Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

ETANOL


A


perspectiva de rompimento de contratos de
compra do etanol anidro entre distribuidoras
de combustíveis e as usinas ameaçava compli-
car ainda mais o cenário para o setor sucroenergético
entre o fim de março e as primeiras semanas de abril,
adicionando novo fator de preocupação para o setor. As
vendas de etanol hidratado passaram a indicar queda
vertical depois de dois anos de recordes, acentuando a
tendência de baixa nos preços recebidos pelas usinas
num momento de redução nos preços internacionais
do petróleo e de seus derivados. A expectativa de um
ano-safra promissor sofreu uma reviravolta desde a
primeira quinzena de março.
Antes do coronavírus, aponta o consultor Ricardo
Pinto, da RPA, com sede em Ribeirão Preto (SP), um gru-
po de dez a 15 usinas enfrentava situação de pré-default
ou de um “default branco”, contabilizando atrasos no
pagamento de compromissos com fornecedores, e cor-
ria o risco de entrar em recuperação judicial. Depois da
pandemia, os riscos cresceram. “As perspectivas para o
setor vão depender do prazo para a volta à normalidade.
Se isso demorar quatro a cinco meses, vai complicar
muito.” Ele lembra que as usinas poderiam adiar o início
da safra, previsto para 1º de abril, em no máximo 15 dias,
sob o risco de perder a janela para a colheita da cana e
comprometer o fluxo de caixa.
Os dados da RPA mostravam um crescimento de
quase 17% no número de usinas em recuperação ou
com falência decretada, saindo de 106 no início de 2019
para 124 no começo deste ano, representando 28% das
444 usinas do país. Deste total, 338 mantinham suas

operações, das quais cerca de um quinto (67 plantas)
encontrava-se em regime de recuperação ou em proces-
so falimentar. Entre 2017 e 2020, o número de usinas
em recuperação saltou 85%, saindo de 52 para 96. “A
situação para as usinas vai se complicar mais para as que
estão em pior situação e esperavam um ano de virada
nos preços do açúcar. O comportamento desse mercado
tornou-se uma incógnita”, diz Pinto.
Em meados de março, o Itaú Unibanco, segundo seu
diretor de agronegócio, Pedro Fernandes, havia revisado
a estimativa para o preço do etanol hidratado de R$ 1,90
para R$ 1,60 na média esperada para safra 2020/21, num
corte de 15,8%. Na comparação com o preço de R$ 1,84
observado no ciclo 2019/20, a nova previsão embutia
uma expectativa de redução de 13%. Ele considerava,
àquela altura, que o setor pudesse experimentar preços
não muito distantes da média registrada em 2018/19,
por volta de R$ 1,62 o litro, quando os preços do petróleo
estavam na casa de US$ 32 por barril.
A cotação do Brent havia retomado esses níveis no
início de abril, depois de ter desabado 56% entre os dias 4
e 31 de março, passando de US$ 51,13 para US$ 22,74. Mas
o barril do WTI (West Texas Intermediate) se mantinha na
faixa de US$ 26 na primeira semana de abril, acumulan-
do perdas de 58,5% em 12 meses. Concorrente direta do
etanol, a gasolina estava mais barata no mercado inter-
nacional. Segundo Plínio Nastari, da Datagro, os preços
do galão chegaram a cair 70% desde meados de 2019,
saindo de US$ 2,25 para US$ 0,68 em março deste ano.
Dados do início de abril do Centro de Estudos Avan-
çados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP,

Há forte retração nas vendas, queda


nos preços e ameaça de interrupção


nos contratos de compra de anidro


pelas distribuidoras Por Lauro Veiga Filho


SETOR VIVE

TEMPESTADE


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