Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

CONJUNTURA


tarifária das distribuidoras e 35% no faturamento dos
serviços de distribuição. “No racionamento de energia,
demoraram dez anos para se recuperar a curva de consu-
mo”, observa o presidente da Energisa, Ricardo Botelho.
Estudo da Câmara de Comercialização de Energia
Elétrica (CCEE) aponta que a sobrecontratação das dis-
tribuidoras pode ficar entre 11% e 13% acima de 100%
em 2020. Cada mês de quarentena deve elevar em 0,8%
a sobrecontratação anual. A distribuição movimenta
cerca de R$ 20 bilhões por mês, o que abrange dinheiro
que vai para o caixa da União e Estados via tributos e
encargos, para as transmissoras e geradoras e para ren-
tabilizar a operação das distribuidoras. “Somos o caixa
do sistema”, diz o presidente da Copel, Daniel Slaviero.
A queda de consumo é grande com a paralisia da eco-
nomia, o que afeta o caixa da distribuição. Distribuido-
ras e governo já discutem uma solução, mas, além de um
possível empréstimo no curto prazo, será preciso costu-
rar medidas para o longo prazo. Já os consumidores de
baixa renda deverão ter suas contas pagas pelo Tesouro,
o que não oneraria a tarifa. “Estamos tratando a questão
total das distribuidoras para adotar medidas para que
elas mantenham seu papel, que é fundamental”, diz o
ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.
Para um empresário com assento em dois conselhos
de administração de empresas de energia, a conta não
deverá apenas ficar no bolso dos consumidores, diante
do tamanho da recessão e da perda de renda. Nas reuni-
ões a distância entre os conselheiros, já se começaram
a discutir outras soluções, como a extensão do prazo
das concessões. Em média, os contratos de concessão
têm validade de 30 anos. Quando expiram, podem ser
devolvidos à União e serem relicitados. Em um caso
como o atual, a extensão do prazo de concessão é uma
ferramenta que poderia ser utilizada para que a conta
de luz não suba demais. “A crise afeta diretamente o
bolso do consumidor, a extensão é uma possibilidade
a ser discutida”, afirma.
O projeto que trata do risco hidrológico (conhecido
como GSF, na sigla em inglês) está no Congresso. A conta
hoje está em R$ 8,3 bilhões, sendo que R$ 5 bilhões são
líquidos, já que alguns grupos são credores e devedores
simultaneamente. O projeto está em discussão há qua-
tro anos e parecia pronto para ser aprovado neste início
do ano, mas agora a agenda legislativa está envolta em
incerteza. “Estava perto de ser aprovado, mas estamos
prontos para, quando estiver sancionado, fazermos os
pagamentos entre credores e devedores. Talvez pos-
sa haver mais parcelas do que inicialmente previsto e
uma discussão sobre como se dará a atualização delas”,
diz o presidente da CCEE, Rui Altieri. Cerca de 70% dos
R$ 5 bilhões estão nas mãos de cinco geradoras. As as-
sociações de classe do setor já indicaram, em reuniões
e documentos para o governo, a importância de tratar
o tema o quanto antes. O ministério já informou que
o assunto é prioritário e que o ministro da Economia,
Paulo Guedes, também está a par de sua relevância.

Há uma sobra de energia estimada neste ano em 12
GW, mesma potência da usina hidrelétrica de Itaipu.
Sua redução dependerá do equacionamento da crise
econômica e de sua duração. Sem saber essas variáveis,
os leilões de contratação de geração e de linhas de trans-
missão ficarão em espera. Também deverá colocar em
banho-maria a discussão para ampliação do mercado
livre. Previa-se no início de 2020 que ela poderia che-
gar às residências em 2025. “Abertura do mercado tem
impacto sobre as distribuidoras, que já estão com pro-
blemas financeiros”, analisa Luiz Barroso, presidente
da consultoria PSR.
A crise atinge as duas principais estatais do setor em
uma posição muito melhor que há cinco anos. A Eletro-
bras reduziu o número de funcionários de 26 mil para
12 mil em pouco mais de três anos. A relação geração
de caixa e dívida, que estava em nove vezes, caiu para
1,6. O caixa da empresa, que lucrou R$ 11 bilhões no ano
passado, está em R$ 6 bilhões. “Estamos em um outro
momento e esperamos investir R$ 5,3 bilhões neste ano,
com R$ 1 bilhão destinado à retomada da usina nuclear
de Angra 3 e a atração de um parceiro internacional para
a sua conclusão em 2026”, diz o presidente da estatal.
A Petrobras, que acelerou seu programa de desinves-

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