O Estado de São Paulo (2020-05-10)

(Antfer) #1

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A4 DOMINGO, 10 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Jair
Bolsonaro,
presidente da
República

»Em quem acreditar? As
recomendações dos gover-
nadores, em sua maioria
pelo isolamento social co-
mo medida eficaz de comba-
te à covid-19, têm mais in-
fluência no comportamen-
to dos brasileiros do que o
discurso de Jair Bolsonaro
pela flexibilização das qua-
rentenas e retomada da ati-
vidade econômica.

»Nos governos. Pesquisa
do Instituto Travessia indi-
ca que 65% dos entrevista-
dos preferem seguir orienta-
ções dos seus governado-
res. O presidente convence
só 18%, porcentual colado
ao dos que disseram não
seguir orientação de ne-
nhum dos dois, 17%.

»Quem? A pesquisa tam-
bém apontou que, após 22
dias à frente do Ministério
da Saúde, Nelson Teich ain-
da é desconhecido por qua-
se um terço da população.
Dos entrevistados, 28% não
sabem avaliar o trabalho
dele na pasta. Um terço
(33%) aprova o ministro e
39% o desaprovam.

»Não agradou. Na compa-
ração com seu antecessor
na Saúde, o resultado é
ruim para Teich. Dos entre-
vistados, metade respon-
deu que o resultado do tra-
balho dele é pior do que o
de Henrique Mandetta.

»Dados. Para 31% dos en-
trevistados, Nelson Teich
faz um trabalho melhor e
19% avaliaram que o desem-
penho de ambos é igual.

»Metodologia. A pesquisa
foi realizada por telefone
na sexta-feira (8) e foram
entrevistadas 1003 pessoas:
42% no Sudeste, 28% no
Nordeste, 15% no Sul e 15%
do Norte e Centro-Oeste. A
margem de erro do levanta-
mento é de três pontos por-
centuais para mais ou para
menos e o nível de confian-
ça é de 95%.

»Cri, cri... As sugestões de
se implementar fila única
para leitos privados e públi-
cos estão paradas no Minis-
tério da Saúde. A tendência
é que continuem assim mes-
mo, sem serem acatadas.

»Bom trabalho. O Progra-
ma Nacional de Segurança
nas Fronteiras e Divisas (Vi-
gia), da Justiça, bateu recor-
de histórico em abril, com a
apreensão de 55 toneladas
de drogas nas fronteiras bra-
sileiras, um aumento de
300% em relação ao mês
anterior, quando foram
apreendidas 13 toneladas.

»Bom trabalho 2. A pasta
atribuiu o resultado a um
aumento do efetivo de agen-
tes nas fronteiras e à parce-
ria com outros órgãos.

»À distância. O PSDB-Mu-
lher lançou sua pré-campa-
nha virtual. A partir de ago-
ra, disponibilizará, em par-
ceria com a Fundação Kon-
rad Adenauer, cursos onli-
ne para pré-candidatas a
prefeita, vice e vereadoras.

»À distância 2. Com o mo-
te “a tecnologia como ferra-
menta da democracia”, a
ideia do PSDB-Mulher é ga-
rantir capacitação para as
cerca de 10 mil tucanas que
deverão participar da dispu-
ta eleitoral deste ano.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

Q


uase dois meses após o início das medidas de isola-
mento social no Brasil, Jair Bolsonaro sente os im-
pactos de sua insistente postura em minimizar a
covid-19. Como mostrou em primeira mão a Coluna , até
aliados do presidente acharam de péssimo tom o churras-
co anunciado (e, por causa disso, depois cancelado) para
o final de semana em que o Brasil completaria a fúnebre
marca de dez mil mortos. Por essas e outras, a maioria dos
brasileiros prefere seguir o que dizem os governadores. É
o que indica pesquisa inédita feita a pedido da Coluna.

Presidente sente efeito


de minimizar a covid-


ALBERTO BOMBIG
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Partidos já vão atrás
de ex-ministro por


  1. Pág. A


Sérgio Moro


Patrik Camporez
Thiago Faria / BRASÍLIA

Os gastos com cartão corpo-
rativo da Presidência da Re-
pública, usado para bancar
despesas sigilosas do presi-
dente Jair Bolsonaro, dobra-
ram nos quatro primeiros me-
ses de 2020, na comparação
com a média dos últimos cin-
co anos. A fatura no período
foi de R$ 3,76 milhões, valor
que é lançado mensalmente
no Portal da Transparência
do governo, mas cujo detalha-
mento é trancado a sete cha-
ves pelo Palácio do Planalto.
Em dezembro do ano passa-
do, o Estadão revelou que o go-
verno passou a ignorar uma de-
cisão do Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) e se recusa a expli-
car como tem usado o dinheiro
público via cartões corporati-
vos. A Presidência tem justifica-
do, nos pedidos feitos via Lei de
Acesso à Informação, que a aber-
tura dos dados e notas fiscais
poderiam colocar em risco a se-
gurança do presidente.
O fato é que, neste início de
ano, essas despesas deram um
salto e fugiram do padrão do
que gastaram os ex-presidentes
Dilma Rousseff e Michel Temer
no mesmo período. Foge do pa-
drão, inclusive, do que gastou o
próprio Bolsonaro no seu pri-
meiro ano de mandato, quando
apresentou uma despesa de R$
1,98 milhão de janeiro a abril.
O cálculo leva em considera-
ção os pagamentos vinculados
à Secretaria de Administração
da Presidência da República.
Além de eventuais despesas em
favor de Bolsonaro, a secretaria
é responsável por gastos de fa-
miliares do presidente e das re-
sidências oficiais. Responde ain-
da por pagamentos corriquei-
ros da Presidência.
Mas não foi só a fatura dos
cartões ligados diretamente a
Bolsonaro que explodiu neste
início do ano. O total de despe-
sas sigilosas da Presidência,
que inclui também gastos do Ga-
binete de Segurança Institucio-
nal (GSI) e da Agência Brasilei-
ra de Inteligência (Abin) au-
mentaram na mesma propor-
ção. Foram R$ 7,55 milhões em
despesas sigilosas da Presidên-
cia da República de janeiro a
abril, 122% a mais do gasto no
mesmo período do último ano
do governo Temer. Em cinco
anos, o mais próximo disso fo-
ram os R$ 4,69 milhões (em va-
lores corrigidos pela inflação)
despendidos em 2015, na gestão
de Dilma.
É um dinheiro que, a não ser
alguns integrantes do próprio
governo, ninguém mais sabe pa-
ra onde foi. Nem mesmo a data
em que a transação foi realizada
é conhecida.
Antes de ser eleito, Bolsona-
ro foi um crítico ferrenho dos
gastos com cartões corporati-
vos e, principalmente, do possí-
vel sigilo dos extratos. Em

2008, em discurso na Câmara
dos Deputados, ainda como par-
lamentar (na época filiado ao
PP) desafiou o então presiden-
te Luiz Inácio Lula da Silva a
“abrir os gastos” com o cartão.
No último 24 de abril, dia em
que o então ministro Sérgio Mo-
ro pediu demissão, Bolsonaro
fez um longo discurso no Palá-
cio do Planalto para responder
o novo desafeto. Entre diversos
assuntos abordados – que foi do
aquecedor da piscina do Palá-
cio da Alvorada à vida amorosa
do filho mais novo – afirmou
que tem sido econômico no uso
do cartão. “Na vida de presiden-
te da República eu tenho três
cartões corporativos, dois são
usados para despesas, as mais
variadas possíveis, afinal de con-
tas mais de 100 pessoas estão
na minha segurança diariamen-
te, despesas de casa, normal”,
disse. “E um terceiro cartão que
eu posso sacar R$ 24 mil por
mês sem prestar contas. Eu pos-
so sacar R$ 24 mil e gastar onde
bem entender. Quanto eu gas-

tei dessa verba desde o ano pas-
sado? Zero”, disse. Bolsonaro
não mencionou, no entanto,
que os gastos totais dos cartões
corporativos da Presidência
sob sigilo superaram os R$ 14
milhões no ano passado.

Supremo. Na semana passada,
o deputado Federal Elias Vaz
(PSB-GO), que integra a Comis-
são de Fiscalização da Câmara,
ingressou com um mandado de
segurança no Supremo cobran-
do do Palácio do Planalto a di-
vulgação dos gastos com cartão
corporativo. A ministra Cár-
men Lúcia é a relatora do caso.
O parlamentar invoca a deci-

são da Corte de dezembro e ar-
gumenta que nem tudo o que é
comprado pela Presidência es-
tá abarcado nas regras que per-
mitem sigilo. “A gente espera
uma austeridade do poder pú-
blico, mas o presidente quase
triplica os gastos com cartão
corporativo no mês de março,
que é onde começa as conse-
quências na economia da co-
vid-19. Devia conter seus gas-
tos, mas não contém, gasta mui-
to e ainda quer esconder os mo-
tivos”, afirmou o deputado.
Na ação, Vaz afirma que, en-
tre os gastos secretos da Presi-
dência da República, há em
2020 pelo menos 104 situações
em que foram desembolsados
valores acima de R$ 17,6 mil.
Em uma única oportunidade,
houve um gasto de R$ 79.372,
no cartão, diz o deputado na
ação, lembrando que todos es-
ses valores estão em sigilo e, pa-
ra serem fiscalizados, parlamen-
tares e a sociedade precisam ter
acesso ao detalhamento.
No processo, Vaz diz ter iden-
tificado situações ainda mais
“gritantes”. “Há uma série de in-
dicativos de saques que vão de
R$800 até R$20 mil sem que
possa ser identificado onde es-
te dinheiro foi gasto, com
quem, com o que”, afirma. “O
presidente, que em outras admi-
nistrações criticava os gastos
com cartão corporativo, depois
que assume adota outra postu-
ra”, conclui o deputado.
Para o secretário-geral da As-
sociação Contas Abertas, Gil
Castello Branco, quanto meno-
res forem esses gastos secretos
com os cartões corporativos,
melhor. “A transparência deve
ser a regra e o sigilo a exceção. O
governo está na contramão”,
afirmou ele. “Em nome da segu-
rança do Estado, frequentemen-
te, as autoridades escondem
despesas banais. Muitas vezes
para ocultar o óbvio. Todos os
gastos da Presidência são pagos
pelos brasileiros. Se essa rela-
ção de compras fosse disponibi-
lizada as despesas seriam, certa-
mente, objeto de crítica”, disse.

Janaina Lima

Sem dar detalhes, o Palácio do
Planalto afirmou que a maior
parcela de gastos efetuados
com os cartões corporativos do
governo federal foi realizada
em apoio às viagens presiden-
ciais em território nacional e
viagens internacionais. Neste
ano, o presidente Jair Bolsona-
ro esteve na Índia em janeiro,
participou da posse da presiden-

te do Uruguai, no início de mar-
ço e, no mesmo mês, viajou com
uma comitiva de 31 pessoas aos
Estados Unidos.
O governo alega ainda que
houve um aumento nos gastos
totais da Presidência, em mar-
ço deste ano, pois os cartões vin-
culados ao Gabinete da Segu-
rança Institucional (GSI) fo-
ram utilizados para o pagamen-

to dos “serviços de apoio de so-
lo e comissaria aérea na viagem
para a China, realizada em feve-
reiro de 2020, para o resgate de
34 brasileiros isolados em Wu-
han, em razão do surto epide-
miológico inicial da covid-19”.
Coordenada pelo Ministério
da Defesa, a Operação Regresso
à Pátria Amada Brasil ocorreu
entre 5 e 9 de fevereiro, fase do
envio e retorno dos aviões, e se-
guiu com mais 14 dias de confi-
namento dos resgatados na Ba-
se Aérea de Anápolis (GO). Do-
cumentos do Comando da Aero-
náutica revelados pelo Esta-

dão mostraram que a operação
custou R$ 4,6 milhões aos co-
fres públicos – valor que não in-
cluía os gastos citados pelo GSI.
Sobre a decisão do Supremo
Tribunal Federal, o Palácio do
Planalto disse que a Lei de Aces-
so à Informação (LAI), de 2011,
permite manter sob sigilo infor-
mações que possam colocar em
risco a segurança do presidente
da República e de seus familia-
res. Para isso, se baseia em um
parecer da Advocacia-Geral da
União para manter em segredo
boa parte dos gastos com car-
tão corporativo.

GABRIELA BILO/ ESTADÃO

Despesas com cartão


da Presidência dobram


PRONTO, FALEI!

l Dinheiro público

Maioria dos gastos foi em


viagens, afirma Planalto


Luto


pelas
vítimas
da covid

Manifestante
protesta diante
da bandeira
brasileira has-
teada a meio-
mastro, após
Congresso Na-
cional decretar
luto de três
dias. O Brasil
ultrapassou
ontem a marca
de 10 mil mor-
tes causadas
pela covid-19.

● Despesas da Secretaria de Administração, responsável por
gastos vinculados diretamente ao presidente

GASTOS SIGILOSOS

Gasto sigiloso com cartão corporativo*
EM MILHÕES DE REAIS

De janeiro a abril

1,

3,

2020 2015 a 2019

AUMENTO EM
RELAÇÃO A ANOS ANTERIORES

2,

2015

63%

1,

2016

109%

1,

2017

151%

1,

2018

95%

2,

2019

90% 98%

*VALORES CORRIGIDOS PELA INFLAÇÃO NO PERÍODO (IPCA)
FONTE: PORTAL DA TRANSPARÊNCIA INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Média
5 anos

Total de gastos sigilosos vinculados a Bolsonaro e sua família foi de R$ 3,76 mi neste ano,


um salto em relação a períodos anteriores; órgãos como GSI e Abin também tiveram alta


“Quem precisa trabalhar terá o transporte público
como única opção. Isso sem contar os problemas de
abastecimento”, sobre o rodízio em São Paulo.

Vereadora de São Paulo (Novo-SP)

»CLICK. Mandetta visi-
tou Rodrigo Maia depois
de temporada quieto em
fazenda. Segundo Maia,
o diálogo com o ex-minis-
tro ajuda a definir sua
atuação na Câmara.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

“A transparência deve
ser a regra e o sigilo a
exceção. O governo
está na contramão.”
Gil Castello Branco
SECRETÁRIO-GERAL DA
ASSOCIAÇÃO CONTAS ABERTAS
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