Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

BIOMASSA


todo o setor, agravada pela tendên-
cia de encolhimento do mercado.
Ainda em março, as entidades da
área elétrica passaram a considerar
uma redução de 0,9% na carga de
energia neste ano em relação a 2019,
para 67.249 megawatts médios – um
corte de 5% ante a estimativa ante-
rior. Apenas no primeiro bimestre,
o consumo de eletricidade havia re-
cuado 1,2% na comparação a igual
período de 2019, antes que os efeitos
do coronavírus fossem verificados.
A retração acirrou os conflitos
no setor e as empresas de distri-
buição de energia comunicaram
a empresas do setor de biomassa,
assim como a geradoras de energia
de outras fontes, que poderiam não
honrar integralmente os contratos
de fornecimento de eletricidade, ale-
gando “eventos de força maior” ou
“motivo fortuito”. Numa dimensão
aproximada do possível estrago, a
cogeração de energia pode chegar
a responder por 15% das receitas
das usinas e por até 30% da geração
de caixa medida pelo retorno antes
de impostos, despesas financeiras,
depreciação e amortizações (Ebitda,
na sigla em inglês), segundo Pedro
Fernandes, diretor de agronegó-
cio do Itaú BBA. Apenas em 2019,
acrescenta Souza, a bioeletricidade
da cana gerou receita de R$ 5,5 bi-
lhões para as usinas.
Duarte lembra que o setor vinha
avançando na área da “biometani-
zação”, sistema que utiliza o biogás
produzido a partir de resíduos da
biomassa. O biometano obtido a
partir desse processo, mais eficiente
e com maior poder de combustão,
pode ser aproveitado tanto na movi-
mentação de frotas quanto na gera-
ção de energia elétrica. Ele relaciona
duas plantas já em operação – uma
da Adecoagro, em Mato Grosso do
Sul, e a segunda da Coopcana, no
norte do Paraná – e uma terceira em
fase de instalação pela Raízen. No pri-
meiro caso, em operação desde julho
de 2018, a Usina Ivinhema consegue
rodar 24 horas por dia durante 365
dias do ano, segundo Duarte, geran-
do 120 MW a partir de biometano,
usando tecnologia integralmente

nacional, desenvolvida em parceria
entre a Adecoagro e a Methanum
Engenharia Ambiental, com recur-
sos da Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep). A Usina Paraíso, da
Coopcana, instalada em Paraíso do
Norte (PR), tem capacidade para 10
MW e tem gerado cerca de 4 MW a
partir do processamento de biogás
extraído de vinhaça concentrada.
O projeto da Raízen em Guariba
(SP), diz Antônio Simões, vice-pre-
sidente de logística, distribuição e
energia da empresa, está em fase fi-
nal de implantação e a expectativa é
de que inicie as operações no come-
ço de 2021, com previsão de atingir
sua capacidade máxima, na faixa de
21 MW, em até três anos. “Com um
investimento de R$ 153 milhões e
utilizando duas tecnologias combi-
nadas, a torta de filtro e a vinhaça, a
previsão é que a produção atinja a
ordem de 138 mil megawatts/hora
por ano.” Quase 70% da energia a ser
gerada, em torno de 96 mil MHh,
será destinada ao sistema interliga-
do. “O valor excedente de energia
poderá ser negociado no mercado
livre ou por outros contratos.”
A IBS Energy, que havia neste
ano finalmente resolvido construir
uma usina termelétrica a biomassa,
em parceria com a gigante chinesa
PowerChina, decidiu “colocar todo
mundo em casa” a partir de 23 de
março, segundo seu presidente,
Antônio Bento. Depois de ajustes no
projeto, elevando sua capacidade de
50 MW para 95 MW, a empresa e o
sócio chinês estavam prontos para
investir em torno de R$ 600 milhões

Fonte: União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica)

Geração em queda

Acréscimo em MW Participação %

Participação do setor no acréscimo total de capacidade no setor elétrico

2010

2013

2016

2019

28

24

8

1

1.750

1.431

807

41

entre construção da unidade e aqui-
sição de matéria-prima, principal-
mente eucalipto. A ideia era ins-
crever a usina no leilão de energia
nova A-4, previsto para 28 de maio
e agora postergado pelo MME.
Também em função da Covid-19,
a Energik, empresa do setor de ener-
gia do grupo Unium, resultado da
associação entre as cooperativas Frí-
sia, Castrolanda e Capal, havia adia-
do de março para abril o início da
operação da unidade de biometano
instalada em Castro (PR), na área da
Alegra, indústria de alimentos igual-
mente abrigada sob o guarda-chuva
da Unium. A planta, equipada com
uma área de recepção e tratamento
de resíduos, biodigestor, biorrefina-
ria, motogeradores e subestação de
energia, tem capacidade para pro-
duzir 730 MW/h por mês, de acor-
do com Vinícius Guilherme Fritsch,
gerente de negócios de energia da
Energik, e consumiu R$ 13,8 milhões
em investimentos.
A planta aproveitará os resíduos
do abate diário de 3,5 mil suínos
pela Alegra e ainda outros rejeitos
da unidade de lavagem de batatas e
de produção de batata frita da Cas-
trolanda e do laticínio da Naturalle
para produzir biogás com 60% de
metanol e 40% de CO 2. “Com a reti-
rada do gás carbônico, da umidade
e do ácido sulfúrico, obtemos um
gás com 97% de metano, que será
queimado no biogerador para
produção de energia para venda”,
afirma Fritsch. O CO 2 é aproveitado
pela Alegra para atordoar os suínos
antes do abate.

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