nais aparecem mesmo em
meio a tanta angústia e tanto
sofrimento.
Vejo médicos, enfermeiros
e servidores nos hospitais
que, com dedicação heroica,
põem em risco a própria saú-
de para salvar a vida dos doen-
tes. Mesmo assim, muitas ve-
zes devem assistir, impoten-
tes e sem mais recursos, à per-
da de vidas preciosas. Não me-
nos admiração merece a le-
gião de cuidadores anônimos
dos enfermos nas casas e em
locais de acolhida, mesmo im-
provisados, fazendo o possí-
vel e o impossível para confor-
tar e dar ânimo a quem foi gol-
peado pela covid-19. Quantos
“anjos bons” estão empenha-
dos em pequenas iniciativas
de amor às pessoas do grupo
de risco, como os idosos, dis-
pondo-se voluntariamente a
assisti-los e prestar-lhes servi-
ços necessários!
Quantos grupos pequenos
e anônimos, ONGs, igrejas, or-
ganizações sociais e assisten-
ciais, famílias e indivíduos mo-
vimentam um volume incalcu-
lável de recursos de todo tipo
para aliviar o sofrimento de
doentes e socorrer os desas-
sistidos! Há também quem re-
duza e até perdoe o valor do

aluguel a receber, para ajudar
quem perdeu sua fonte de ren-
da e não tem como pagar.
Quantos outros renunciaram
espontaneamente ao nível de
seus ganhos para evitar a mor-
te da empresa ou organização
empregadora!
E não faltam profissionais e
pessoas de boa vontade que
se dispõem a confortar e dar
assistência psicológica a
quem soçobrou sob a carga in-
suportável. Padres e religio-
sos continuam a assistir os
doentes em hospitais e nas ca-
sas, mesmo correndo o risco
do contágio. E muitas pessoas
saem da indiferença e come-
çam a se importar com a an-
gústia do próximo.
Vejo governantes de vários
países, personalidades do
mundo dos negócios, da fi-
nança e do espetáculo unin-
do esforços para apoiar, finan-

ciar e incentivar a pesquisa, a
ciência e a técnica na busca
de uma vacina e de medica-
mentos eficazes para vencer
a pandemia. E há um movi-
mento em curso para que os
benefícios da pesquisa sejam
estendidos igualmente a to-
dos os povos. Intelectuais, ar-
tistas, personalidades do
mundo da cultura e do espetá-
culo, de expressão internacio-
nal, manifestaram-se a favor
dos povos indígenas e de sua
proteção contra a doença e a
miséria. Mais de 60 bispos ca-
tólicos, que vivem e traba-
lham com as populações da
Amazônia brasileira, fizeram
um forte apelo às autorida-
des governamentais brasilei-
ras para que os povos da Ama-
zônia, há muito necessitados
de maior atenção, recebam, fi-
nalmente, o socorro necessá-
rio diante das ameaças à sua
sobrevivência nos espaços de
sua cultura.
Há iniciativas em âmbito
mundial para promover o per-
dão da dívida externa de paí-

ses pobres, para que possam
cuidar melhor da vida de suas
populações. E não é mais ta-
bu falar em revisão das orien-
tações da economia mundial,
para fomentar novos padrões
de vida e convivência, com
prioridade para as necessida-
des básicas da população e
oportunidades de vida digna
para todos, em lugar do incen-
tivo à acumulação e ao consu-
mo do supérfluo e da cultura
do descarte.
O vírus nos obriga a reco-
nhecer que somos todos par-
te da mesma família humana,
frágeis e necessitados de aju-
da e apoio recíprocos.
Até nas contas do governo
brasileiro, sempre apertadas
e minguadas para a saúde e a
assistência social, como num
passe de mágica deu para pro-
ver socorro aos pobres e aos
trabalhadores desemprega-
dos ou subempregados! Inú-
meras empresas e grupos eco-
nômicos uniram-se para pro-
mover iniciativas de solidarie-
dade, proporcionando alimen-
to e socorro a famílias e co-
munidades carentes, leitos,
máscaras, respiradores mecâ-
nicos e toda sorte de equipa-
mentos para hospitais, am-
pliando a capacidade das es-
truturas sanitárias para o cui-
dado dos doentes.
Quando vejo que tudo isso
acontece, penso que, apesar
da angústia desta pandemia,
há brotos de esperança des-
pontando por toda parte. Es-
se mundo ainda tem jeito, por-
que o coração humano, ape-
sar de tudo, está vacinado con-
tra o pior de todos os vírus: a
insensibilidade e o individua-
lismo egoísta. A pandemia es-
tá ocasionando a superação
do tédio, fruto da falta de sen-
tido na vida. Está ajudando a
dar novo valor ao que há de
mais humano no coração das
pessoas: o amor sincero, a de-
dicação graciosa ao irmão
frágil e caído. Esse é o bem
mais precioso na vida e por
ele vale a pena viver e lutar!

]
CARDEAL-ARCEBISPO
DE SÃO PAULO

Escritor lembrou calamida-
de de saúde e ‘fake news’ de
políticos em suas obras.

http://www.estadao.com.br/e/king

REINO UNIDO


Rainha pede esperança em discurso


Moradores de comunidades
carentes e crianças em trata-
mento contra o câncer rece-
berão proteção contra o no-
vo coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/costureiras

l“Deveria determinar o confinamento total, em vez de ficar prorrogan-
do a quarentena, que, visivelmente, não está funcionando.”
RENATA ALAMINOS

l“O custo dessa quarentena vai ser bem alto. Se preparem para as
mortes a prazo!”
MARCUS CREMONEZ

l“Correto, governador. Se a população tivesse levado a sério a qua-
rentena, hoje poderia pensar na flexibilização.”
BRUNO BERTOLAN

l“Nem deveria ter falado em relaxar quarentena. Foi isso que botou
todo mundo nas ruas. Tem que ter lockdown.”
ANA PAULA MACHADO

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Antes da pandemia, Uezile
também se dedicava ao tra-
balho voluntário. Agora ele
organiza fila de doações de
renomado restaurante.

http://www.estadao.com.br/e/marmita

Espaço Aberto


V


ivemos num mundo po-
larizado. Na crise do
novo coronavírus, o
nós e eles assumiu nova rou-
pagem. Saúde e economia fo-
ram transformadas em rivais,
como se uma pudesse subsis-
tir sem a contribuição da ou-
tra. De maneira similar, ciên-
cia e religião estão sendo con-
trapostas, como se a obser-
vância das orientações da Or-
ganização Mundial da Saúde
(OMS) representasse falta de
fé passível de excomunhão.
“Dos mitos de criação do
mundo de culturas pré-cien-
tíficas às teorias cosmológi-
cas modernas, a questão de
por que existe algo ao invés
de nada, ou, em outras pala-
vras, ‘por que o mundo?’, ins-
pirou e inspira tanto o religio-
so como o ateu.” Essa afirma-
ção aparece no livro A Dança
do Universo
, do físico e astrô-
nomo brasileiro Marcelo Glei-
ser, vencedor do Prêmio Tem-
pleton de 2019. Considerado
o “Oscar da espiritualidade”,
o reconhecimento é dado a
personalidades que contribuí-
ram para reafirmar a dimen-
são espiritual da vida.
“Embora ciência e religião
abordem a questão da ori-
gem do universo com enfo-
ques e linguagens que têm
pouco em comum”, observa
o cientista, “certas ideias for-
çosamente reaparecem, mes-
mo que vestidas em roupas
diferentes”.
No calendário hebraico, es-
tamos em 5780. Segundo a li-
turgia que repetimos durante
o ano-novo judaico, há pouco
menos de 6 mil anos o mun-
do teria sido criado. Mais es-
pecificamente, a contagem
marca o aniversário de Adão
e Eva, criados no sexto dia da
narrativa do Gênesis. Muitos
podem ter alguma dificulda-
de de se conectar com essa
mensagem no mundo con-
temporâneo. Afinal de con-
tas, a ciência aponta para a
existência do Homo sapiens
há 200 milênios e um univer-
so que tem quase 14 bilhões
de anos.
Existem ao menos três for-
mas de se relacionar com es-


sas aparentes contradições.
A primeira seria descartar a
narrativa religiosa, associan-
do-a a uma etapa primitiva
de nossa existência, em que o
conhecimento científico não
estava disponível. A segunda
possibilidade seria dizer que
a religião revela uma sabedo-
ria inquestionável, que apon-
ta para um enorme equívoco
da abordagem científica. A úl-
tima alternativa, mais com-
plexa que as anteriores, seria
sofisticar a nossa leitura reli-
giosa, por um lado, enquanto
agregamos dimensão ética ao
método científico, por outro.
Em outras palavras, a tercei-
ra alternativa é estabelecer
um diálogo profundo entre
ciência e religião.
Na opinião do rabino Jona-
than Sacks, também ganha-
dor do Prêmio Templeton,
mas em 2016, a ciência sepa-

ra coisas para explicar como
funcionam e a religião reúne
coisas para entender o que
significam. “Quando Darwin
desenvolve sua teoria de sele-
ção natural”, afirma Sacks,
“ela parece ser incompatível
com sua crença cristã. (...)
Mais tarde, percebemos que
Darwin criou, sem ter essa in-
tenção, uma das mais belas
ideias religiosas, que é ‘o Cria-
dor fez a criatura, criativa’.
(...) Assim”, pondera, então,
o rabino inglês, “poderíamos
resumir o darwinismo”.
O obscurantismo nos dias
atuais contamina a política,
que desconfia de evidências
científicas amplamente com-
provadas, como o efeito estu-
fa e as consequências nefas-
tas do aquecimento global,
seja por malícia ou por igno-
rância. Em pleno século 21,
existem pessoas que volta-
ram a acreditar que a Terra
seja plana e existe até mes-
mo um movimento chamado
“terraplanismo”. O fanatis-
mo religioso também se faz

presente, infelizmente, na
discussão em torno do novo
coronavírus.
Mais do que nunca, a alian-
ça entre religião e ciência é
necessária para reafirmar o
nosso compromisso com um
ativismo crítico, que incorpo-
ra o conhecimento científico
e faz de sua defesa uma tare-
fa sacramente esclarecida.
Ao mesmo tempo, acredito
que a religião possa contri-
buir para o debate ético cada
vez mais necessário em razão
dos avanços científicos. A
academia, sem a ética, pode
ser fanática a ponto de trans-
formar a ciência numa reli-
gião fundamentalista. Isso,
de fato, já aconteceu em mo-
mentos de positivismo cien-
tífico e serviu de fundamento
para episódios catastróficos
de ditaduras e perseguições.
Distanciar-se da noção de
verdade absoluta e incorpo-
rar às suas práticas os meca-
nismos heterodoxos de intui-
ção e acaso, embora não se-
jam ferramentas acadêmicas
clássicas, foram as peças res-
ponsáveis por inúmeros avan-
ços científicos. As contribui-
ções da literatura ficcional e
da própria fé religiosa à ética
científica distanciam-na do
fanatismo acadêmico. Marce-
lo Gleiser sintetiza: “A reli-
gião teve (e tem!) um papel
crucial no processo criativo
de vários cientistas”.
Se quisermos sair fortaleci-
dos desta pandemia, teremos
de superar o obscurantismo
fanático e optar por uma reli-
giosidade aliada à investiga-
ção científica de ponta. Con-
jugando o conhecimento dis-
ponível em cada geração com
a constante busca de sentido
ético que a religião estimula,
podemos fortalecer uma vida
que seja, a um só tempo, es-
clarecida e sagrada.

]
BACHAREL EM DIREITO PELA
USP, RABINO DA CONGREGAÇÃO
ISRAELITA PAULISTA,
É REPRESENTANTE DA
CONFEDERAÇÃO ISRAELITA
DO BRASIL PARA O DIÁLOGO
INTER-RELIGIOSO.

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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BOAS AÇÕES
No Rio, costureiras
produzem máscaras

O homem da fila da
doação de marmitas

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]
Michel Schlesinger


Tema do dia


Ação está suspensa na Nas-
daq em meio às investiga-
ções de fraude fiscal.

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Religião


com ciência


Em pleno século 21
existem pessoas que
voltaram a acreditar
que a Terra é plana...

Ainda há


esperança


A pandemia ajuda a
dar novo valor ao amor
sincero, à dedicação
graciosa ao irmão caído

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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Doria prorroga


quarentena em SP


até o dia 31 de maio


‘Autorizar o relaxamento agora seria
colocar em risco vidas e o sistema de
saúde’, disse o governador

]
Dom Odilo P. Scherer

REUTERS VOLUNTÁRIO

No estadao.com.br


LITERATURA

Stephen King se
desculpa por previsão

E-INVESTIDOR

Starbucks chinesa é
pesadelo para banco
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