O Estado de São Paulo (2020-05-10)

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 Especial H7


Sem intervalo


Guilherme Sobota


Little Richard, um dos nomes
mais importantes da música po-
pular no século 20, morreu neste
sábado, 9, aos 87 anos. A informa-
ção foi confirmada pelo seu filho,
Danny Penniman, à revista ameri-
cana Rolling Stone. A causa, segun-
do o advogado do músico, Bill Sto-
ne, seria um câncer nos ossos.
Desde os anos 1950, Little Ri-
chard — o nome artístico de Ri-
chard Wayne Penniman — foi a
voz de diversos sucessos do rock
and roll, como Tutti-Frutti , Long
Tall Sally
, Good Golly Miss Molly ,


Lucille , e diversos outros.
Ao mesmo tempo influencia-
do pelo gospel e pelo blues, de
personalidade explosiva e uma
habilidade única ao piano, Ri-
chard é hoje considerado um
dos pais do rock and roll como o
conhecemos, e suas músicas se
tornaram parte do cânone do gê-
nero pelas gerações seguintes.
Richard nasceu em dezembro
de 1932, em Macon, Georgia, lo-
cal marcado pela segregação ra-
cial, e tocou saxofone na banda
da escola. Aos 14 anos, como a
“Princesa Lavonne, a excentrici-
dade do ano”, Richard se apre-
sentou vestido de mulher no
show de Sugarfoot Sam, um ar-
tista local.
Em casa, sempre cantou mui-

to alto, e ganhou o apelido de
“War Hawk” (falcão de guerra).
De família religiosa, cantava nos
cultos da New Hope Baptist
Church, uma igreja pentecostal
que privilegiava a música. De
1955 a 1958, conheceu o sucesso.
A gravação de Tutti Frutti —
música considerada a “mãe” do
rock — aconteceu meio que por
acaso em 1955. Na época, a Atlan-
tic Records investia para tornar
o jovem Richard numa espécie
de rival de Ray Charles e contra-
tou músicos que trabalhavam
com Fats Domino para uma ses-
são com Richard. No início, na-
da de especial aconteceu. De re-
pente, no estúdio, ele começou a
martelar seu piano e a gritar
“Tutti Frutti”, além de vocalizar

a batida da bateria: “a-wop-bop-
a-loo-lop-a-lop-bam-boom”. Ele
havia bolado o ritmo trabalhan-
do em meio período como aju-
dante numa estação rodoviária.
Depois vieram outras faixas,
como Long Tall Sally , Lucille e
participações em filmes como
The Girl Can't Help It , tudo ainda
nos anos 1950, quando Richard
“largou” a música pela primeira
vez. Ele voltou à igreja e seus
próximos passos se deram no
campo gospel.
Ele retornou ao rock secular
em 1964, saudado por jovens ta-
lentos como os Rolling Stones e
Bob Dylan. Quando tocou em
Hamburgo a banda de abertura
era os Beatles. “A gente ficava
nos bastidores do Star-Club em

Hamburgo assistindo a Little Ri-
chard tocar”, disse John Lennon
mais tarde. “Ele costumava ler a
Bíblia e a gente sentava em volta
só para ouvir ele falar. Eu ainda o
amo e ele é um dos maiores.”
Nos anos 1970, ele ainda des-
frutava de um destaque no cir-
cuito do rock and roll, com per-
formances enérgicas e martelan-
do o piano, ao mesmo tempo em
que lutava contra o vício em dro-
gas e seguia na igreja.
Ao longo da vida, a sexualida-
de de Richard foi tema constan-
te de especulações. Seus trejei-
tos extravagantes e visual andró-
gino, especialmente no início da
carreira, deram o tom para mui-
tos outros artistas que surgiriam
nos anos seguintes, como Elton

John, David Bowie e Prince.
Nos anos 1980, participou de fil-
mes como Um Vagabundo na Alta
Roda (Down and Out in Beverly
Hills) e das séries de TV Três é De-
mais e Miami Vice. Em 1986, foi
conduzido ao Hall da Fama do
Rock ‘n’ Roll como um dos “10 ori-
ginais”, e, em 1993, ganhou um
Grammy honorário pelo conjun-
to da obra.
Sua última gravação conhecida
é de 2010, em um álbum tributo à
cantora gospel Dottie Rambo.
Após 65 anos de carreira, o pia-
nista e cantor anunciou em 2013
sua aposentadoria. Na época, a
poucos meses de completar seu
81º aniversário, problemas de
saúde tornaram suas apresenta-
ções cada vez mais penosas.

Luiz Carlos Merten


Pode ser que as TVs, na confu-
são da pandemia, tenham se
esquecido do Dia das Mães,
neste domingo, 10. A Globo
lembrou e, antes do especial
de Roberto Carlos, no meio da
tarde – 15h –, apresenta às
13h28 Fala Sério, Mãe! Pedro
Vasconcelos baseou-se no li-
vro de Thalita Rebouças para
contar a história de Ingrid Gui-
marães e Larissa Manoela co-
mo mãe e filha. Ângela Cristi-
na é a mãe coruja, obsessiva,
de Malu. Cria constrangimen-
tos para a filha que cresceu, vi-
rou adolescente e tudo o que
não quer é uma mãe protetora
a lhe fazer pagar mico.
O Canal Brasil tem filmes
com mães, embora não necessa-
riamente sobre maternidade.
Que Horas Ela Volta? , de Anna


Muylaert às 15h30, traz Regina
Casé em plena tensão social, co-
mo a mãe de Jéssica/Camila
Márdila, que vai chegando e sub-
verte a ordem na casa da patroa
metida, Karina Teles. Aquarius ,
de Kleber Mendonça Filho, às
23h10, faz de Sonia Braga a mu-
lher que compra briga com in-
corporadora do Recife para im-
pedir que o prédio em que mora
vire mais um espigão, na praia.
Clara, seu nome, além de guer-
reira, é mãe – lembram-se?
E, claro, no streaming sem-
pre se pode (re)ver o impagá-
vel Paulo Gustavo em Minha
Mãe É Uma Peça (1, 2 e 3). Em
matéria de família disfuncio-
nal, mas unida, não tem como
a de Dona Hermínia.

REPERCUSSÃO

Mick Jagger
líder do The Rolling Stones
“Ele foi a maior inspiração do
meu início de adolescência.
Quando estávamos em turnê
com ele, eu assistia a seus movi-
mentos toda noite e aprendia
como entreter e envolver a pla-
teia. E ele era sempre tão gene-
roso com conselhos para mim.
Ele contribuiu muito para a
música popular.”

Ringo Starr
baterista e ex-Beatles
“Deus abençoe Little Richard,
um dos meus heróis musicais
de todos os tempos. Paz e
amor para toda sua família.”

Jon Bon Jovi
músico norte-americano
“Nos anos 1990, quando fiz
Young Guns , tive a chance de
pedir a alguns de meus heróis
que gravassem comigo. Eu al-
cancei a lenda das lendas. Lit-
tle Richard... Ele aceitou. Quan-
do chegou ao estúdio, fez to-
dos se sentirem crianças. Ele
tocou, cantou, riu e contou his-
tórias; nos abençoou com seu
sorriso e com seus talentos.
Rezo para que haja um paraíso
e que Richard esteja ao piano.”

Viola Davis
atriz norte-americana
“O precursor. O inovador. O
músico, performer que influen-
ciou gerações de artistas...”

H


á um lugar no rock and roll localiza-
do em algum milésimo do segundo
em que a voz do cantor entra no tem-
po fraco do compasso quando nenhum com-
passo ainda existe, antecipa-se à banda quan-
do os músicos ainda se ajustam e suspende

no ar algo como um martelo que despenca
no segundo seguinte com suas três tonela-
das de uma massa formada por bateria, bai-
xo, piano, guitarra, sopros e aquilo que já
não será mais uma voz. Um grito distorcido,
um chamado ou qualquer coisa que, na alvo-
rada dos anos 1950, quando os meninos bran-
cos começaram a burlar as regras de não ca-
minhar pelos bairros negros para não se con-
taminar com o blues que eles faziam, os pas-
tores da Igreja diziam ser a voz do demônio
sem saber que, na verdade, só era a voz de
Little Richard.

Se começar a cantar agora mesmo Tutti-
Frutti , a voz antecipada estará lá. Se lem-
brar-se de Good Golly Miss Molly , estará tam-
bém. Apenas ouça A Whole Lotta Shakin'
Goin' On , já que cantar seria impossível, e, de
novo, Little Richard usará a mesma senha.
Mas, se ainda precisar, faça como os Beatles
fizeram em 1964 e tente Long Tall Sally. Por
uma, duas e três vezes, o mesmo martelo irá
desabar no ato que definiu como seriam os
próximos anos da vida de milhares jovens.
A criatura que saiu de Little Richard era
tão violenta que, depois de sacramentar que

o espírito do rock and roll estava nos primei-
ros segundos da voz e não da guitarra, como
pregava Chuck Berry, de levar o acento funk
do aprendiz James Brown para a sua base
rítmica e de traficar a música proibida para
os brancos hipnotizando-os, ela brigou com
ele mesmo. Foi difícil para um homem cresci-
do da Igreja Batista da Georgia entender o
que o levava a pintar os lábios, alisar os cabe-
los e alongar os cílios para subir a um palco
pronto para erguer um martelo sobre a hu-
manidade. A essa altura ele já deve saber que
aquela voz não era do diabo, mas de Deus.

Simonal,
Ninguém Sabe
o Duro Que Dei
(Brasil, 2009.) Dir. e roteiro de Cláudio
Manoel, Calvito Leal e Micael Langer.

Luiz Carlos Merten

Premiado no Brazilian Festi-
val de Toronto, no É Tudo Ver-
dade e vencedor do Grande
Prêmio do Cinema Brasileiro,
esse belo documentário re-
constitui a trajetória de Wil-
son Simonal, seu extraordiná-
rio sucesso e as acusações –
de que seria informante da di-
tadura – que acabaram com
sua carreira. Depoimentos e
imagens de arquivos lançam
luzes sobre o artista.
C. CURTA!, 14H. COL., 86 MIN.

A DESPEDIDA


DO SENHOR ROCK AND ROLL


LITTLE RICHARD H 1932 = 2020


HIROYUKI ITO/THE NEW YORK TIMES

]
ANÁLISE: Julio Maria

O homem que definiu


o exato instante em


que o rock ganha vida


DIA DAS


MÃES NA


VIDA E NA


TELA DA TV


Eliana Silva de Souza

Maratona musical
O Dia das Mães no canal Bis será
com muita música. E começa, às
18h, com a exibição de show de
Katy Perry, dentro da turnê Pris-
matic Tour. No repertório, can-
ções como Roar , Firework e
Hot'n'Cold. Em seguida, às 20h,
será a vez de Marília Mendonça,
a rainha da sofrência, que inter-
preta seus maiores hits, como
Ciumeira , Bebi Liguei e Love à
Queima Roupa. Depois, às
20h30, o canal exibe um tributo
a Carole King, com apresenta-
ções de artistas como Lady Ga-
ga, Alicia Keys, James Taylor,
Pink, Steven Tyler, Will.i.am e
Train. E, encerrando a noite, às
22h10, terá Alicia Keys cantando
alguns de seus maiores suces-
sos, como Fallin, Pawn It All e
Empire State Of Mind.

Dia no campo
A Mauricio de Sousa Produções
coloca no ar neste domingo, 10,
em seu canal no YouTube, um
episódio especial da animação
Mônica Toy , em homenagem ao
Dia das Mães. Para isso, em vez
de vermos na telinha Mônica,

Cebolinha, Magali ou o Cascão,
o curta Ô, Manhêêêê! terá como
protagonistas duas mães bem
diferentes. Giselda, a galinha, e
a onça que está sempre no ca-
minho do Chico Bento são as
estrelas desse filminho.

Grande desafio
A animação Os Doze Trabalhos
de Asterix é o destaque deste
domingo, 10, da TV Brasil. Cria-
dos pelos franceses Albert Uder-
zo e René Goscinny, em 1959, os
personagens vivem histórias car-
regadas de humor e trocadilhos.
Asterix e Obelix estão nesta his-
tória épica, onde são desafiados
a cumprir tarefas que remetem
à narrativa mitológica dos doze
trabalhos de Hércules. A exibi-
ção será às 14h.

Que surpresa
Natália Lage é a protagonista da
série Hard , que estreia no dia 17,
às 23h, na HBO e HBO GO. A pro-
dução, com direção-geral de Ro-
drigo Meirelles, conta a história
de Sofia, que viveu em função da
família e, após a morte repentina
do marido, descobre que rece-
beu de herança uma produtora
de filmes pornô.

DESTAQUE
GLOBO FILMES

Os Aventureiros do Bairro
Proibido / Big Trouble
in Little China
(EUA, 1986.) Dir. de John Carpernter, com
Kurt Russell, Kim Catrall, Denis Dun.

Caminhoneiro ajuda amigo chinês
a resgatar noiva sequestrada por
um feiticeiro na Chinatown de São
Francisco. Ação, fantasia, humor,
efeitos. O mestre Carpenter mos-
tra que não era bom só de terror.
Diversão garantida, um dos melho-
res papéis de Kurt Russell e Kim
Catrall antes de Sex and the City.
TEL. CULT, 20H10. COL., 99 MIN.

Filmes na TV


Nasce Uma Estrela /
A Star Is Born
(EUA, 2018.) Dir. e interpretação de Bradley
Cooper, com Lady Gaga, Andrew Dice Clay
Dave Chappelle, Sam Elliott.

Sucesso de público e crítica, a quar-
ta versão – e a terceira em formato
de musical – da história famosa
faz de Lady Gaga a artista cuja es-
trela sobe à medida que a de Brad-
ley entra em declínio. Concorreu
em várias categorias do Oscar,
mas terminou levando só o de me-
lhor canção, para Shallow.
HB2, 22H. COLORIDO, 134 MIN.

Em Nova
York. Artista
redefiniu o
piano no rock

Artista que definiu as bases do rock nos anos 50, Richard morreu aos 87 anos, nos EUA


Caderno 2

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