Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

da Petrobras em Mauá (SP), mas o
fator preponderante foi a mudan-
ça de comportamento do consumi-
dor, que em alguns casos chegou a
comprar três ou mais botijões para
se precaver de um eventual desa-
bastecimento. “Houve um aumen-
to de 10% nas compras, talvez por
precipitação. Mas o aumento não é
responsabilidade das distribuidoras,
porque a Petrobras reduziu o repas-
se de preços”, diz Mello, do Sindigás.
A Petrobras confirma a queda.
Segundo a assessoria de imprensa
da empresa, o preço médio do GLP
no início de abril era de R$ 21,85 por
botijão de 13 kg, o que representaria
ao consumidor final um preço mé-
dio de R$ 65 – em dezembro, era de
R$ 26,62. A redução está alinhada
com a queda de preços do barril de
petróleo, que caiu de US$ 51,86 no
início de março para US$ 22,74 no
fim do mesmo mês.
Segundo Alexandre José Borjaili ,
presidente da Associação Brasileira
dos Revendedores de GLP (Asmirg-
-BR), houve um estrangulamento no
abastecimento junto às distribuido-
ras e a consequente falta de botijões
nas revendas.
Borjaili culpa o atual modelo pela
alta de preços. “Há uma concentra-
ção de mercado nas mãos de cinco
distribuidoras. O transporte cabe aos
revendedores, cujos motoristas che-
garam a esperar por até sete dias para
terem os caminhões abastecidos nos
depósitos”, afirma. Para regularizar o
abastecimento, a Petrobras fechou
uma importação de 60 mil toneladas
para distribuição em abril.
Nos próximos meses, a Petrobras
deve anunciar as regras para os lei-
lões de oito refinarias, que deverão
ser realizados neste ano. O desinves-
timento atinge plantas em diversos
Estados, mas preserva cinco unida-
des, caso das plantas de Paulínia
(Replan), Duque de Caxias (Reduc)
e Capuava (Recap), responsáveis por
50% da atual capacidade de refino.
“A entrada de grupos estrangeiros
trará mais competitividade, princi-
palmente nos campos que envolvem
estratégias de fornecimento, estoca-
gem, logística e preços”, diz Mello.


Mas, por se tratar de um novo mode-
lo, ele defende que haja uma fase de
transição, de até três anos, por meio
da formação de um grupo compos-
to por todos os agentes da cadeia de
GLP. “Durante décadas, o diálogo das
distribuidoras era unicamente com
a Petrobras. O objetivo será evitar
abusos de mercado na formação de
preços e entender como funciona-
rão os terminais de importação e de
cabotagem, em situações em que o
distribuidor prefira importar a com-
prar do refinador.”
Outro ponto a ser equacionado
neste ano serão as restrições vigen-
tes ao uso do GLP, que persistem na
Lei 8.176/1991, editada por ocasião
da Guerra do Golfo, entre Iraque e
Kuwait, nos anos 1990. Para garantir
o abastecimento nas residências, a
lei proibiu o uso do GLP em motores
e geradores, o que impede a entrada

do combustível desde usos triviais,
como aquecimento de piscinas e
condomínios, até a utilização em
setores como o agronegócio. “É uma
regulação descabida, não existe no
resto do mundo”, diz Pedro Turque-
to, diretor de desenvolvimento e
gestão da Copagaz. Segundo a ANP,
a discussão do marco regulatório
terá início em agosto, com término
em janeiro de 2021.
Hoje com 8,72% do mercado, a
Copagaz deve assumir a liderança
do mercado, caso o Conselho Ad-
ministrativo de Defesa Econômica
(Cade) aprove a aquisição da Li-
quigás. A liderança é da Ultragaz,
com 23,38%. “As duas marcas vão
permanecer. Com a incorporação
dos ativos e da equipe da Liquigás,
teremos mais capilaridade, princi-
palmente no Norte e no Nordeste”,
diz Turqueto.

JULIO BITTENCOURT / VALOR

Turqueto,
da Copagaz:
maior entrada
no Norte
e Nordeste

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