Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

REFINARIAS


investimentos Mubadala, de Abu Dhabi, além das bra-
sileiras, como a Ultrapar e a Raízen (joint-venture entre
Shell e Cosan). Estas seriam algumas das interessadas
e já selecionadas pela estatal para a compra de alguns
dos ativos à venda.
Outras empresas que aparecem no rol que os ana-
listas fazem de potenciais candidatas à compra das
refinarias são distribuidoras, produtoras de petróleo
e tradings nacionais e estrangeiras como a Ipiranga,
Glencore, Vitol, Trafigura, Total e Petrochina.
No fim de fevereiro, em teleconferência com ana-
listas, o presidente da Ultrapar, Frederico Curado,
comentou que há interesse em chamar um parceiro
estratégico para a formular a proposta de compra de
refinarias, mas não disse quais delas estão na mira. Já
a Raízen preferiu não fazer comentários a respeito do
assunto, embora não negue nem confirme seu interesse
em adquirir ativos de refino da Petrobras.
O sócio da KPMG Anderson Dutra aposta na atrati-
vidade do mercado brasileiro e em muitas empresas
interessadas em comprar as refinarias da Petrobras. No
entanto, vê o setor em um momento delicado, devido

ao cenário de alta do dólar e baixa do preço do barril
de petróleo.
“Em algumas ocasiões, o dólar alto é bom para o in-
vestidor estrangeiro, mas há uma questão mais com-
plexa, que é o preço do barril de petróleo, que está em
um patamar baixo e pode começar a inviabilizar alguns
projetos”, destaca. Por isso, acredita que é preciso um
tempo maior para avaliar as cotações no longo prazo,
“até porque as decisões de investimento são baseadas
no preço de longo prazo e ele ainda não foi acertado”.
Para Dutra, a redução da presença da estatal no
segmento impactará o mercado trazendo aumento da
competitividade. “Isso tende a ter um impacto direto
na bomba e o consumidor sente diretamente”, acredita.
Mas lembra um ponto importante que deve ser discuti-
do: o papel das distribuidoras no abastecimento local.
“Em momentos de preços altos, a exportação pode
fazer mais sentido, o que prejudicaria o abastecimento
local”, avalia. Em relação a aspectos regulatórios, ele vê
a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocom-
bustíveis (ANP) mais focada nos aspectos técnicos, de
forma que o mercado “faria a regulação de maneira mais
eficiente sem a intervenção do regulador no aspecto de
preços e competitividade”.
A ANP informa que está analisando o processo de
venda de refinarias e infraestruturas correlatas da Pe-
trobras, com foco na regularidade do abastecimento de
combustíveis em todo o território nacional. “Antes da
concretização do processo de venda, a ANP apresentará
as recomendações necessárias para que este proces-
so ocorra sem sobressaltos na oferta e nos preços dos
combustíveis para o consumidor final. Não está prevista
elaboração de resolução sobre este tema”, diz a ANP.
Dentro da agenda regulatória da ANP, está prevista a
atualização da Resolução ANP 16/2010, que regulamen-
ta a atividade de refino de petróleo, mas isso independe
do resultado da venda de refinarias pela Petrobras.
Para o líder da consultoria Bip Brasil, Flávio Menezes,
há uma perspectiva de mais competitividade no merca-
do nacional de refino, com a entrada de novos players,
que deverá levar em conta “o equilíbrio de preços entre
a produção local e a importação de países vizinhos”.
Para ele, a reforma tributária atualmente em an-
damento no governo deve trazer aperfeiçoamentos
necessários e influenciar na formação de preços. Me-
nezes também lembra que, com o desinvestimento
da Petrobras em algumas refinarias, ela deixará de ter
compromissos de abastecimento de todas as regiões do
país com produtos derivados do petróleo.
“Certamente os desafios logísticos e de estoque es-
tratégico para um país de dimensões continentais são
temas centrais para a discussão da regulação”, avalia
ele, que não vê o equacionamento de todas as questões
envolvidas no curto prazo. “Existem previsões de que
o setor levará mais de cinco anos para que, de fato, as
regulações de refino e abastecimento estejam imple-
mentadas”, afirma Menezes.

LEO PINHEIRO / VALOR

Dutra, da
KPMG: queda
do petróleo
prejudica
projetos

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