O Estado de São Paulo (2020-05-10)

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B10 Economia DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


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Para a indústria dos games, o
efeito econômico da pandemia
pode gerar dificuldades para os
novos consoles da Sony e da Mi-
crosoft, que há muito planejam
o lançamento dos próximos
PlayStation e Xbox para o se-
gundo semestre desse ano. Nor-
malmente, uma troca de gera-
ção de videogames acontece
apenas a cada sete ou oito anos,
atraindo enorme atenção dos
fãs de jogos eletrônicos.
Normalmente, o lançamento
de uma nova geração de conso-


les gera impactos por algumas
temporadas na indústria. Gran-
de parte do cronograma de lan-
çamento de jogos para 2020 e
2021 foi planejado de acordo
com a estreia dos novos Playsta-
tion 5 e Xbox Series X.
Na última quinta-feira, a Mi-
crosoft mostrou os primeiros
13 títulos que estarão disponí-
veis no lançamento do Xbox,
ainda sem data específica.
Empresas como EA, Ubisoft
e Activision, que têm capital
aberto na bolsa de valores, pas-

sam anos desenvolvendo os jo-
gos que estarão disponíveis pa-
ra o público testar os novos con-
soles. “Novos jogos são o que
realmente mantém o mercado
funcionando”, diz Mat Piscatel-
la, analista da consultoria ameri-
cana NPD Group. “Se os conso-
les demorarem, isso terá um im-
pacto no que estamos vendo no
mercado, sem dúvida.”
Tanto a Microsoft quanto a
Sony disseram que seus conso-
les continuam em preparação,
mas, internamente, estão ava-
liando o cenário para os lança-
mentos. Yves Guillemot, presi-
dente executivo da Ubisoft, dis-
se que a Microsoft e a Sony “pos-
sibilitaram que nossos desen-
volvedores continuassem usan-

do seus kits de desenvolvimen-
to para seguirmos criando jo-
gos de última geração”, mesmo
trabalhando remotamente. Ele
faz referência a máquinas que
ajuda os criadores de jogos a tes-
tarem os games antes deles se-
rem lançados. Segundo Guille-
mot, porém, caso os consoles
não cheguem às lojas no segun-
do semestre, ele pode adiar o
lançamento dos jogos.
“Não estamos vendo um im-
pacto significativo em nossos
próprios cronogramas, mas es-
tamos em contato com todos os
nossos parceiros e, se houver
necessidade de ajustes para fa-
zer o melhor para eles e para
nossos jogadores, faremos is-
so”, disse Guillemot. / J.S.

Jason Schreier
THE NEW YORK TIMES


Os primeiros dias de isolamen-
to social por conta do corona-
vírus pareciam ser tudo o que
a indústria dos games pediu
aos céus. Com muita gente in-
quieta e entediada em casa, os
jogos contemporâneos – por
vezes com mais de 100 horas
de duração – se tornaram o
meio perfeito para quem bus-
cava uma distração permanen-
te. Lançado no início de mar-
ço, o jogo de tiro Doom Eter-
nal teve a melhor estreia da
série, iniciada em 1994. Quase
idílico, o jogo de simulação
com animais fofos da Ninten-
do, Animal Crossing, virou
um hit na quarentena, venden-
do mais de 13 milhões de có-
pias em seis semanas.

Não é só: sem esportes tradi-
cionais no ar, canais por assina-
tura agora mostram partidas de
videogame. Já o Twitch, site es-
pecializado em transmissões
de jogos, teve 3 bilhões de horas
de vídeo visualizados em um
único trimestre – um recorde,
segundo a plataforma Stream-
labs.“O setor de jogos é uma
das áreas para as quais as pes-
soas estão olhando e dedicando
o tempo que usariam com ou-
tras atividades em um mundo
normal”, disse Mat Piscatella,
analista da consultoria NPD
Group, que acompanha o mer-
cado de games nos EUA. “As
vendas de jogos que estão sen-
do lançados estão quebrando re-
cordes e mais recordes.”


Atrasos e incertezas. Mas
quem acredita que esta pode
ser uma era dourada dos games
está enganado. Com uma crise
de duração e intensidade ainda
imprevisível, as empresas que
criam jogos estão preocupadas
se serão capazes de manter o rit-
mo de lançamentos. Afinal, es-


critórios e fábricas estão fecha-
dos e os designers de jogos es-
tão em suas casas, com filhos
disputando a atenção. De que-
bra, é preciso dizer que 2020 ti-
nha tudo para ser um ano inten-
so para os games, por conta do
lançamento dos novos conso-
les PlayStation 5 e Xbox Series
X (leia mais abaixo).
Fabricante do PlayStation e
responsável por dezenas de títu-
los, a Sony disse que iria atrasar
o lançamento de um dos jogos
mais esperados dos últimos
anos. Previsto inicialmente para
29 de maio, a aventura pós-apo-
calíptica The Last of Us: Part II
agora chegará ao mercado em 19
de junho. Responsável pelo ga-
me, a Naughty Dog disse que o
atraso ocorreu devido aos desa-
fios de imprimir, enviar e vender
as cópias físicas dos jogos.
A gigante japonesa não está
sozinha. A Amazon, que preten-
de atacar o mundo dos games,
adiou o jogo online New World

para agosto, enquanto tenta tra-
balhar remotamente para “al-
cançar a qualidade desejada”,
disse a empresa. A japonesa
Square Enix teve de adiar uma
grande atualização para o seu jo-
go online “Final Fantasy XIV”.
A Microsoft, responsável pelo
console Xbox e por outros títu-
los, adiou o lançamento do RPG
Wasteland 3 de 19 de maio para
28 de agosto, com “desafios lo-
gísticos” entre as explicações.
Outras empresas acharam
mais fácil se adaptar. A francesa
Ubisoft, responsável por títu-
los como Far Cry e Assassin's
Creed, tem 17 mil funcionários
em 55 estúdios diferentes, espa-
lhados pelo mundo. A empresa
redistribuiu seus grupos de tra-
balho, uma vez que diferentes
países têm regimes diversos pa-
ra as ordens de confinamento.
“Mudamos parte de nosso tra-
balho de garantia de qualidade e
testes da Índia para a China, en-
quanto nosso estúdio em Pune
estava passando a trabalhar em
casa”, disse Yves Guillemot, pre-
sidente executivo da francesa.
“Também aprendemos muito
com nossos estúdios na China,
que tiveram que lidar com isso
primeiro e compartilharam
suas experiências conosco”.
Forrest Dowling, presidente
do Molasses Flood, um estúdio
independente com sede em Bos-

ton, disse que ainda espera lan-
çar seu novo jogo Drake Hol-
low, em junho. Como o jogo é
apenas digital, a empresa de
Dowling tem mais flexibilida-
de. “Estamos analisando a situa-
ção a cada semana”, disse ele.
Além disso, existem alguns as-
pectos do desenvolvimento de
jogos que não podem ser realiza-
dos em casa. É o caso da captura
de gestos, um processo caro no
qual um ator fica em um palco
sonoro e imita os movimentos
dos personagens, com uma
série de sensores plugados em
seu corpo. Essas ações são filma-
das e transformadas em anima-
ções que podem ser usadas nos
jogos pelos desenvolvedores.

Sem agenda. Eventos cancela-
dos ou atrasados também lança-
ram obstáculos no caminho
dos lançamentos. Dowling ha-
via planejado revelar Drake Hol-
low à imprensa na GDC, evento
anual que aconteceria em mar-
ço, em São Francisco, mas foi
cancelado. As grandes fabrican-
tes de jogos ainda estão se esfor-
çando para descobrir os planos
de substituição para a E3, a con-
venção de videogame realizada
em junho, na qual os maiores
lançamentos são anunciados.
Os desenvolvedores que de-
pendiam desses eventos para fe-
char acordos de marketing ou
encontrar financiamento para
seus jogos, agora enfren-
tam consequên-
cias desastrosas.
Jukka Laakso, di-

retor executivo do estúdio fin-
landês Rival Games, escreveu
em um blog no dia 10 de abril
que estava fechando a empresa.
O estúdio já estava em crise, dis-
se ele, mas a pandemia “inter-
rompeu todas as chances que tí-
nhamos e nos deixou perdidos
no escuro, sem saída”.
Outro grande obstáculo lo-
gístico para o setor dos videoga-
mes em 2020 será obter a certifi-
cação, um processo exigido pe-
los principais fabricantes de
consoles: Nintendo, Microsoft

e Sony. Antes que qualquer de-
senvolvedor possa lançar um jo-
go, essas empresas querem ga-
rantir que não haja falhas. Mas
os testadores de certificação
dessas empresas agora estão tra-
balhando remotamente, o que
levanta questões sobre seguran-
ça e produtividade. Os desen-
volvedores temem que, com tu-
do demorando mais do que o
normal, uma enorme fila de es-
pera possa surgir.

Possível. Se as medidas glo-
bais de quarentena continua-
rem depois de junho, atrasos pa-
ra muitos dos lançamento de jo-
gos podem ser inevitáveis. A ex-
ceção pode ficar com jogos lan-
çados anualmente, como os jo-
gos de tiro Call of Duty, que a
Activision lança todos os anos,
desde 2005. Ou títulos esporti-
vos como o game de futebol FI-
FA, da EA, que sempre chega às
lojas entre agosto e setembro.
Outros desenvolvedores es-
tão tentando seguir como po-
dem, entre reuniões online e
pausas para ajudar os filhos com
a lição de casa. Durante os pri-
meiros dias da quarentena, a mo-
tivação do estúdio belga Larian
Studios estava alta. Mas confor-
me as pessoas avançaram no iso-
lamento, trabalhando em horá-
rios específicos ou incomuns, as
dificuldades de comunicação e
produtividade surgiram.
“Começamos a passar mais
dias só nos comunicando, ten-
tando resolver problemas e
orientando as pessoas”, disse
Swen Vincke, presidente do es-
túdio. Segundo ele, a empresa
está operando com 70% de sua
produtividade normal e espera
conseguir entregar uma versão
para testes de seu novo jogo,
Baldur’s Gate 3, ainda este ano.
“O desenvolvimento está em
andamento”, disse Vincke. “Es-
tamos só diminuindo o ritmo.” /
TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


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Isolamento social causado pela pandemia faz com que público procure cada vez mais games e transmissões de partidas, mas atrapalha


criação de jogos; atrasos e filas de certificação podem afetar lançamentos, enquanto estúdios que estavam em crise ficam sem saída


l Contraste

l Fazendinha

Venda de games sobe, mas


produção sofre com atrasos


“O setor de games é uma
das áreas para as quais as
pessoas estão dedicando
seu tempo.”
Mat Piscatella
ANALISTA DA NPD GROUP

“Estávamos em crise, mas a
pandemia nos deixou no
escuro, sem saída.”
Jukka Laakso
DIRETOR EXECUTIVO DA RIVAL GAMES

Pós-apocalíptico. Esperado há anos, The Last of Us: Part II teve lançamento adiado para o PlayStation 4; estúdios têm problemas para fabricar e enviar jogo físico

13,4 milhões
de cópias do jogo Animal Cros-
sing, da Nintendo, foram vendi-
das desde 20 de março. Hit da
quarentena, o game traz um si-
mulador da vida real, com ilhas,
nabos e animais fofos

FOTOS REPDRODUÇÃO

Novos consoles podem


estrear com poucos títulos


Xbox Series X.
Novo console
da Microsoft
deve estrear
no segundo
semestre, mas
terá jogos?
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