Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

“Haverá essa substituição, mas
outro elemento fundamental é a
demanda, que ainda não sabemos
como ficará no curto e médio pra-
zos porque a extensão e a duração
da crise ainda são desconhecidas.
E temos tido a migração forte para
o mercado livre, então são forças
que atuam em direções opostas”,
afirma o presidente da consultoria
Gas Energy, Rivaldo Moreira Neto. “A
volatilidade e a aversão ao risco são
variáveis que os investidores anali-
sam para entrar em projetos de 15
anos, 25 anos”, diz Gabriel Canuto,
gerente de vendas da área de Large


Gas Solutions da Siemens no Brasil.
Este conjunto de incertezas tem
reflexo não apenas sobre o apetite
dos investidores, mas também sobre
o crédito de projetos. As instituições
financeiras ficarão mais cautelosas.
“Nossos projetos já estão estrutura-
dos, nosso portfólio foi montado,
mas essa incerteza grande poderá
trazer desafios para o mercado no
futuro, porque o mercado está fe-
chado e as análises devem levar mais
tempo”, afirma Eduardo Antonello,
presidente da Golar, uma das prin-
cipais empresas globais de logística
de gás natural liquefeito.
No médio e longo prazos, as
perspectivas são positivas. Há uma
mudança estrutural em curso na
matriz elétrica. O avanço de fontes
intermitentes e a construção de usi-
nas hidrelétricas a fio d’água, sem
grandes reservatórios para acúmulo
nos períodos de seca, aumentam a
importância de térmicas operando
na base. Este é um alerta que vem
sendo continuamente informado
pelo Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS).
“Vemos um novo ciclo de gás
natural por conta da mudança da
matriz e pelo gás do pré-sal”, destaca
Canuto. Para desenvolver projetos, a
Siemens pode investir em uma par-
ticipação minoritária ou participar
via um fundo de desenvolvimento
nas fases iniciais do projeto. No por-
to do Açu, é sócia da Prumo no pro-
jeto da termelétrica que terá cerca
de 1,3 gigawatt (GW) de potência e
vai movimentar a indústria de gás
natural liquefeito (GNL) no país.
Tem havido a procura por desen-
volvimento de projetos que usam
as térmicas como âncoras e criam
clusters térmicos, em que se combi-
nam terminais de GNL, térmicas e
indústrias. Em Sergipe, está um dos
maiores exemplos. Um terminal de
regaseificação de GNL foi criado e
tem como um de seus principais
projetos uma térmica de 1,5 GW de
capacidade, a maior da América La-
tina, segundo o secretário de Energia
do Estado, José Augusto Carvalho.
Com capacidade ociosa de dois
terços da capacidade do projeto em

Sergipe, a Golar tem buscado aumen-
tar a demanda. A principal frente de
esforço é trabalhar na conexão com
a Transportadora Associada de Gás
(TAG), rede de gasodutos do Norte
e Nordeste, vendida pela Petrobras
a um consórcio liderado pela Ener-
gie. A rede tem 4,5 mil quilômetros
de gasodutos, 91 pontos de entrega,
12 estações de compressão e grande
parte da capacidade instalada con-
tratada pela Petrobras. “Mas há pen-
dências regulatórias e operacionais a
serem resolvidas”, afirma Antonello,
presidente da Golar.
Há algumas incertezas hoje re-
ferentes à posição da Petrobras,
que deixará de ser supridora em
última instância. “Agora como fi-
cará? Quem será esse supridor?
Quem será o estoquista desse gás?
Como será o acesso aos gasodutos
e aos terminais que a Petrobras está
vendendo? Falta ainda a definição
desses pontos”, observa o secretário
de Infraestrutura da Bahia, Marcus
Cavalcanti. O Estado é um dos cin-
co maiores consumidores de gás
do país e também vê potencial na
atração de investimentos na Bahia.
O uso mais intenso das térmicas
a gás natural terá impacto ambien-
tal. O cenário futuro é de conflitos
entre o setor elétrico e o de recur-
sos hídricos. O avanço do pré-sal
irá posicionar o país como um dos
maiores produtores de óleo e gás
e diversificar a matriz elétrica com
investimentos bilionários em usinas
termelétricas. Cerca de 90% da água
represada em reservatórios no país
é direcionada ao setor de energia,
o que o torna parte da solução e do
problema, aponta Oscar Cordeiro
Netto, diretor da Agência Nacional
de Águas (ANA).
A demanda deverá ser crescente
principalmente com o avanço das
usinas termelétricas a gás natural,
grandes consumidoras de água no
processo de produção de energia.
“O desafio futuro será gerenciar o
uso múltiplo da água crescente,
exigindo maior transparência, além
de uma visão ampla sobre o tema,
como a precificação da água para
LEO PINHEIRO / VALOR cada setor.”

Antonello,
da Golar:
projeto
estruturado
deve demorar

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