O Estado de São Paulo (2020-05-10)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Como deve ser o Dia das Mães
que, tradicionalmente, pro-
move o almoço de domingo
entre famílias durante a pan-
demia do novo coronavírus?
Se depender da classe artísti-
ca, todo mundo fica em casa
curtindo shows ao longo do
dia. Roberto Carlos e Daniel
farão uma live especial na Glo-


bo e na Band, respectivamen-
te, enquanto Zezé Di Camargo
& Luciano farão streaming no
YouTube. Até Zeca Pagodi-
nho, que no início se mostrou
resistente à realização das li-
ves, decidiu fazer sua apresen-
tação especial para a data.

http://www.estadao.com.br/e/lives

O


lobby da morte cruzou
a Praça dos Três Pode-
res, na quinta-feira,
na marcha do presidente Jair
Bolsonaro e de representan-
tes da indústria até o Supre-
mo Tribunal Federal (STF).
Numa visita-surpresa, o presi-
dente da República foi pres-
sionar o chefe do Poder Judi-
ciário em busca de apoio a
uma atabalhoada reabertura
da economia. Exibiu de novo
seu desprezo pela vida dos
brasileiros e pela ciência médi-
ca, dessa vez com apoio, tal-
vez involuntário em alguns ca-
sos, de porta-vozes do capital
privado. No mesmo dia seria
anunciada a morte de mais
610 pessoas, com o total de
óbitos elevado a 9.146. No Es-
tado de São Paulo, a extensão
da quarentena até 31 de maio,
anunciada no dia seguinte,
marcou o reconhecimento de
um quadro ainda muito adver-
so e com muito risco de vida.
Mas sobra a pergunta: qual a
importância da vida, quando
a prioridade presidencial é
buscar apoio, proteger a si e
aos seus de investigações mui-
to inconvenientes e cuidar da
reeleição em 2022?
Bolsonaro discursou no
STF sem olhar o anfitrião, en-
quanto a cena era transmiti-
da, também sem aviso, por
iniciativa do Executivo. Foi
mais uma baixaria bolsonaria-
na, mas com uma novidade
notável: a presença de coadju-
vantes de elite. O presidente
do Supremo, Antonio Dias
Toffoli, deu a resposta cabí-
vel e em tom civilizado: o iso-
lamento social é a melhor de-
fesa contra a doença, até ago-
ra, é preciso dar atenção à
ciência e, enfim, cabe ao go-
verno federal buscar entendi-
mento com os governos esta-
duais e municipais para plane-
jar a próxima etapa.
A tentativa de repartir com
o Judiciário a responsabilida-
de pela reabertura fracassou.
O presidente Bolsonaro pode-
ria, ouvindo o ministro Dias
Toffoli, ter aprendido algo so-
bre Presidência e governo.
Sairia pelo menos com esse
lucro. Mas esses temas per-

manecem fora de suas preo-
cupações.
A marcha, quase uma inva-
são, ocorreu sem o ministro
da Saúde, empenhado nos úl-
timos dias em defender o lock-
down , um amplo fechamento,
nas áreas em pior situação.
Distante da medicina e da
ciência, e de novo citado qua-
se como aberração pela revis-
ta Lancet , Bolsonaro ainda fa-
laria, na sexta-feira, de um pla-
nejado churrasco para umas
30 pessoas. Programada para
domingo, a festinha deveria
incluir uma pelada. Federa-
ções de futebol têm sido mais
cautelosas. Quem gosta de as-
sistir a um joguinho tem assis-
tido a videoteipes, às vezes
gravados há meio século.
Voltando à quinta-feira: na
saída do STF, o presidente pa-
rou na calçada, com o grupo
em torno dele, e fez um pe-

queno comício sobre a parali-
sia econômica. O ministro da
Economia, Paulo Guedes, re-
forçou a mensagem dramáti-
ca. Mas ninguém falou sobre
os R$ 40 bilhões prometidos
para evitar demissões e ainda
quase intactos, como infor-
mou o Estado na sexta-feira.
Só R$ 413,5 milhões, 1% des-
sa verba, haviam sido libera-
dos até quinta-feira, cerca de
um mês depois de editada a
Medida Provisória (MP) 944.
Essa MP foi parte do pacote
inicial de emergência. Empre-
gadores deveriam sacar esse
dinheiro para cobrir salários,
mas o acesso é reservado a
empresas com folha de paga-
mento processada num ban-
co. Como em outras ações, o
objetivo central foi prejudica-
do por um detalhe socialmen-
te inútil. Nos Estados Unidos,
muitos bilhões de dólares
vêm sendo distribuídos com
o mínimo de complicações,
porque se distingue o essen-
cial do acessório.
Mais uma vez a equipe eco-

nômica agiu, no caso dos R$
40 bilhões, com escasso co-
nhecimento do mundo real.
O mesmo desconhecimento
foi exibido na montagem do
auxílio emergencial a milhões
de trabalhadores informais e
de baixa renda. As filas, a de-
sinformação de milhares de
pessoas e as dificuldades para
formalizar o direito ao recebi-
mento comprovam a enorme
distância entre os gabinetes
de Brasília, especialmente no
atual governo, e o dia a dia da
maior parte da sociedade.
Enquanto a epidemia avan-
ça e mata sem sinais de arrefe-
cimento, a política mais pru-
dente, segundo médicos e eco-
nomistas de respeito, seria
combinar o isolamento com o
máximo de ajuda possível aos
necessitados. Organizações ci-
vis vêm realizando parte des-
se trabalho, com a distribui-
ção de alimentos e de produ-
tos de higiene e limpeza. Há
comida suficiente no Brasil e
essa é uma bênção muito espe-
cial. Um governo mais ativo e
mais comprometido com o so-
corro aos mais vulneráveis es-
taria empenhado em coorde-
nar operações de socorro.
Mas o presidente se mos-
tra mais interessado em aten-
der a outras demandas. Ten-
tando ampliar a lista de ativi-
dades essenciais, incluiu
num decreto segmentos in-
dustriais já liberados em mui-
tos Estados para operar. Só
se exige, nesses casos, a ob-
servância de normas de saú-
de. Indústrias autorizadas a
operar têm reduzido, no en-
tanto, a produção. Nada mais
natural, quando falta deman-
da. Daí a insistência em apres-
sar o abandono do isolamen-
to. É preciso pôr as pessoas
na rua, pouco importando o
risco de maior contágio, já ob-
servado em locais onde a
abertura foi descuidada.
Quem se importa com isso?
Não incluam Bolsonaro nes-
sa lista. Nem as funerárias, já
sobrecarregadas, vêm pedin-
do esse favor ao presidente.

]
JORNALISTA

Líder religioso anunciou fei-
jões para curar a covid-
por R$ 1 mil.

http://www.estadao.com.br/e/pastor

MÚSICA


Dia das Mães será recheado de lives


Influenciador americano
criou um vídeo no TikTok
utilizando um punhado de
arroz para mostrar tamanho
da fortuna de Jeff Bezos.

http://www.estadao.com.br/e/arroz

l“Pois é, mas a intenção é o que conta! Ele já desrespeitou o povo tortu-
rado pelo coronavírus.”
ILTON PALMA

l“Desrespeito um presidente da República fazendo piada em plena pan-
demia. Não é hora de brincadeira, é hora de seriedade.”
AISLAN ROBERTO

l“Dez mil mortes, sem luto, sem respeito. Mais uma palhaçada de
um presidente que comemora a morte de brasileiros.”
FERNANDO RAMOS

l“Foi só mais uma cortina de fumaça pra tentar minimizar tantos
escândalos.”
ALINE OLIVEIRA

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

O equipamento será utiliza-
do em São Sebastião para
medir a temperatura corpo-
ral de pessoas com possíveis
sintomas do coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/drone

Espaço Aberto


“C


om Jânio no poder,
o Brasil dá um salto
no escuro”, regis-
trou premonitoriamente ao fi-
nal de 1960 Carlos Castelo
Branco, o mais influente jorna-
lista político de sua geração, a
propósito da eleição de Jânio
Quadros. Como é sabido, o
próprio Jânio deu o seu salto
no escuro em agosto de 1961,
ao que tudo indica, esperando
voltar por demanda do povo
e/ou das Forças Armadas. A
História nunca se repete, mas
por vezes rima, com frequên-
cia ensina e, de quando em
vez, a muitos desatina.
A chegada do coronavírus,
com sua exponencial velocida-
de de disseminação e as exi-
gências que impôs à nossa li-
mitada capacidade hospitalar,
representa um tipo de salto
no escuro com dor, sofrimen-
to e angústia, especialmente
para os mais vulneráveis, que
são maioria. A ideologia negati-
vista e o achismo multiplicam,
também exponencialmente,
custos humanos e sociais da
crise, e tornam ainda mais as-
sustador esse salto no escuro.
Pressão estrutural por gastos
públicos
foi o título comum a
uma série de três artigos que
publiquei neste espaço entre
março e maio de 2017. Em
meio a uma pandemia, o au-
mento expressivo de gastos e
o endividamento público são
inevitáveis para salvar vidas e
mitigar os efeitos da parada
súbita da oferta, da demanda e
de suas consequências sobre
pessoas e empresas. É tam-
bém fundamental, embora me-
nos consensual, evitar que se
tomem agora decisões de gas-
tos que assumam depois cará-
ter permanente.
O Brasil será, apontei naque-
les artigos, um “estudo de ca-
so” de interesse e relevância
globais pela rapidez de sua
transição demográfica, tanto
no crescimento populacional
dos anos 1950 aos anos 1990
quanto na redução posterior
nas últimas duas décadas. Nos-
so bônus demográfico está a se
exaurir: a população em idade
ativa cresce a uma taxa menor
que a de crianças e idosos e vai


se estabilizar na próxima déca-
da. Somos um país que corre
sério risco de ficar velho antes
de superar a armadilha da ren-
da média. A urbanização (sem
paralelo no mundo) que conhe-
ceu o Brasil gerou, por outro la-
do, demandas que exigiram e
exigem de governos respostas
em três grandes áreas: em in-
fraestrutura física, em infraes-
trutura humana e, por fim,
com especial força após a de-
mocratização, respostas com
relação à pobreza e distribui-
ção de renda e oportunidades.
O coronavírus, com suas
consequências, acentuará a
pressão estrutural por maio-
res gastos públicos nessas três
grandes áreas. E o fará com
uma força inédita em razão da
forma como veio escancarar,
como fraturas expostas, nos-
sas enormes carências, pobre-
za e desigualdade. Na respos-

ta a essas carências reside o
risco de que governos extrapo-
lem os limites de suas capaci-
dades – de tributar, de bem ge-
rir seus gastos, de se endivi-
dar, de reformar e de investir.
O risco de que adotem cursos
de ação que agravem os pro-
blemas e os transfiram, acen-
tuados, para futuras gerações.
É fundamental, ao longo da-
qui até 2022, que haja debate
sério, baseado em evidências,
sobre a composição de gasto
público, nos três níveis de go-
verno, e sobre sua eficácia ope-
racional, o que exige avaliação
rigorosa dos resultados de pla-
nos e programas, e não apenas
de intenções e promessas.
Há escolhas particularmen-
te difíceis a fazer. Como sa-
bem todos os que tiveram al-
guma experiência na vida pú-
blica, nem tudo é possível, ou
factível, porque desejável.
Nunca será demais apontar,
como fez recentemente o mi-
nistro Barroso (citando Hol-
mes), que “políticas e progra-
mas se julgam por seus resulta-

dos, não por suas intenções”.
Entre ambos, com frequência,
“desce a sombra”, como disse
um poeta, e por vezes “uma
sombra ambulante”, como es-
creveu, sobre a vida, o drama-
turgo maior.
A superação desta crise, que
é a um só tempo de saúde pú-
blica, econômica, social e hu-
mana, exigirá serenidade, enge-
nho e arte. Exigirá o exercício
da política entendida como a
arte de (tentar) tornar possí-
vel amanhã o que parece im-
possível hoje, ou, como gosta
de vê-la Paulo Hartung, enten-
dida como a “arte de pensar as
mudanças e fazê-las efetivas”.
Na difícil quadra em que nos
encontramos, parece defini-
ção especialmente apropriada.
Em democracias, a frustra-
ção com promessas não cum-
pridas sempre pode ter solu-
ção por meio de eleições regu-
lares, nas datas previstas. No
período que media uma elei-
ção e outra é comum surgir as-
simetria importante entre as-
pirações e a capacidade de ma-
terializá-las. Pensar as mudan-
ças e, sobretudo, fazê-las acon-
tecer no mundo real exigem
esforço coletivo, capacidade
de articulação, coordenação,
convencimento, e busca das
convergências possíveis. Só
por meio de diálogo, compro-
missos e mediação entre inevi-
táveis conflitos de interesses
será possível avançar. A últi-
ma coisa que precisa o Brasil é
de uma Presidência da Repú-
blica que, em vez de protago-
nista da solução, seja parte ati-
va do problema “quase” políti-
co-institucional do País.
“O homem sábio ajusta
suas crenças às evidências”, es-
creveu David Hume. Os nega-
cionistas, com dissonância
cognitiva, reforçam ainda
mais suas crenças diante de
quaisquer evidências contrá-
rias a elas. Isso inclui o risco
de novos saltos no escuro,
além daqueles que já demos.
Até quando o faremos?

]
ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA
FAZENDA NO GOVERNO FHC
E-MAIL: [email protected]

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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Educação financeira
cabe em 60 segundos

Drone é usado para
detectar infectados

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DADO RUVIC/REUTERS PM DE SÃO SEBASTIÃO

]
Pedro S. Malan


Tema do dia


Relatos apontam para supos-
tas irregularidades cometi-
das no último ano.

http://www.estadao.com.br/e/infraestrutura

Saltos


no escuro


A superação desta crise

- de saúde, econômica,
social – exige engenho,
arte e serenidade


O lobby da morte


na incursão ao Supremo


Bolsonaro defende
reabertura, mas
o governo falha até
na ajuda já anunciada

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
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  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Bolsonaro desiste


de churrasco


no Alvorada


Em suas redes sociais, presidente ainda
chamou de ‘churrasco FAKE’ (falso)
evento que ele mesmo anunciou

]
Rolf Kuntz

WILTON JÚNIOR/ESTADÃO COVID-

No estadao.com.br


RELIGIÃO

Procuradoria quer
investigar pastor

MINISTÉRIO

Radar anticorrupção
recebe 269 denúncias
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