Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

segmentos também foram abalados pelas contingências
do coronavírus. Eles não poderão fugir, de imediato,
para o mercado livre, escapando do ônus. Mecanismo
de pagamento coercitivo será introduzido. Será um in-
centivo para que, no médio e longo prazos, abandonem
o mercado regulado.
Apesar de o BNDES ter sustentando ao longo dos
anos sua prioridade à infraestrutura, o tombo sofrido
pelos desembolsos tem sido expressivo desde 2013,
quando alcançaram, a preços constantes, R$ 271,8 bi-
lhões. O volume foi se reduzindo até chegar a R$ 100
bilhões em 2016. Mais três declínios empurraram o de-
sembolso para R$ 55,3 bilhões no ano passado. Do total
liberado em 2019, os projetos de energia elétrica rece-
beram 22,4%. Restrições orçamentárias e o fim das taxas


subsidiadas coincidiram, para alívio das empresas, com
a baixa acentuada da taxa básica de juros. A redução da
Selic aumentou a procura por títulos privados. Mas a
fase da fartura de crédito, dizem os especialistas, secou.
Em 2019, segundo a Associação Brasileira das En-
tidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Ambi-
ma), foram emitidos R$ 33,76 bilhões em debêntures
de infraestrutura incentivadas, as que gozam de isen-
ção de imposto, com alta de 56% em relação a 2018. Ou
seja, quase R$ 10 bilhões a mais que os desembolsos
do BNDES à infraestrutura.
Mesmo antes do novo coronavírus, houve decréscimo
da emissão desses títulos: em janeiro e fevereiro de 2019,
foram emitidos R$ 3,5 bilhões em debêntures incen-
tivadas e nos dois primeiros meses deste ano a oferta
foi de R$ 2,08 bilhões. E minguou a partir de março.
As incertezas se avolumam: o mercado de debêntures
travou, há uma sobreoferta de energia – tanto que o
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) previu
para abril uma queda de 8,1% no consumo –, o que exige
a rediscussão de contratos no mercado livre, tarefa difi-
cultada porque os executivos trabalham em home office.
Uma das opções para as empresas que, diante do
travamento do mercado de capitais, não querem ou
não podem engavetar os seus projetos foi colocada à
mesa em março pela Eneva, geradora e comercializado-
ra de energia. A estratégia era refinanciar empréstimo
bancário (R$ 2,75 bilhões) no mercado de capitais,
obtendo condições de custo e prazo mais vantajosas.
Com a paralisia do mercado, a operação foi mantida
e será levada adiante até a normalização. E a norma-
lização implica não só o retorno das emissões como
também o restabelecimento da liquidez no mercado
secundário. Os grandes bancos dedicaram-se, no fim
de março, a recomprar as debêntures, de forma a asse-
gurar a sua liquidez e evitar a perda de rentabilidade
derivada dos saques sofridos pelos fundos dedicados
a créditos corporativos.
Sócio da consultoria Deloitte, Luiz I chama atenção
para a conjuntura de sobreoferta de energia elétrica. A
diminuição na demanda industrial não foi compensada
pelo aumento do consumo residencial decorrente da
quarentena. Como o cenário é de desaceleração eco-
nômica, a sobreoferta de energia tenderá a persistir, de-
sestimulando os planos de expansão. Nessa conjuntura,
os grandes compradores de debêntures ficam avessos a
papéis cujo potencial de risco não é o mesmo de antiga-
mente. Em momentos paralisantes, prevalece a busca
por segurança, proteção e liquidez.
Luiz I recomenda a rediscussão do papel do BNDES
na restauração da confiabilidade. Depois das contenções
orçamentárias e do fim da política de juros subsidiados,
o banco perdeu a primazia na montagem de funding aos
grandes projetos de energia. De protagonista nos finan-
ciamentos, o banco transformou-se em coadjuvante. Foi
hegemônico nos primeiros 15 anos do século não só em
DIVULGAÇÃO função do viés desenvolvimentista da política econômi-

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