O Estado de São Paulo (2020-05-10)

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B2 Economia DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Um dos principais efei-
tos da crise sanitária
foi acelerar, ainda que
traumaticamente, a
digitalização das ativi-
dades públicas e priva-
das. Na esfera pública,
o ganho mais esperado é a desburo-
cratização proposta pela Lei


13.874/19. O Decreto 10.278/20 estabe-
lece parâmetros para que os docu-
mentos eletrônicos tenham o mesmo
efeito prático dos documentos físi-
cos, tornando processos corporativos
mais ágeis e baratos. Já o Decreto
10.332/20 estabelece a estratégia digi-
tal do governo para os próximos dois
anos. Se bem implementada, ela deve
digitalizar todos os serviços públicos;
simplificar a abertura, alteração e ex-
tinção de empresas; e oferecer anais
intuitivos, bancos de dados integra-
dos, e mecanismos de avaliação dos
serviços que auxiliarão gestores e ci-

dadãos a propor políticas públicas
baseadas em evidências.
No âmbito privado, a digitalização
está mudando a cadeia de produção e
hábitos de consumo. Na crise, en-
quanto muitos negócios afundam, os
mais digitalizados conseguem nadar.
Já aqueles baseados na rede digital
surfam. Para dar uma ideia, o patrimô-
nio do dono da Amazon, Jeff Bezos, o
homem mais rico do mundo, cresceu
quase US$ 30 bilhões durante a crise.
No outro extremo, contudo, o im-
pacto da digitalização tende a aumen-
tar a exclusão dos mais pobres. Segun-

do o IBGE, entre 2017 e 2018 o núme-
ro de domicílios com acesso à inter-
net no Brasil subiu de 75% para 80%,
mas quase 15 milhões de domicílios
ainda não têm acesso. Cerca de 98%
das pessoas com formação superior
acessam a internet, mas entre as pes-
soas sem instrução são apenas 12%.
O acesso no Brasil está abaixo da
média em comparação com EUA, Eu-
ropa e mesmo vizinhos como Argenti-
na, Chile e Uruguai. Embora o Plano
Nacional de Banda Larga tenha pro-
movido melhoras desde 2010, os ser-
viços ainda são comparativamente

caros e deficientes e cobrem mal as
áreas rurais e as mais pobres.
Um diagnóstico da Unesco sobre
inclusão digital no Brasil recomenda,
entre outras coisas, atualizar os mode-
los regulatórios para mudar o foco da
telefonia fixa para a banda larga; inte-
grar setores públicos e privados para
suprir escolas; e aprimorar a acessibi-
lidade para pessoas com deficiência.
Além da infraestrutura, é importante
que governo, empresas e academia
promovam o letramento digital, em
especial para trabalhadores menos
qualificados.

Alto Escalão


Editorial Econômico


Digitalizar


para crescer


e incluir


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S


em a possibilidade de viajar ao exterior, com o dólar nas alturas e
muitas vezes precisando de dinheiro, o brasileiro tornou-se vende-
dor, em vez de ocupar a tradicional posição de comprador de moeda
estrangeira. Um dos maiores atacadistas do mercado de câmbio, o banco
Ourinvest diz que o movimento nas lojas tem sido 95% de venda de dólar.
Na corretora Travelex Confidence, a busca de clientes interessados em tro-
car dólares por reais já responde por cerca de 80% das vendas de papel moe-
da. Antes, na maioria das casas, a média era de 90% de vendas e 10% de com-
pras. Segundo Bruno Foresti, superintendente de câmbio do Ourinvest, os
serviços de delivery de papel moeda, quando a compra é feita pela internet,
tornaram-se de praticamente apenas retirada nas casas de clientes.


O


trabalho profissional executa-
do em casa, e não no local da
empresa previsto para isso,
não é propriamente uma novidade nes-
te mundo altamente conectado, mas
foi uma das mais relevantes descober-
tas desta temporada de reclusão.
Graças à sua grande capacidade de
redução de custos, veio para ficar e,
mais do que isso, será cada vez mais
praticado no Brasil e no mundo. Mas
atenção: para ser adotado definitiva-
mente, o home office, como o prefe-
rem chamar os anglófilos, enfrenta um
punhado de problemas, especialmen-
te no Brasil, que precisam ser previa-
mente equacionados.
Para começar, a empresa tem de es-
tar disposta a partilhar seus arquivos e
seus sistemas de processamento, sem
medo de que dados sigilosos possam
ser acessados por terceiros e escapar
para onde não devem. Se esse ponto
não estiver bem resolvido, mais cedo
ou mais tarde, a empresa corre riscos
de enfrentar dores de cabeça.
Outro problema é o de que nem to-
dos os funcionários dispõem em casa
de instalações adequadas para tocar
seu trabalho, como escritório, por
mais simples que seja, cadeira confortá-
vel e equipamentos eletrônicos em
bom estado de funcionamento.
E há a exasperante instabilidade das
conexões pela internet. Nestas primei-
ras semanas de confinamento no Bra-
sil, as reclamações de queda do siste-
ma proporcionado principalmente pe-
la Claro e pela Vivo foram recorrentes
e até agora não foram satisfatoriamen-
te atendidas. O fornecedor vende um
plano de banda larga a uma velocidade
de 300 megabits por segundo e entrega
uma fração disso.
Em casa, os funcionários estão tam-
bém muito mais sujeitos a interrup-
ções do trabalho por fatores aleató-
rios. Se chove um pouco mais forte, é
comum nas cidades do Brasil a queda
do fornecimento de energia e, para es-
se caso, é preciso prover baterias ou
nobreaks que podem ser acoplados ime-
diatamente aos computadores.
E não é só por essa via que surgem
imprevistos. Computadores, impresso-
ras e equipamentos periféricos estão
sempre sujeitos a defeitos, bugs e tilts.
Numa empresa organizada, sempre há
uma equipe de plantão para proporcio-
nar socorro imediato. Em casa, é mais
complicado. Contratempos mais sim-
ples podem ser resolvidos a distância
por técnicos, por meio de aplicativos do
tipo TeamViewer, mas sempre podem
acontecer quebra de conexão com servi-
dores eletrônicos ou avarias mais sérias
no próprio hardware do equipamento.

O diretor executivo de tecnologia da
consultoria Accenture na América La-
tina, Fernando Teixeira, observa que,
neste momento, o home office foi im-
plantado às pressas, sem que todos os
requisitos técnicos tenham sido cum-
pridos. Por isso, tanto os funcionários
como seus chefes devem se munir de
dose especial de paciência para enfren-
tar imprevistos. Qualquer um pode ter
filhos ou pessoas idosas na família
que, a qualquer momento, podem exi-
gir cuidados especiais que interrom-
pem tarefas em execução. “Mas se o
sistema do home office for adotado
permanentemente, situações como es-
sas pedirão solução também perma-
nente. Não pode haver perda de quali-
dade no trabalho”, diz.
Teixeira observa, também, que o re-
gime de trabalho em casa não pode se
submeter às mesmas condições de
controle convencional, como registro
de ponto, cálculo de horas extras e
atualização de banco de horas. Embo-
ra já existam aplicativos que, sem inva-
dir a privacidade, monitorem a tela do
computador e contabilizem automati-
camente as horas trabalhadas, nem as
empresas nem a legislação preveem as
situações novas, como essa.
Para o sócio da consultoria PwC Fe-
derico Servideo, “é um pouco incon-
gruente o trabalho remoto com contro-
le de jornada”. Além de atualizações
na legislação, ele sugere que, para não
ficarem presos ao registro de ponto,
empregador e empregado definam me-
tas a serem cumpridas ao longo de um
determinado período, como de um ou
dois dias, semana ou mês, como acon-
tece nos serviços contratados por em-
preitada. “O home office requer traba-
lho muito mais por resultado do que
por tempo de serviço.”
Afora isso, nem todos os problemas
de uma rotina podem ser resolvidos a
distância. É preciso prever, também,
temporadas presenciais que incluam
não só reuniões de grupos com as che-
fias, mas também execução de deter-
minadas tarefas também no escritório
central da empresa. Tudo bem execu-
tar as tarefas em casa, mas o funcioná-
rio não pode se desplugar da cultura da
empresa. / COM GUILHERME GUERRA

»Tá difícil. O vendedor, porém,
nem de longe consegue receber va-
lor próximo aos R$ 5,83 do dólar
comercial de quinta-feira, por exem-
plo, quando a desvalorização bateu
recorde. Ele conseguia vender a
moeda de R$ 5,07 a R$ 5,13. Em tem-
pos normais, o deságio é de 1% a
2%. Além dos custos, a possibilida-
de de exportar dinheiro estrangeiro
ficou mais difícil, o que fez o desá-
gio médio ir a 12%.


»De lá para cá. Outro movimento
percebido pelas empresas da área é
o aumento de remessas. Segundo
Fernando Bergallo, sócio do escritó-
rio de intermediação de câmbio FB
Capital, donos de imóveis no exte-
rior, principalmente nos EUA, têm
refeito hipotecas ou vendido casas
e apartamentos lá fora e trazido de
volta o dinheiro. Para ele, o movi-
mento seria ainda maior se houves-
se mais clareza sobre os efeitos da
pandemia na economia.


»Formigas. Na corretora Ourin-
vest, foram as micro remessas que
aumentaram em pelo menos 35%.
Com a Europa saindo do isolamen-
to e o desemprego crescendo aqui,
muitos brasileiros que trabalham lá
fora têm se tornado provedores das
famílias.


»Virada. Com a baixa circulação
de pessoas, o Grupo Itapemirim,
em recuperação judicial, conseguiu
mudar os porcentuais de pagamen-
to aos credores. A 1ª Vara de Falên-
cias e Recuperações Judiciais em
São Paulo decidiu que os valores
levantados em leilões de imóveis
fossem na maioria (80%) usados
para o custeio da operação. Os 20%
restantes irão para credores, inver-
tendo o proposto anteriormente.
Tudo em caráter excepcional.

»Sem chance. Dono da Viação Ita-
pemirim, o Grupo Itapemirim proje-
tava faturamento 11% maior este
ano – inviável de ser alcançado. Pro-
curado, o grupo não comentou.

»Tá onde? Menos de 20 dias após
o lançamento, metade dos Estados
e municípios já aderiram ao mapa
de calor das teles. A plataforma digi-

tal foi criada para apurar a taxa de
isolamento da população durante a
pandemia. Até agora, 12 Estados e 14
cidades estão aptos a usar o sistema.
Outros 15 estão na fila, cumprindo
procedimentos burocráticos, segun-
do o Sindicato Nacional de Empre-
sas de Telefonia (Sinditelebrasil).

»Brilho. A Vivara antecipou um pro-
jeto, que aconteceria no decorrer de
2020, para impulsionar as vendas de
Dia das Mães em tempos de isola-
mento. A empresa transformou lo-
jas, em sua maioria fechadas, em
centros de distribuição. Assim, com-
pras aprovadas até as 17 horas, são
entregues no dia seguinte. O resulta-
do foi um salto de 695% na receita
de vendas online entre 1º. e 6 de
maio, em comparação com o mesmo
período do ano anterior.

»Quente. A RNI (antiga Rodobens
Negócios Imobiliários) está se aque-
cendo para retomar lançamentos,
logo que a pandemia der trégua. A
companhia fez dois eventos de pré-
lançamentos, fase em que as incor-
poradoras apresentam os projetos a
parceiros comerciais. A partir daí, os
corretores começam a prospectar
clientes interessados em imóveis.

»Em breve. O pré-lançamento foi
para um projeto em São Paulo (no
Jaçanã) e outro em Goiânia (Urias
Magalhães), ambos do Minha Casa
Minha Vida. Ao todo, serão 800 apar-
tamentos e devem movimentar R$
250 milhões.

»Alugou. O Mercado Livre está fe-
chando contratos de locação de qua-
tro novos galpões logísticos. A pande-
mia aumentou as vendas e deu urgên-
cia ao plano de crescimento. Na últi-
ma semana, a empresa acertou a loca-
ção de galpões em Aracaju (SE), Juiz
de Fora (MG) e Guarulhos. Outros
dois estão em fase final de negocia-
ção: Contagem (MG) e Viana (ES).

»Resposta. O Mercado Livre disse
que segue expandindo sua malha lo-
gística. No Brasil, parte dos R$ 4 bi-
lhões a serem investidos em 2020
será direcionada a galpões. A empre-
sa não comentou, porém, sobre as
negociações em andamento.

CRISTIANE BARBIERI, FERNANDA
GUIMARÃES, CIRCE BONATELLI,
TALITA NASCIMENTO E ANNE WARTH

CELSO


MING


SERGEI ILNITSKY /EFE

Klabin tem novo líder para celulose


Alexandre Nicolini é o novo
diretor da unidade celulose,
vindo da Stora Enso. Francis-
co Razzolini, assim, fica dedi-
cado à diretoria de projetos,
tecnologia industrial, inova-
ção e sustentabilidade.


»Cielo. Saiu Danilo Caffaro,
VP de Produtos e Novos Negó-
cios. Ele irá para o Itaú como


diretor de crédito imobiliário.

»BB. Alexandre Alves de
Souza deixou a diretoria de
marketing e comunicação.

»Sem Parar. Armando Netto,
CEO da Fleetcor Brasil, passa
a acumular a liderança da uni-
dade B2C. Fernando Yunes
deixa a companhia.

»Asics. Para presidente na

América Latina foi promovido
Alexandre Fiorati, antes vice-
presidente financeiro. Ele
substitui Pedro Zannoni.

»HempMeds. Caroline Heinz
passa de vice-presidente para
Brasil a CEO global, ao lado
do mexicano Raul Elizalde.

»Brasilprev. Rodrigo Muce-
lin (ex-BB Seguridade) é o
novo superintendente de

gestão estratégica.

»Autopass. Rubens Fernan-
des Gil Filho deixa a presidên-
cia; assume Rodney Freitas,
antes COO de Bilhetagem.

»Boehringer Ingelheim Saú-
de Animal. A nova coordenado-
ra técnica de avicultura no
Brasil é Érica Melo.

»EY. A consultoria anuncia

Rinaldo Ribeiro de Oliveira
novo sócio de cibersegurança.

»Copagaz. Chega para lide-
rar o marketing Emmanuelle
Kalil (ex-Thymus).

»Keyrus. Para Head de Gover-
nança de Dados, Marileusa Cor-
tez (ex-Tivit e Porto Seguro).

»Grupo TrendFoods. O novo
CEO é Carlos Sadaki Kaidei.

Ok com o home office.


Mas há problemas


Home office. Nem sempre é fácil

| LUANA PAVANI | E-MAIL: [email protected]

coluna do


ALINE BRONZATI/ESTADAO

Sem viajar e com câmbio em


alta, brasileiro vende dólar


E-MAIL: [email protected]

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO-9/12/

EPITACIO PESSOA/ESTADÃO - 15/5/

PYRY ANTERO
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