O Estado de São Paulo (2020-05-10)

(Antfer) #1

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B4 Economia DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Fernando Scheller
Mônica Scaramuzzo


Enquanto a maior parte das
lojas está fechada por causa
do combate à epidemia do co-
ronavírus, os departamentos
de recursos humanos se-
guem na ativa nos bastidores
para contratar centenas de
profissionais de tecnologia
para colocar em pé projetos
digitais de gigantes do comér-
cio tradicional. E estão conse-
guindo atrair profissionais
que até pouco tempo atrás
atuavam em startups.

A Guararapes, dona da Ria-
chuelo, montou em 15 dias um
novo aplicativo de venda onli-
ne. A solução permite a venda
por celular, WhatsApp e por
meio de uma rede de clientes
criada por funcionários. Segun-
do o diretor executivo de tecno-
logia e inovação da empresa,
Carlos Eduardo Alves, isso só
foi possível porque, mesmo nes-


se período de isolamento so-
cial, a companhia continua com
o pé no acelerador quando o as-
sunto é RH.
No ano passado, a Guarara-
pes adicionou 438 trabalhado-
res para à equipe. E, ao longo de
2020, planeja mais 140 contrata-
ções. “As pessoas estão em bus-
ca da segurança de empresas
mais estabelecidas. Só não está
mais fácil ainda de contratar
porque várias grandes compa-
nhias estão indo a mercado pa-
ra tirar projetos online do pa-
pel”, diz o executivo. Ou seja: a
Guararapes agora disputa essa
mão de obra com seus pares.
A gigante de eletroeletrôni-
co, por exemplo, Via Varejo con-
tratou 200 profissionais em ple-
na quarentena. A companhia
acelerou o processo de transfor-
mação digital iniciado no fim
do ano passado. “Com a pande-
mia, decidimos acelerar os pla-
nos”, diz Rosi Purceti Bala-
bram, diretora de pessoas e per-

formance. A gigante tem ido
atrás de profissionais que traba-
lhavam em startups.
A dona da Casas Bahia e Pon-
to Frio trabalha atualmente em
nada menos de 400 estratégias
para se tornar mais digital. “Es-
tamos na contramão da crise.
Queremos sair dela mais forta-
lecidos. Por isso, aceleramos
nossos planos”, diz Rosi. A Via
Varejo tenta recuperar o terre-
no perdido para o Magazine Lui-
za, sua concorrente direta e refe-

rência em atuação digital no va-
rejo brasileiro.
O Grupo Boticário tem mais
de 3 mil lojas, mas também está
focado no desenvolvimento de
soluções online. A expansão da
área de inovação consumirá R$
300 milhões e resultará em 200
contratações. Entre os projetos
atuais está a construção de um
novo app para as revendedoras
porta a porta. Hoje, 37% das re-
ceitas da companhia já têm ori-
gem do segmento digital.

Captação de talentos. Durante
a pandemia, as varejistas têm fei-
to ofensivas para captar pessoas
que trabalhavam em negócios
digitais. Foi o que ocorreu com
Tatiane Fukuda, de 39 anos. Ela
trocou a startup especializada
em logística Loggi pela Via Vare-
jo em plena quarentena.
Com experiência em desen-
volvimento de softwares, Tatia-
ne recebeu uma proposta para
ser chefe da área de qualidade
de software das lojas físicas e do

e-commerce da Via Varejo.
A executiva começou a traba-
lhar na semana passada. “Foi
muito rápido. “Não vejo a Via
Varejo como uma empresa tra-
dicional. Ela busca acelerar sua
transformação para avançar so-
bre o concorrente”, ressalta.
A Via Varejo, aliás, virou negó-
cio de família para Tatiane. Seu
marido deixou uma startup de
educação pela varejista. Em
tempos de coronavírus, os dois
trabalham juntos – e de casa.

Mão de obra chega para


‘virada’ online do varejo


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l Equipe em formação

A Childhood Brasil trabalha há mais de
20 anos na prevenção e enfrentamen-
to do abuso e da exploração sexual de
crianças e adolescentes. Sabemos que
interrupçõesnaescolaenodiaadia
fazem com que meninos e meninas per-
cam o contato com adultos protetores,
além de aumentar o tempo que passam
on-line. Em tempos de Covid-19, já ve-
mos um aumento da violência domésti-
ca,doaliciamento(contatoatravésde
meios digitais para fins sexuais) e de
maior disseminação de material sexual
nasredes.Apenasjuntosconseguire-
mos mudar essa realidade.

VOCÊ QUE É ADULTO Fique aten-
to ao que acontece com as crianças e
adolescentes ao seu redor, que nem
sempre se encontram em um ambiente
familiar seguro. Mostre que você está
presente. Denuncie se suspeitar que a
segurança de alguma criança está em
risco. Acompanhe o que meninos e me-
ninas sob sua responsabilidade fazem
on-line. E explique que a maioria das
regras da vida real, com relação a pro-
teçãoesegurança,tambémvalempara
o ambiente digital.

VOCÊ QUE É CRIANÇA OU
ADOLESCENTE Não guarde seg-
redo se você ou um amigo estiverem
desconfortáveis ou tristes com alguma
situação. Lembre-se: é responsabilida-
de dos adultos proteger e garantir que
ninguémfaçamalavocês.Falecom
umadultodeconfiançaoudenuncie
caso alguém estiver te machucando,
ameaçando ou fazendo algo que te
incomode em casa, no ambiente on-line
ou em qualquer outro lugar. Você não
estásozinhoenuncaésuaculpa.

DENUNCIEEMCASODEQUALQUERSUSPEITA.
DISQUE 100 DE QUALQUER TELEFONE
BAIXEOAPPDIREITOSHUMANOSBR

Em meio à quarentena, a busca
por profissionais de tecnologia
continua aquecida. Mesmo em-
presas tradicionais que sempre
resistiram ao home office deci-
diram se adaptar para contratar
novos funcionários que traba-
lharão à distância por um futu-
ro ainda indefinido.
Foi no dia da determinação
da quarentena em Florianópo-


lis, onde vive, que Wesley Gou-
lart Siqueira, 38 anos, tomou a
decisão de sair da startup de cu-
pons Peixe Urbano, empresa
em que trabalhava havia 8 anos.
Ficou sabendo da vaga na Gua-
rarapes, dona da Riachuelo. Em
questão de dias, participava do
processo seletivo. “Meu medo
era ter de viajar a São Paulo para
fazer entrevista e ter de entrar

em quarentena”, lembra.
Isso não foi necessário, pois
todo o processo de contratação
foi online. A entrevista de em-
prego foi por telefone. E o envio
dos equipamentos necessários
para iniciar as atividades ocor-
reu rapidamente, mesmo com
as restrições ao transporte ro-
doviário. Apesar de exercer
uma função de coordenação –

gestão de sistemas –, Wesley
não tem, por ora, previsão de
mudar-se para São Paulo, onde
fica a sede da empresa. “A Ria-
chuelo não tinha tradição de tra-
balhar em home office, mas se
adaptou de forma rápida. Para
mim, uma das coisas que conta-
ram foi a oportunidade de traba-
lhar em uma transformação di-
gital de um negócio.”

Demissão inesperada. Embo-
ra atuando em um setor em que
há escassez de mão de obra, o
início da quarentena foi tenso
para a publicitária Maitê Peres
Gonçalves, 28 anos. Ela foi sur-
preendida ao ser demitida do
banco digital C6, no início do
mês passado.
O período de desemprego, no
entanto, foi bem curto: 15 dias

depois, foi chamada para traba-
lhar na Via Varejo, dona da Ca-
sas Bahia e do Ponto Frio. Maitê
é UX writer e escreve textos de
telas de aplicativos. “Muitas
pessoas foram dispensadas do
C6 e passaram a ser sondadas
por outras empresas.”
A maior dificuldade, para ela,
é trabalhar à distância no em-
prego novo. Ela começou a tra-
balhar no início de maio e, as-
sim como Wesley, da Guarara-
pes, ainda não colocou os pés
na nova empresa. / F.S. e M.S.

Estados devem voltar a atrasar salários. Pág. B5 }


FELIPE RAU/ESTADÃO

578
é o total de funcionários de TI
que a Riachuelo vai contratar
nos anos de 2019 e 2020

200
funcionários foram contratados
pela Via Varejo na quarentena

Entre as empresas que estão roubando profissionais de startups


estão o Grupo Boticário e as donas da Riachuelo e da Casas Bahia


Troca na quarentena. Tatiane Fukuda deixou a startup Loggi para trabalhar na Via Varejo

De startups ‘cool’ para varejistas com décadas de estrada

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