Valor Setorial - Energia (2020-04)

(Antfer) #1

NUCLEAR


de operação e manutenção”, disse
no relatório o ministro-relator Wal-
ton Alencar Rodrigues.
Inicialmente, estava previsto que
os estudos sobre o modelo de negó-
cio seriam analisados até o fim de
março pelo Conselho do Programa
de Parcerias e Investimentos (PPI),
formado por ministros e represen-
tantes das agências reguladoras.
Com o coronavírus, não há data de-
finida para a escolha, mas o prazo
inicial para conclusão está de pé.
Também em razão da pandemia, o
ministro da Economia, Paulo Gue-
des, descartou a possibilidade de
privatizar a Eletrobras (controla-
dora da Eletronuclear) em 2020, o
que obrigaria uma reestruturação
societária da União, porque, por
força constitucional, a Eletronuclear
não pode ser privatizada.
A maior dúvida é quanto ao custo
do megawatt/hora (MWh) apontado
por consultorias ao TCU. Segundo
os estudos, o preço de R$ 480 MWh,
estimado pelo Conselho Nacional
de Política Energética (CNPE) para
Angra 3, é superior ao das demais
fontes energéticas (hidrelétricas, ter-
melétricas, eólica, solar e biomassa)
previstas no Plano Decenal de Ener-

gia 2026, elaborado pela Empresa
de Pesquisa Energética (EPE), ainda
mais considerando que a potência
instalada será de 1.405 MW – bem
inferior à da Hidrelétrica de Itaipu,
com 14 mil MW.
Segundo Leonam dos Santos
Guimarães, presidente da Eletro-
nuclear, a crítica é improcedente.
“Trata-se de um preço de referência,
que será reduzido quando estiver
definido o processo de escolha do
parceiro da Eletronuclear para a
conclusão do empreendimento.” Ele
cita o custo das termelétricas, que al-
cançou R$ 770 MWh, quando houve
o acionamento da bandeira tarifária
2 (amarela ou vermelha) em 2018.
Guimarães aponta a importância
da usina para a região Sudeste. “A
geração vinda de Angra 3 será sufi-
ciente para atender 4,45 milhões de
pessoas. Quando finalizada, a gera-
ção das três usinas da central nuclear
será equivalente a 68% do consumo
do Estado do Rio de Janeiro e 6% do
país.” Hoje, a contribuição de Angra
1 (640 MW) e de Angra 2 (1.350 MW)
representa 3% do consumo do Brasil
e equivale a 40% da energia consumi-
da no Estado do Rio de Janeiro.
Em conjunto com a Coppe-UFRJ,

a Eletronuclear desenvolveu um es-
tudo, no qual foram prospectadas 40
grandes áreas propícias para novas
usinas, principalmente no Sudeste e
Nordeste. Em 2019, o MME anunciou
a intenção de construir seis novas
usinas nucleares até 2050, com um
custo estimado de US$ 30 bilhões.
Para Celso Cunha, presidente da
Associação Brasileira para Desen-
volvimento de Atividades Nucleares
(Abdan), as características do país de-
vem contribuir para atrair o capital
externo. “O Brasil conta com a sexta
maior reserva global de urânio, de-
tém a tecnologia de beneficiamento
e enriquecimento e capacidade de
fabricação dos elementos combus-
tíveis a serem usados nas plantas. A
maior parte dos equipamentos está
paga. O problema maior está na ca-
pacitação das empresas nacionais de
engenharia civil, porque as maiores
foram atingidas pela Lava Jato.”
Para a consultora Lavinia Hollan-
da, diretora- executiva da consulto-
ria Escopo Energia, a conclusão de
Angra 3 é justificável pelo que já foi
investido, mas os eventuais futuros
empreendimentos devem merecer
uma reflexão mais aprofundada
quanto à relação custo-benefício.

LEO PINHEIRO / VALOR

Lavinia, da
Escopo Energia:
novos projetos
devem observar
custo-benefício

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