Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

CONJUNTURA


está reavaliando a distribuição dos lucros. Conselhos de
administração, que geralmente se reuniriam em abril
e agora se encontrarão em junho, deverão reavaliar o
tema. Light, Energisa, Equatorial e Cemig são exem-
plos de empresas que poderão discutir como ficará o
pagamento de lucros a partir dos efeitos da crise. “Pro-
pusemos que os dividendos fiquem retidos em uma
conta especial, dadas as incertezas da pandemia”, diz a
presidente da Light, Ana Marta Horta Veloso. A proposta
será deliberada em assembleia.
Mais uma vez, a crise evidencia a importância de
reavaliação do Mecanismo de Realocação de Energia
(MRE), que funciona como um condomínio para as hi-
drelétricas, em que os ônus e os bônus (maior ou menor
geração em virtude de chuvas ou ocorrências) são com-
partilhados entre as usinas participantes. Com a redução
do consumo de energia, há a expectativa de que ocorra,
no jargão do setor, um deslocamento na geração hidre-
létrica centralizada. Ou seja, aquelas fontes que, por
algum motivo, o Operador Nacional do Sistema Elétrico
(ONS) não pode determinar o seu ritmo de produção
de energia reduzem a geração das demais usinas que
podem ser administradas pelo operador do sistema,
caso das hidrelétricas com reservatórios e das térmicas
com custo de operação mais elevado. A situação atual
pressiona ainda mais pelo equacionamento estrutural
do mecanismo. “A carga está em queda e isso tem im-
pacto sobre as hidrelétricas e o GSF, que pode ficar pior”,
diz o vice-presidente da CTG, Evandro Vasconcelos.
“O avanço de usinas sem reservatórios e de fontes
intermitentes, como solar e eólica, e de termelétricas
a gás natural mudou a configuração do sistema. Pre-
cisamos buscar uma solução de forma estrutural para
aprimorarmos o funcionamento do MRE. Quando foi
concebido, a matriz de geração era completamente di-
ferente, com participação de hidrelétricas e térmicas”,
diz Mario Bertoncini, diretor-presidente e de relações
com investidores da Cesp.
Inovação é uma palavra recorrente no setor elétrico.
Redes inteligentes de energia, armazenamento, merca-
do de derivativos e a adoção de novidades regulatórias,
como o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) Ho-
rário, estavam ganhando espaço. A agenda regulató-
ria, que poderia destravar esses pontos, poderá ficar
mais atrasada, mas esses temas ganharão ainda mais
urgência. As redes inteligentes poderiam trazer mais
eficiência ao sistema e permitir o avanço da figura do
prosumidor (consumidor que também gera sua energia
a partir da microgeração distribuída solar ou eólica),
mas seu avanço ficará comprometido pelo caixa do setor
de distribuição.
Hoje o PLD, referência para contratos de compra e
venda de energia no mercado livre, é calculado em base
semanal. A ideia é de que ele seja horário, uma mudança
que busca dar mais realidade ao sistema de formação de
preços, já que a matriz tem mudado. A incorporação de
fontes intermitentes, como eólicas e solares, exige que

o sistema possa capturar mais nuances. O PLD Horário
deveria começar em 2020, mas foi adiado para que seu
início seja efetivado em 1º de janeiro de 2021, com tes-
tes sendo realizados no começo do segundo semestre.
Agora pairam incógnitas se o cronograma será mantido.
“Isso vem sendo adiado por algumas vezes, pode ser que
haja alguma incerteza, mas é essencial que o sistema de
formação de preço seja mais aderente à realidade do
sistema”, afirma Barroso, da PSR. “É essencial ter esse
sinal mais preciso para a operação do sistema”, desta-
ca Vasconcelos, da CTG. A inovação faria as empresas
olharem ainda mais a gestão de portfólio de projetos,
buscando complementariedade entre as fontes. “Solar
gera de dia, PCH pode gerar de noite, e projetos híbridos,
que contemplam solar e eólica, podem avançar mais
nesse cenário”, aponta o executivo da empresa chinesa.
O volume do mercado é ainda concentrado em tran-
sações bilaterais feitas por telefone. Cerca de 30% delas
são transacionadas no Balcão de Comercialização de
Energia Elétrica (BCEE). “Outros 70% em relação ao vo-
lume são feitos no telefone”, diz o presidente da BCEE,
Carlos Ratto. Uma das novidades que estavam previs-
tas era o lançamento de contratos de derivativos para
o mercado de energia, o que estava atraindo bancos,
como o Itaú, para o segmento. A expectativa era de que
a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizasse a
novidade pós-carnaval. A pandemia pôs em dúvida, as-
sim como quando serão lançadas pela Aneel as regras de
aperfeiçoamento de comercialização, como penalidades
e obrigações mais rígidas para ingressar no segmento.

Slaviero, da
Copel: as
distribuidoras
são o caixa
do sistema

GUILHERME PUPO / VALOR

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