O Estado de São Paulo (2020-05-10)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-15:20200510:
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 A


Esportes

Covid-19. Considerados ‘profissionais renomados’, treinadores com mais de 60 anos passarão por exames cuidadosos antes do retorno


Leandro Silveira


No futebol atual, os técnicos
dividem o protagonismo com
os jogadores – prova disso
são os últimos dois “professo-
res” que conquistaram o títu-
lo do Brasileirão, Luiz Felipe
Scolari, com o Palmeiras em
2018, e o português Jorge Je-
sus, no comando do Flamen-
go, no ano passado. Essa divi-
são entre as duas funções con-
tinuará sendo assim quando
as partidas forem retomadas
no Brasil, mas não apenas pe-
lo aspecto esportivo. Afinal,
parcela relevante dos treina-
dores em atividade faz parte
dos grupos de risco ao corona-
vírus. Eles receberão atenção
especial quando os campeo-
natos começarem, com ava-
liações mais cuidadosas so-
bre a condição de saúde.

Apenas na Série A do Cam-
peonato Brasileiro, sem data pa-
ra retorno, são cinco técnicos
com ao menos 60 anos, idade
que baseia a composição inicial
dos grupos de risco. São eles: os
estrangeiros Jesualdo Ferreira,
Jorge Jesus e Jorge Sampaoli,
além de Vanderlei Luxemburgo
e Paulo Autuori. Há exemplos
em outros campeonatos, como
Geninho, à frente do Vitória,
com 71 anos. E de veteranos de-
sempregados, como Felipão,
Abel Braga e Marcelo Oliveira.
Os casos, porém, não se limi-
tam à faixa etária, incluindo pes-
soas que possuem asma, diabe-
tes, hipertensão e outros proble-
mas de saúde. É o que acontece
com Renato Gaúcho, que está
com 57 anos, mas passou por ci-
rurgias cardíacas por causa de
uma fibrilação atrial, problema
bastante comum a ex-jogado-
res. Sua condição levou o Grê-
mio a mantê-lo no Rio, embora
o elenco já vinha realizando tra-
balhos em Porto Alegre antes
de o governador Eduardo Leite
proibir os times do Estado de
retomarem suas atividades. O
Inter também treinou na sema-
na. A saúde de diversos treina-
dores precisará de atenção.
Os protocolos de segurança
para a volta do futebol indicam
que todos os envolvidos nas par-
tidas vão passar por testes con-
tra o coronavírus para que este-
jam aptos a treinar e jogar. Os
exames para profissionais do
grupo de risco deverão ser mais
rigorosos e frequentes, como
detalha Moisés Cohen, presi-
dente da comissão médica da
Federação Paulista de Futebol.
“Dependendo da faixa etária,
você pode ser um pouco mais
rigoroso na testagem, fazendo
o teste do RT-PCR na concen-
tração. E depois de uma sema-


na, dez dias, você faz o sorológi-
co. Aí você vai ter mapeado bem
a condição”, explica ao Estado.
Cohen diz, porém, que não
existirá regra firme para os pro-
fissionais com mais de 60 anos.
“Isso precisa ser customizado,
não existe fórmula para todos
que estão na faixa de risco”, co-
menta, destacando que há risco
inerentes a qualquer processo.
Nos bancos de reservas, os
protocolos da CBF e das federa-
ções estaduais indicam que os
técnicos vão ter de usar másca-
ras, assim como os profissio-
nais que não estiverem em cam-
po. “Todos serão orientados a

usar máscara, com exceção de
quem estiver no gramado: atle-
tas, árbitros e assistentes”, diz
Jorge Pagura, presidente da co-
missão de médicos da CBF.
“Eventualmente, ele poderá
usar uma máscara em cada tem-
po”, acrescenta, sobre um cená-
rio que parece não incomodar
os treinadores. “Não seria um
problema. É uma medida de se-
gurança, vale para evitar o risco.
É a mesma coisa para uso de lu-
vas”, afirma o técnico Geninho.
É provável que exista uma
orientação para que profissio-
nais dos grupos de risco não se
exponham ao trabalho, incluin-

do jogos, no início da retomada
das competições, ainda mais
que a liberação da volta à rotina
será gradual nas diferentes
áreas de trabalho da sociedade.
No futebol, isso deve deixar
profissionais como preparado-
res físicos, massagistas e auxilia-
res com mais de 60 anos fora do
banco de reservas. A questão pa-
ra os treinadores é que eles são
profissionais “únicos”, quase in-
substituíveis, o que deverá for-
çá-los a estar à beira do campo.
“Esses não têm jeito e precisa-
mos olhar com mais carinho e
cuidado”, reconhece Cohen.
O cenário também se compli-
ca nos casos de viagens. É possí-
vel que haja a recomendação de
que profissionais do grupo de
risco não façam deslocamen-
tos, especialmente os aéreos, o
que deverá ser avaliado a partir
do cenário de contaminação de
cada cidade. Assim, o trabalho
com os times poderia ser remo-
to. “Dependerá da epidemiolo-
gia local, das autoridades do mu-
nicípio. Não está liberado? En-
tão vai trabalhar por vídeo. A
proibição não é nossa, é dos ór-
gãos de saúde”, destaca Pagura,
ressaltando que as decisões de-
pendem do relaxamento ou não
das medidas de isolamento.
Mas enquanto a volta do fute-
bol parece um cenário distante,
os treinadores aguardam – e tra-
balham remotamente. Afinal,
dos principais clubes do fute-

bol nacional, apenas Grêmio e
Internacional colocaram seus
jogadores em campo para trei-
nos, e ainda assim com uma
série de restrições nos CTs.
Já os técnicos vêm atuando
no planejamento de um futuro,
hoje, imprevisível, e se resguar-
dam em casa. É o caso de Geni-
nho, que faz reuniões virtuais
com dirigentes e membros de
sua comissão no Vitória en-
quanto segue as medidas de iso-
lamento social na sua residên-
cia em Santos. Além disso, pre-

para vídeos com instruções táti-
cas para mostrar as jogadores.
“Vão precisar do treinador
em campo quando estiver mui-
to próximo da volta, com a reali-
zação de trabalhos coletivos. Se-
rá na hora que for reunir todo
mundo, perto dos jogos”, pre-
vê, apontando que não há neces-
sidade de se expor no reinício
das atividades, concentrados
nos preparadores físicos, fisio-
logistas e fisioterapeutas.
Também inserido no grupo
de risco, por ter 67 anos, Vander-
lei Luxemburgo destaca que a
preocupação deveria estar lon-
ge de ser apenas com os idosos.
“Têm morrido bebês, jovens,
tem morrido todo mundo. Pes-
soal de risco somos todos. O ví-
rus não está aliviando ninguém.
Um jovem com doença preexis-
tente é grupo de risco. Não po-
de estar preocupado só com a
gente (de mais de 60 anos). Ho-
je todo mundo tem de estar
preocupado, porque todo mun-
do pode ser contaminado”, aler-
ta o treinador do Palmeiras.
Mas, ainda que temerosos no
cenário inédito, os técnicos tor-
cem pelo retorno do futebol,
com saudade da rotina enquan-
to passam por esse período de
reclusão. “Todo mundo vai vol-
tar com um pé atrás”, admite
Geninho. “Estou nesse meio há
tempo, sonhei com isso, a gente
sente falta da rotina, que é ati-
va”, diz o técnico do Vitória.

‘VAZIO GRANDE’, DIZ LEWIS
SOBRE F-1 SEM PÚBLICO

Após Ferj e demais times
do Rio pedirem o retorno


das atividades, dupla


carioca lamenta e afirma


que não é o momento


Botafogo e Flu são contra volta aos treinos


]Acostumado a correr para milha-
res de fãs, o hexacampeão Lewis Ha-
milton disse que sentirá um “vazio
muito grande” ao dirigir sem a pre-

sença dos torcedores nos arquibanca-
das, medida preventiva ao coronaví-
rus que organizadores de algumas
corridas já anunciaram, casos do GP
da Inglaterra e Áustria. Comparou
prova a dia de teste. A F-1 espera co-
meçar dia 5 de julho, na Áustria.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


CHUCK BURTON/AP

A Federação de Futebol do Esta-
do do Rio de Janeiro (Ferj) e a
maior parte dos clubes cariocas
pediram o retorno dos treinos.
Somente Fluminense e Botafo-
go não assinaram o documento,
subscrito por Flamengo, Vasco,
América, Americano, Bangu,
Boavista, Cabofriense, Fribur-
guense, Macaé, Madureira, No-
va Iguaçu, Portuguesa, Resende


e ainda o Volta Redonda.
O presidente do Botafogo,
Nelson Mufarrej, lamentou a de-
cisão da Ferj. “É questão de coe-
rência o nosso posicionamento
público. Estamos próximos ao
pico da pandemia, com o siste-
ma público perto da asfixia e o
que mais se fala é em lockdown.
O futebol pode esperar. O retor-
no tem de ser orgânico. Respei-
to a atitude dos demais times,
mas entendemos ser a hora de
preservar a saúde de todos e por
isso não assinamos.”
O Fluminense, por meio de
nota oficial, reforçou a posição
do rival Botafogo. “O clube acre-
dita que não é momento de o

futebol brasileiro dar qualquer
sinalização de retorno do espor-
te quando o País inteiro, parti-
cularmente o Rio de Janeiro, es-
tá com extrema dificuldade de
fazer a população cumprir o iso-
lamento social necessário para
reduzir o número de contamina-
ções e mortes por causa da co-
vid-19, e cidades inteiras come-
çam a anunciar medidas ainda
mais severas”, informou.
A Ferj e os demais times afir-
mam que vão cumprir todas as
determinações das autoridades
do governo e de saúde. “Por inú-
meros motivos, os clubes signa-
tários desejam retornar suas ati-
vidades o mais breve que lhes
for possível e permitido”, resu-
me a nota. “E estão prontos pa-
ra reiniciar, em primeira fase,
tão somente os treinamentos,

de forma responsável, restrita,
reduzida, sob vigilância, sem
aglomerações ou presença de
público e em obediência a um
rigoroso protocolo médico de
normas e procedimentos impe-
rativos, sempre comprometi-
dos com a preservação da inte-
gridade da saúde de todos os en-
volvidos e ainda em atenção às
medidas de prevenção e comba-
te à disseminação da covid-19”.
O comunicado divulgado pe-
la Ferj também diz que os trei-
nos “sob a rigorosa vigilância e
exigências estabelecidas si-
tuam-se em posição infinita-
mente inferior ao risco de expo-
sição e disseminação da covid-
19, em se tratando de compara-
ções com inúmeras outras ativi-
dades e segmentos que se en-
contram em franca atividade”.

PROFESSORES

VITOR SILVA/SSPRESS/BOTAFOGO - 16/4/

Mufarrej. Presidente do Botafogo lamenta decisão da Ferj

CESAR GRECO / AG. PALMEIRAS

‘O vírus não está
aliviando. Todos
têm de estar preocu-
pados. Todos podem
ser contaminados’

Técnicos ‘experientes’ terão atenção


especial na retomada do futebol


De olho na saúde. Aos 71 anos, Geninho, técnico do Vitória, está isolado em sua casa, em Santos: ‘todo mundo vai ficar com um pé atrás quando voltar’

FERNANDA LUZ / ESTADÃO

Vanderlei Luxemburgo

Alerta. ‘O risco é para todo mundo’, avisa Luxemburgo

TÉCNICO DO PALMEIRAS

Geninho
TÉCNICO DO VITÓRIA

‘Usar máscara na
volta, em campo,
é uma medida de
segurança, vale
para evitar o risco’
Free download pdf