FINANCIAMENTO
ca, como também por não haver concorrência. Ninguém
conseguia competir com a TJLP subsidiada pelo Tesouro.
Tudo mudou depois de 2016. Encerrada a pandemia,
provavelmente terá de retomar o seu papel estratégico
de fomentador dos grandes projetos, não apenas como
fornecedor do seu aval de segurança, mas também es-
truturador principal dos recursos necessários.
“Em 2019, as debêntures de infraestrutura oferece-
ram, por prazos bem longos, às vezes de até 25 anos,
custos inferiores aos praticados pelo BNDES. Isso não vai
acontecer mais daqui para a frente”, diz Luiz I. “Depois
que o mercado de capitais voltar a operar, irá demorar
um tempo até se conhecerem o apetite dos investidores,
suas cautelas, propensão ao risco e disposição a alon-
gamento. Não se sabe também a maneira e a vontade
com as quais as empresas retornarão.”
Não se sabe como se dará o retorno dos investidores
estrangeiros. Antes da crise, havia abundância de capital
a juro baixo. O mercado brasileiro de energia era visto
como maduro, previsível e dotado de segurança jurídica.
Era encarado até como opção de renda fixa de longo
prazo, atraindo grandes investidores institucionais ex-
ternos. A complexidade operacional estimulava a par-
ticipação de empresas domésticas com expertise para
transitar sem traumas no cipoal regulatório nacional.
A crise desencadeou um movimento de busca de pro-
teção total. “Todo mundo sabe que a crise vai passar em
algum momento. Por isso é bom ir se preparando para
o instante em que o mercado virar”, diz Luiz I.
Alerta similar faz Christian Gamboa, sócio da PwC
Brasil. Como os novos projetos de energia não param
- sofrem apenas interrupção forçada, porque a situa-
ção de sobreoferta pode ser revertida se o país voltar a
crescer e ninguém quer a instalação de uma nova crise
energética –, haverá fila de novos lançamentos de debên-
tures, sobretudo as incentivadas. E as emissoras não po-
derão ir a mercado todas ao mesmo tempo. Nesse caso,
prevalecerá a lei da oferta e da procura. Se houver muitas
emissões simultâneas, a competição se dará pelo preço.
Quem oferecer taxa mais alta, leva. “Os bancos deverão
exercitar sua capacidade de dosagem para, sentindo o
pulso do mercado e o grau de aceitação e aversão do
investidor, oferecer os títulos de maneira escalonada.”
A fatia do funding ocupada pelas debêntures, de até
70%, deve diminuir com o BNDES tendo de alargar sua
participação. Terá de ampliar sua presença, hoje espe-
cializada na consultoria de alto nível de estruturação,
modelagem jurídica e ambiental. Terá de abrir o seu
caixa para os projetos grandes, que requerem capital
intensivo, deixando o mercado de capitais para as em-
presas necessitadas de capital de giro. “Como muitos
projetos só ficam de pé se o BNDES estiver à frente, o
banco precisa hoje mandar uma mensagem de força ao
mercado”, afirma Gamboa. A prevalência do BNDES se
tornará imprescindível quando os investidores estran-
geiros permanecerem afastados das operações produ-
tivas por um longo período.
As empresas regidas pelo mercado regulado serão
as que sofrerão menos com a crise desencadeada pela
Covid-19, porque os contratos são de longo prazo e com
cláusulas e obrigações juridicamente difíceis de serem
rediscutidas. Mas o sócio-fundador da Capitale Energia,
Rafael Mathias, acredita que o setor de energia elétrica
atravessa um momento de transição que não será inter-
rompido nem pela crise sanitária atual.
O modelo deve persistir abandonando suas pecu-
liares históricas, como a politização e o paternalismo,
e ingressando numa fase de maior competição entre
os players. Não há mais espaço para os contratos de
30 anos indexados à inflação. A partir do instante em
que as usinas eólicas e solares, sob o impacto da queda
dos preços em dólar dos equipamentos, ganharam
competitividade o cenário mudou. E está sendo pos-
sível financiar cerca de 40% da geração diretamente no
mercado livre. “As comercializadoras vêm assumindo
os riscos que as geradoras e os consumidores não que-
rem correr”, diz Mathias. Compõem um segmento do
mercado capaz de modular a oferta de energia con-
forme a sazonalidade. “Uma fábrica de bebida requer
um fornecimento maior de energia durante o verão e
menor no inverno. Quem faz a modulação de acordo
com a demanda é a comercializadora.”
Gamboa, da
PwC Brasil:
retomada
exige
cuidados
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