O Estado de São Paulo (2020-05-10)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 Especial H5


Caderno 2


ARTE DE DOMINGOS OLIVEIRA


Homenagem*


Luiz Zanin Oricchio


Quatro atores e quatro atrizes,
reunidos no apartamento de
um deles e conversando sobre
sua profissão compõem Os 8
Magníficos
, último trabalho de
Domingos Oliveira (1939-
2019), inédito ainda no circuito
comercial. O filme pode ser vis-
to, juntamente com outras 13
obras do diretor, na plataforma
http://www.inff.online., de forma gra-
tuita até 31 de maio. Completa o
ciclo online o longa documentá-
rio Domingos, sobre o cineasta,
dirigido por Maria Ribeiro, uma
das “magníficas”.
O resto do grupo é formado
por Fernanda Torres, Carolina
Dieckmann, Sophie Charlotte,
Wagner Moura, Du Moscovis,
Alexandre Nero e Mateus Sola-
no. Domingos preside a reu-
nião da turma e, por vezes, a
transforma em lúdica dinâmica
de grupo, no qual os profissio-
nais, todos bem conhecidos do
público, falam de inquietações,
inseguranças, alegrias e aspira-
ções de vida e de palco. Uns fa-
lam mais que os outros. Entre
as mulheres, Fernanda Torres
se destaca. Entre os homens,
Wagner Moura.
O trabalho de câmera evita en-
quadramentos óbvios e, na
maior parte do tempo, a tela é
divida em duas – uma câmera
em close sobre quem está falan-
do, a outra, em plano geral so-
bre o grupo, reunido ora nos so-
fás da sala, ora em torno de uma
mesa. Telas divididas são como
sapatos novos; incomodam só
no começo, depois a gente se
acostuma e passa a gostar.
É um longa agradável, celebra-
ção da arte da atuação, que Do-
mingos, ele próprio ator, tinha
em alta conta. Uma despedida
digna do grande cineasta que
foi exibida apenas no Festival
do Rio do ano passado.
Tanto o último filme como o
documentário em sua homena-
gem podem ser boas introdu-
ções ao universo estético de Do-
mingos, aliás muito bem repre-
sentado na mostra online. A co-
meçar por suas obras inaugu-
rais, nos anos 1960, Todas as Mu-
lheres do Mundo
(1966) e Edu,
Coração de Ouro
(1967).
Todas as Mulheres, com Paulo
José e Leila Diniz, é uma das
obras-primas do cinema brasi-
leiro. Numa época muito politi-
zada no cinema nacional (refle-
tindo o clima do País), Domin-
gos destoava, falando de rela-
ções amorosas, de encontros e
desencontros. Isso numa chave
muito moderna, tanto do ponto
de vista comportamental quan-
to estético, filmando com leve-
za nouvelle vague e tendo dois
protagonistas jovens, talento-
sos e bonitos, que brilhavam na
tela. O filme não perdeu nada
do seu encanto.
Os outros títulos disponíveis
são da fase mais contemporâ-
nea de Domingos e abrangem
desde os premiados Carreiras
(2005), Amores (1998) e BR 716
(2016) até obras menos conhe-
cidas, como Paixão e Acaso
(2012). Completam o ciclo In-
fância
(2014), Juventude (2008),
Separações (2002), Aconteceu na
Quarta-feira
(2018) e Feminices
(2004).
A obra de Domingos é intensa-
mente pessoal. Muita gente o
compara a Woody Allen, e não
deixa de ter razão. Mas talvez
Éric Rohmer seja uma referên-
cia ainda mais forte – se é que
precisamos de referências para
situar obra tão original. A pega-
da é autoral, centra-se me rela-
cionamentos humanos e amo-
rosos e, quase sempre, em histó-
rias que se passam na zona sul


carioca. Não por acaso, seu ex-
traordinário ensaio memoria-
lístico BR 716 , vencedor do Fes-
tival de Gramado, refere-se ao
seu apartamento de juventude
situado na Rua Barata Ribeiro,
em Copacabana.
A mostra Domingos Oliveira
online é promovida pela Circui-

to Inffinito de Festivais, dirigi-
do por Adriana L. Dutra, Clau-
dia Dutra e Viviane Spinelli. O
grupo organiza os festivais de
cinema brasileiro em Miami e
Nova York. Para discutir a obra
de Domingos, haverá uma série
de lives no Instagram (Teatro
Ilustre Produções Artísticas).

CICLO CELEBRA


GRACIELE LACERDA

Com 14 filmes do diretor, incluindo o seu último trabalho,


‘Os 8 Magníficos’, mostra online pode ser vista até dia 31


Mestre. Vão estar em exibição obras inaugurais como ‘Todas as Mulheres do Mundo’ (1966)
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