O Estado de São Paulo (2020-05-09)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2020 Especial H3


ADEUS


1 livro por semana*


CENTENÁRIA, HOLDEN


TEM FIM DECRETADO


Australiana surgiu como fabricante de celas, passou a produzir


carrocerias em 1917 e fazia o Chevrolet Omega vendido no Brasil


P


ara quem quer entender por
que somos como somos e co-
mo chegamos até aqui, e não
falo aqui apenas da guinada política
mais recente da nossa história, a dica
é Brasil: Uma Biografia , livro de Lilia
M. Schwarcz e Heloisa M. Starling
publicado em 2015. A saga do País é
contada desde antes da chegada dos
portugueses e se encerra com a pri-
meira eleição de Fernando Henrique
Cardoso (e quanta coisa aconteceu
desde então e desde o lançamento).
Mas vale lembrar o que as autoras,
historiadoras, contaram na época:
só é possível apreender processos fi-
nalizados. Fatos daquele presente,
nosso passado recente, aparecem na
conclusão, quando elas falaram so-
bre corrupção, de novo o tema do mo-
mento, e algo que, na opinião delas, é
histórico e uma construção social.
Outros assuntos relevantes apare-
cem ali, mas sem a profundidade ana-

lítica do restante do livro – que não feito
para historiadores, mas para todos nós,
que somos parte dessa bagunça.
O livro reflete sobre o Brasil com ba-
se em dois eixos: o fato de termos uma
sociedade, desde o início, violenta, hie-
rárquica e desigual, e o fato de, também
desde sempre, sermos uma sociedade
que luta por autonomia, construção de

direitos e liberdades. Acompanhamos,
então, a história de uma nação fundada
da exploração, da violência, do extermí-
nio, do desrespeito e da ganância, mas
que desde os tempos mais remotos foi
às ruas para se manifestar – por interes-
ses individuais, como nas primeiras re-
voltas contra os impostos e o aumento
de preços, ou por questões como liber-

dade, justiça e democracia.
Tem um pouco de humor, e tem nos-
sa produção cultural servindo de fonte
de pesquisa. “Cultura não é reflexo, ela
produz um momento e seu contexto”,
disse Lilia M. Schwarcz no lançamen-
to. E tem ainda um fio de esperança: “A
vocação é de se reinventar e o Brasil é
bom em reinvenção”, completou.

MARIA FERNANDA RODRIGUES ESCREVE AOS SÁBADOS

l]


Igor Macário


Pouco conhecida no Brasil, a
australiana Holden é uma das
marcas de veículos mais antigas
do mundo. E, após mais de 100
anos de atuação no segmento
automotivo, sairá de cena até
2021 como parte do plano de
reestruturação implementado
pela GM, sua controladora.
A Holden surgiu em 1856 co-
mo uma fabricante de selas pa-
ra cavalos. O ingresso no setor
de carros ocorreu em 1908.
Inicialmente a companhia fa-
zia reparos nos poucos carros
que circulavam na Austrália. A
produção de veículos inteiros
teve início em 1917, durante a
Primeira Guerra Mundial.


Em 1923, a Holden passou a
ser fornecedora da filial austra-
liana da Ford. A empresa monta-
va as carrocerias do Modelo T
vendidos naquele país.
Três anos depois, a Holden se
tornou fornecedora exclusiva
da General Motors, que acabara
de chegar à Austrália. Em 1931, o
grupo norte-americano com-
prou a empresa australiana.
Isso deu impulso ao desenvol-
vimento do primeiro carro dese-
nhado no país. Batizado sim-
plesmente de Holden, o mode-
lo chegou às lojas em 1948.
Nas décadas seguintes, o lan-
çamento de carros focados no
mercado local garantiu a prima-
zia de vendas da marca no país.
Os modelos da marca tinham vi-
sual mais simples que os dos
clássicos da GM nos Estados
Unidos, além de motores de

grande capacidade, como os V8
de 5 ou mais litros. A marca ti-
nha forte conexão com a Vaux-
hall, braço da GM na Inglaterra.
A Holden também ofereceu,
com seu emblema, veículos de
outras fabricantes. Como mo-
delos das japonesa Isuzu, Nis-
san e Suzuki, além da alemã
Opel, que ganharam mudanças
no visual para ficarem mais ao
gosto do consumidor local.
Um dos destaques da empre-
sa eram as Utes, como são co-
nhecidas as picapes derivadas
de sedãs, um tipo de carro tipica-
mente australiano. Havia inclu-
sive versões esportivas, com
motores V8 e tração traseira.
A empresa sempre teve auto-
nomia em relação à sua contro-
ladora. Os seis-cilindros em li-
nha utilizados em seus carros
até meados dos anos 1980, por
exemplo, eram projetos pró-
prios, embora a GM oferecesse
esse tipo de motor nos EUA.
E, quando a legislação antipo-
luição determinou o fim desses
propulsores, a Holden optou
por comprar os “seis em linha”
da Nissan. Por isso há versões
do sedã Commodore, um dos
carros mais conhecidos da mar-
ca, com o mesmo conjunto me-
cânico do japonês Skyline.

Brasil. A empresa vendeu seus
veículos em vários países, inclu-
indo o Brasil. O sedã Holden
Commodore oferecido aos bra-
sileiros foi rebatizado de Che-
vrolet Omega. O modelo che-
gou em 1998 com a difícil mis-
são de substituir o Omega, pro-
duzido pela GM em São Caeta-
no do Sul (SP) desde 1992.
O Omega australiano, como
o carro ficou conhecido no mer-
cado brasileiro, nunca teve o
mesmo carisma da primeira ge-
ração, que era baseada no sedã
da Opel. E nem de longe conse-
guiu fazer o mesmo sucesso.
Embora a base fosse parecida
com a do alemão, o carro da Hol-
den era mais largo e comprido.
Na Austrália, havia opção de mo-
tor V8, que nunca foi oferecida
nem na Europa nem no Brasil.
Por causa da origem australia-
na, país que adota a chamada
“mão inglesa”, o Omega vendi-
do aqui tinha particularidades
como alavanca do freio de esta-
cionamento localizada do lado
do passageiro. O console tam-
bém era levemente direciona-
do para a direita e o botão do
rádio mais próximo do motoris-
ta era o de mudança de estação,
e não o de ajuste do volume.

Perto do fim. Em 2017, o Com-
modore saiu de linha encerran-
do uma longa linhagem de car-
ros originários da Austrália. Em
janeiro deste ano, a Holden te-
ve seu fim anunciado pela GM.

JornaldoCarro


DNA. Lançado em 1948 e batizado simplesmente de Holden, primeiro automóvel desenhado na Austrália deu origem a uma grade família de veículos


Avanço. De 1968, Monaro tinha opção esportiva e motor V8


FOTOS: HOLDEN/DIVULGAÇÃO

Alter ego. Vendido aqui como Omega, Commodore nunca obteve o sucesso do antecessor

Os fios da meada


BABEL

l Debates independentes
Criado como um aquecimento para a
tradicional Primavera Literária, feira
de livros das editoras independentes,
promovida pela Liga Brasileira de Edi-
toras (Libre), o Esquenta Primavera
será realizado online entre os dias 26
de maio e 23 de julho, com a participa-
ção de mais de 65 convidados entre
autores, ilustradores e profissionais
do mercado editorial. Serão 34 encon-
tros ao vivo ao longo de 17 dias espa-
lhados por cinco semanas, totalizan-
do quase 70 horas de programação.

l Vozes do México
A Pallas fez uma parceria com Alboro-
to, premiada no ano passado na Feira
do Livro Infantil de Bolonha, e vai pu-
blicar uma série de livros da editora
mexicana aqui. Um deles é o infantil
‘Niños’, de Maria José Ferrada com
ilustrações de Maria Elena Valdez,
sobre crianças que desapareceram
durante a ditadura militar chilena.

FRANCIS MEYNELL

Tráfico. Em 1845, Francis Meynell retratou navio que trazia escravos

BRASIL: UMA
BIOGRAFIA
Autoras: Lilia
M. Schwarcz e
Heloisa M.
Starling
Editora:
Companhia
das Letras
(808 págs.;
R$ 74,90;
R$ 39,90
o e-book)
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