O Estado de São Paulo (2020-05-09)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-4:20200509:
A4 SÁBADO, 9 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Bruno Covas,
prefeito de São
Paulo

»E vai rolar? Até ontem à
noite a festa estava manti-
da para hoje, mas discutia-
se sua desidratação ou até
mesmo seu cancelamento,
após Bolsonaro ter sido
alertado de que o timing
não é bom: o País superou
as 700 mortes diárias.

»Deu ruim. “Mais um dia,
mais um recorde de brasilei-
ros mortos pela covid-19.
De ontem pra hoje, ao me-
nos 751 pessoas perderam
suas vidas. Como resposta
às famílias das vítimas, o
presidente só anuncia chur-
rasco e pergunta ‘e daí?’”,
escreveu Alessandro Molon
(PSB-RJ) no Twitter.

»Diagnóstico... A convite
de João Doria, o ex-governa-
dor Geraldo Alckmin almo-
çou no Palácio dos Bandei-
rantes. Bruno Covas tam-
bém tomou lugar à mesa.

»...tucano. Doria pediu a
Alckmin que, com sua expe-
riência como médico e prin-
cipalmente, ex-governador,
avaliasse a condução da cri-
se pelo governo paulista: no
caminho certo, sem chance
de flexibilizar a quarentena
neste momento e com aten-
ção redobrada às periferias.

»Xi... O super rodízio de
Covas contra a covid-19 ga-
nhou o apelido na Câmara
de “jabuticaba”: só tem no
Brasil. Precisa ver se dará
certo como a fruta...

»Vai dar. Líderes de parti-
dos independentes avaliam
que haverá consenso para
votar a MP da regularização
fundiária na semana que
vem. O presidente da Câma-
ra, Rodrigo Maia (DEM-
RJ), ainda não incluiu a me-
dida na pauta, mas as nego-
ciações seguirão a pleno va-
por durante o fim de sema-
na. Conforme mostrou a
Coluna nesta semana, a MP
é fonte de grande disputa.

»Help! Não está fácil para
ninguém. Já são seis os Es-
tados que pediram ajuda
das Forças Armadas para
combater o coronavírus:
Amapá, Roraima, Acre, San-
ta Catarina, Piauí e Ceará.

»Luz... Em mensagem en-
viada a grupos empresa-
riais, José Ricardo Roriz
Coelho (Abiplast) afirmou
que o objetivo do encontro
dos empresários com Jair
Bolsonaro foi a busca de
uma ação organizada de ti-
rar o País do caos atual.

»...no fim... “Se não arru-
marmos a casa, com crédi-
to chegando na ponta, e pla-
nejarmos de forma previsí-
vel um retorno que preser-
ve a saúde das pessoas e
não deixe as empresas mé-
dias e pequenas morrerem,
será um desastre”, diz.

»...do túnel. De acordo
com Roriz, será preciso
“convergência” e entendi-
mento entre os Poderes.
“Foi isto que levamos ao
governo e ao Supremo.”

»Ok. Com o controle rígi-
do de entrada no País, 280
estrangeiros, funcionários
da Petrobrás, foram autori-
zados a desembarcar no
Brasil nesta semana. Eles
deverão ser testados e te-
rão que seguir regras rígi-
das para comprovar que
não estão infectados.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

O


churrasco de Jair Bolsonaro com “pelada” no Alvo-
rada era para ter acontecido no final de semana pas-
sado, em comemoração ao aniversário de Flávio
Bolsonaro, transcorrido dia 30. Mas acabou adiado e, co-
mo a fase é ruim, o “timing” fez gol contra. O anúncio da
nova data coincidiu com o momento em que o Brasil se
aproximou (e deverá superar) da triste marca de 10 mil
mortes oficias pela covid-19. Em privado, aliados do clã vi-
ram forte simbolismo negativo no anúncio público da fes-
ta e aconselharam o cancelamento da confraternização.

‘Timing’ de churrasco


desagrada até a aliados


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Justiça e MP criam
‘penduricalhos’ em meio

à pandemia. Pág. A


Benefícios


Centrão mira orçamento


de R$ 78,1 bi com cargos


Por apoio no Congresso, governo negocia indicações em órgãos estratégicos; Progressistas


e Republicanos já emplacaram nomes no Dnocs e na pasta de Desenvolvimento Regional


Vinícius Valfré / BRASÍLIA

Ao lotear cargos do governo
com nomes indicados pelo
Centrão, o presidente Jair Bol-
sonaro poderá deixar sob con-
trole de políticos desse bloco
um orçamento de até R$ 78,
bilhões. Antes demonizado pe-
lo próprio Bolsonaro e seus
apoiadores, o Centrão sempre
foi classificado como fisiológi-
co e inclui siglas como o antigo
PP, que teve o maior número
de investigados na Operação
Lava Jato. Na época da campa-
nha, o atual ministro-chefe do
Gabinete de Segurança Insti-
tucional, general Augusto He-
leno, trocou a palavra “la-
drão” por Centrão na música
‘Reunião de bacana’ ao canta-
rolar em convenção do PSL, en-
tão partido do presidente: “Se
gritar pega Centrão, não fica
um meu irmão”.
Ainda são esperadas nomea-
ções em postos estratégicos, co-
mo no Instituto Nacional de Co-
lonização e Reforma Agrária
(Incra) e no Departamento Na-
cional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit). O Dnocs
sempre foi muito cobiçado por
ser responsável por obras de
combate à seca em regiões ca-
rentes do Nordeste. O poder de
decidir onde e quando o dinhei-
ro será investido vira ativo elei-
toral para políticos da região,
principalmente em um ano de
disputas municipais como este.
Desde quarta-feira o Dnocs é
comandado por Fernando
Leão, um afilhado do deputado
Sebastião Oliveira (PL-PE). O
cargo foi entregue ao Progres-
sistas (antigo PP) do deputado
Arthur Lira (AL). Mas, em bus-
ca de apoios para sua candidatu-
ra à presidência da Câmara, em
2021, Lira repassou a escolha a
Oliveira, que, por sua vez, está
de malas prontas para o Avante.
Leão foi alçado de gerente do
Procon de Pernambuco a chefe
de um departamento com orça-
mento de R$ 1,09 bilhão, dos
quais R$ 265 milhões são livres
para obras. Procurado, ele não
quis se manifestar.
A título de comparação, o to-
tal de R$ 78,1 bilhões que pode-
rá ficar nas mãos do Centrão se-
rá maior do que tem disponível
a maioria dos governadores – só
perde para os orçamentos de
São Paulo, Rio e Minas Gerais. A
quantia leva em conta o que es-
tá reservado tanto para paga-
mento de funcionários quanto
para custeio dos órgãos, assina-
tura de contratos, realização de
obras e demais investimentos.
A conta, porém, não conside-
ra cargos na estrutura de minis-
térios, como a Secretaria de Mo-
bilidade do Ministério do De-
senvolvimento Regional, entre-
gue ontem a Tiago Pontes de

Queiroz, indicado pelo Republi-
canos, que é presidido pelo de-
putado Marcos Pereira (SP).
Neste caso, o secretário é res-
ponsável por definir políticas
públicas da área, mas o recurso
fica vinculado à pasta, comanda-
da por Rogério Marinho.
O governo aceitou negociar
com o Centrão em troca de
apoio em meio à crise acentua-
da pela demissão do ex-minis-
tro da Justiça Sérgio Moro. As
acusações de interferência fei-
tas pelo ex-juiz da Lava Jato leva-
ram a oposição a falar em CPIs e
processo de impeachment con-
tra Bolsonaro. Até então desin-
teressado em formar uma base
sólida no Congresso, o presiden-
te passou a recorrer ao Centrão
em busca de “blindagem”.
Na avaliação de líderes do blo-
co, o apoio ao Planalto vai depen-
der das concessões feitas por

Bolsonaro. Pelo menos nove de-
partamentos, repartições e em-
presas públicas surgem nas con-
versas. Integrantes do Centrão,
no entanto, afirmam não haver
nada de errado nas indicações,
que, segundo eles, são técnicas.
Vinculado ao Ministério da
Educação (MEC), o Fundo Na-
cional de Desenvolvimento da
Educação (FNDE), com orça-
mento de R$ 29,4 bilhões, é um
dos objetos de desejo do bloco.
Foi por meio dele que o MEC
contratou uma empresa para for-
necer kits escolares que, segun-
do o Ministério Público, está en-
volvida em esquema de desvio
de R$ 134,2 milhões na Paraíba.

Banco. Bolsonaro já disse a
aliados que não pretende entre-
gar bancos públicos a políticos
para conter as críticas ao “toma
lá, dá cá”. Mas há pressão para

que o Banco do Nordeste seja
levado à mesa de negociações e
entregue ao PL. O Fundo Cons-
titucional de Financiamento do
Nordeste, administrado pela
instituição, tem R$ 29,3 bilhões
para aplicações nos nove Esta-
dos da região e no norte do Es-
pírito Santo e de Minas.
Outro lote que atrai o Cen-
trão – grupo que também abriga
o DEM, Solidariedade, PSD e
PTB – está no Departamento
Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit). Com orça-
mento de R$ 8,4 bilhões, cabe
ao órgão realizar obras em rodo-
vias federais. No radar do bloco
estão, ainda, estruturas menos
conhecidas, mas igualmente bi-
lionárias. É o caso de diretorias
da Companhia de Desenvolvi-
mento dos Vales do São Francis-
co e do Parnaíba. A empresa
tem orçamento de R$ 1,5 bilhão.

Vera Rosa
Tânia Monteiro / BRASÍLIA

A queda de braço do Centrão
com os militares do governo se

intensificou, nos últimos dias,
por causa do controle do Depar-
tamento Nacional de Infraes-
trutura de Transportes (Dnit),
que tem orçamento de R$ 8,
bilhões para este ano. O PL de
Valdemar Costa Neto quer reto-
mar a autarquia, hoje comanda-
da pelo general Antônio Leite
dos Santos Filho, mas enfrenta
resistências no governo.
Depois do acordo para que o
Progressistas (antigo PP) ficas-

se com o Departamento Nacio-
nal de Obras Contra as Secas (D-
nocs), o impasse gira agora em
torno do Dnit e do Fundo Nacio-
nal de Desenvolvimento da Edu-
cação (FNDE). A exemplo do
ministro da Infraestrutura, Tar-
císio Gomes de Freitas, que ve-
tou indicações para o Dnit, o ti-
tular da Educação, Abraham
Weintraub, já avisou que não
aceitará entregar o FNDE ao
Progressistas nem a nenhum
outro partido do Centrão.
Nas negociações para a mon-
tagem da base de apoio do presi-
dente Jair Bolsonaro no Con-
gresso ficou acertado que o PL
terá o controle do Banco do Nor-

deste e da Secretaria de Vigilân-
cia Sanitária do Ministério da
Saúde. O problema é que o PL
insiste em voltar ao comando do
Dnit, antigo feudo do partido.
Uma portaria editada em
março de 2019 blindou as supe-
rintendências do Dnit nos Esta-
dos ao determinar que os indica-
dos precisam passar por proces-
so seletivo. Ex-deputado, Costa
Neto – que dirige o PL – foi con-
denado em 2013 no processo do
mensalão e chegou a ser preso.
Apelidado de “Boy”, ele sempre
transitou bem tanto na direita
como na esquerda e é quem tem
negociado os cargos do partido
com o Palácio do Planalto.

Marcos Pereira

Dnit vira motivo de queda


de braço com militares


PRONTO, FALEI!

lNome do Centrão, o deputado
Sebastião Oliveira (PL-PE) foi um
dos alvos ontem da Operação
Outline, que apura desvios em
contrato de R$ 190 milhões para
obra da BR-101, no trecho do
Contorno Viário da Região Metro-
politana do Recife. O parlamen-
tar, que é “padrinho” do novo che-
fe do Dnocs, teve endereços vas-
culhados pela Polícia Federal em
Brasília, no Recife e em Gravatá.
Oliveira foi secretário de Trans-
portes de Pernambuco de 2015 a
2018, época em que, conforme a
investigação, foram identificadas
irregularidades mais “contunden-
tes”. Os alvos podem responder
pelos crimes de peculato, corrup-
ção, organização criminosa e la-
vagem de dinheiro. Oliveira não
respondeu à reportagem até a
conclusão desta edição. / FAUSTO
MACEDO e PEPITA ORTEGA

PL de Valdemar Costa
Neto disputa o órgão,
hoje chefiado por um
general; ministro vetou
indicações na autarquia

GOVERNO EM RISCO


PILLAR PEDREIRA/AGÊNCIA SENADO - 11/8/

Autarquia. Vinculado ao Ministério da Infraestrutura, Dnit tem orçamento de R$ 8,4 bilhões

“Com o dólar nas alturas, ninguém vai nem para
Foz do Iguaçu. Vai todo mundo continuar em casa”,
sobre Paulo Guedes ter debochado da alta do dólar.

Deputado federal (SP), presidente do Republicanos

»CLICK. Enquanto o País
enfrentava mais um re-
corde de mortes por co-
vid-19, o churrasco mar-
cado por Jair Bolsonaro
repercutia muito mal nas
redes sociais ontem.

COLUNA DO ESTADÃO

‘Padrinho’ de novo


● Governo negocia cargos com diretor é alvo da PF
partidos do Centrão

VERBA

FONTE: SIGA BRASIL E BNB INFOGRÁFICO/ESTADÃO

DNIT

Funasa

Incra

Iphan

Codevasf

FNDE

DNOCS

Porto de Santos

Banco do Nordeste

R$ 8,4 bilhões

R$ 3,1 bilhões

R$ 3,5 bilhões

R$ 366,3 milhões

R$ 1,5 bilhão

R$ 29,4 bilhões

R$ 1,09 bilhão

R$ 1,49 bilhão

R$ 29,3 bilhões
FNE*

*FUNDO CONSTITUCIONAL DE FINANCIAMENTO DO NORDESTE,
ADMINISTRADO PELO BANCO
Free download pdf