O Estado de São Paulo (2020-05-11)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-2:20200511:
B2 Economia SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Primeira Pessoa


E-MAIL: [email protected]

O


confinamento à brasileira é
meia-boca. É suficiente-
mente forte para deflagrar
uma crise econômica épica, mas
não o bastante para frear a escalada
da contaminação. Da mesma for-
ma, a resposta do governo federal
fica no meio do caminho. Vai estra-
çalhar as finanças públicas, mas
não evitará o colapso do Produto
Interno Bruto (PIB). O próprio go-
verno estima que o déficit primá-
rio vai superar os R$ 600 bilhões,
quase cinco vezes mais que o mon-
tante original que consta do Orça-
mento. Ao mesmo tempo, as previ-
sões para o PIB mergulham a cada
dia e os mais pessimistas arriscam
uma queda de até 11% em 2020.
Não se fazem mais pessimistas co-
mo antigamente.
A combinação entre explosão de
despesas e queda do produto vai ca-
tapultar a relação dívida/PIB, que
estava em 78% em março, para algo
além dos 90%. A marca dos 90%
carrega um estigma. Em 2010, os
laureados economistas K. Rogoff e
C. Reinhard publicaram um artigo
em que concluíam que o crescimen-
to econômico desacelera quando a
relação dívida/PIB supera 90%. O
texto deu alento aos defensores da
austeridade até que um estudante
da Universidade de Massachusetts
descobriu um erro na planilha Ex-
cel que os autores usaram. Não era
um deslize qualquer. A planilha cor-
reta levava a uma conclusão opos-
ta. O fato é que os economistas sim-
plesmente não sabem qual é o limi-
te máximo para a dívida pública. Sa-
be-se apenas que não é possível au-
mentá-la indefinidamente para fi-
nanciar o déficit porque, se fosse
assim tão fácil, o Burundi, por exem-
plo, não seria um país miserável.
A equipe econômica, que vive
em confinamento conceitual, tem
cólicas ao pensar no aumento dos
gastos públicos. O fervor ideológi-
co, no entanto, turva a visão, mistu-
ra as cartas e impede a seleção de
prioridades. O ministro Paulo Gue-
des não aloca seu recurso escasso
(a ameaça de pular fora do barco)
de forma a maximizar sua função
objetiva (viabilizar o crescimen-
to). O que resta agora? Sobram três
alternativas para estancar a san-
gria dos cofres públicos. Estamos
falando de um ajuste da ordem de

R$ 500 bilhões, já que o Orçamen-
to aprovado antecipava um déficit
primário de R$ 124 bilhões.
A primeira tentação é elevar im-
postos. O problema, aqui, é a mag-
nitude do rombo. O gasto adicio-
nal no Orçamento excede à soma
do que foi arrecadado em 2019 de
IPI e Imposto de Renda. Sem falar
que não há condições políticas pa-
ra elevar a carga tributária e o go-
verno nem sequer definiu ainda
uma reforma tributária para cha-
mar de sua.
Uma segunda opção seria a ven-
da de ativos estatais. Mas mesmo
a privatização da Petrobrás mal co-
briria 1/5 do aumento da dívida em


  1. Também é preciso conside-
    rar que o presidente não tem o ze-
    lo dos cristãos novos e sua conver-
    são recente ao liberalismo não per-
    mite tais exageros. Não é permiti-
    do entrar no curral das vacas sagra-
    das e privatizar o que realmente
    importa.


Sobra o corte das despesas. Feita
a reforma da Previdência que foi
possível, o item mais polpudo é a
despesa de pessoal. Se fosse viável
fazer um corte linear de 10% da fo-
lha, a economia seria menos de 7%
do aumento do déficit em 2020.
Mas também não é factível fazer
um corte dessa magnitude, já que o
governo é refém do lobby do fun-
cionalismo.
É claro que poderíamos ter uma
mistura dessas três alternativas e
sinalizar que, ao longo do tempo, a
relação dívida/PIB pode se estabili-
zar, mesmo que em patamar mais
alto. O ajuste não precisa ser feito
de uma só vez. Ainda assim, vamos
esbarrar no essencial. Faltam ao
presidente força, habilidade e con-
vicção para levar adiante reformas
essenciais para nos tirar desta bara-
funda. O País, atarantado, espera
um sinal que aponte o norte. Mas
todo caminho é difícil quando não
se sabe para onde ir.

]
ECONOMISTA, FOI DIRETOR DE POLÍTICA
MONETÁRIA DO BANCO CENTRAL E PRO-
FESSOR DE ECONOMIA DA PUC-SP E DA
FGV-SP. E-MAIL: LUISEDUARDOAS-
[email protected]

Combinação de explosão
de despesas e queda do
PIB vai catapultar relação
dívida/PIB para além de 90%

O


s preços remuneradores do milho e a incerteza econômica em
meio à pandemia do novo coronavírus impulsionam a contratação
de seguro agrícola para a segunda safra do cereal, cultivada após a
colheita de verão. Capitalizado, o produtor investiu na lavoura, sem per-
der o foco nos riscos que a cultura suscetível aos meses de frio pode sofrer.
“Saímos de uma safra com a saca de 60 kg de milho negociada a R$ 32 e en-
tramos neste ciclo com a saca a R$ 44. Isso foi decisivo”, avalia Everton To-
descatto, gerente comercial de Agronegócios da Sancor Seguros. A empre-
sa estima incremento de 10% nas vendas da modalidade que prevê reem-
bolso por quebras na produtividade. Já foram contratados R$ 38 milhões
em apólices com cobertura de 150 mil hectares. Na Tokio Marine, o mon-
tante referente ao milho safrinha chega a R$ 80 milhões, R$ 60 milhões a
mais que no ano passado. Já a Mapfre Seguros estima crescimento de 10%
a 15% na contratação. No caso da BrasilSeg, empresa da BB Seguros, o cres-
cimento de 75% a 80% no seguro rural foi puxado pelo cereal de inverno,
com 11.962 apólices e 1,8 milhão de hectares cobertos.


O tamanho da encrenca


»De novo, não. Joaquim Neto, supe-
rintendente de Produtos Agro da
Tokio Marine, considera que perdas
causadas pelo clima na safrinha de
2019 e na safra de verão deste ano
contribuíram para aumentar o interes-
se do agricultor. “Isso acaba sendo
uma lembrança da importância de
mitigar riscos e impedir perdas.” A
percepção de risco do produtor tam-
bém foi aguçada pela menor janela de
plantio para o cereal, que o torna
mais vulnerável às intempéries, diz
Catia Rucco Rivelles, superintenden-
te de Seguros Agrícolas da Mapfre.
“Após a pandemia, ele quer proteger
mais sua principal fonte de renda.”


»Renda garantida. O produtor tam-
bém está mais preocupado em maxi-
mizar a rentabilidade de suas lavou-
ras, observa Paulo Hora, superinten-
dente de Seguros Rurais da BrasilSeg.
No primeiro ano de oferta para a safri-
nha, o seguro faturamento da empre-
sa, que restitui perdas por quebras
climáticas ou queda de preços, já al-
cançou 2.570 apólices vendidas, com
cobertura de 360 mil hectares. “A os-


cilação do preço das commodities e o
câmbio volátil influenciam na procu-
ra do agricultor por este tipo de segu-
ro”, comenta Hora.

»Menos risco. Diante de relatos re-
correntes sobre a maior procura de
agricultores pela recuperação judicial,
Bartolomeu Braz Pereira, presidente
da Associação Brasileira dos Produto-
res de Soja (Aprosoja Brasil), pede
apoio à contratação de seguros. Para
ele, faltam políticas de estímulo, o que
reduziria a necessidade de recupera-
ção. Enquanto produtores financiados
por bancos oficiais adquirem cobertu-
ra, diz, o mesmo não ocorre quando o
crédito vem de tradings ou agroquími-
cas. Ele propõe que nas operações de
barter (troca de insumos por produto
entregue na colheita) seja incluso va-
lor extra que cubra o seguro.

»É com vocês. O presidente da As-
sociação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais (Abiove), André
Nassar, concorda com a importân-
cia de o produtor fazer seguro, mas
diz que a tarefa “não cabe às tra-

dings”. “Seguro é questão de merca-
do com seguradoras, produtores, e
eventualmente com o governo, de
ter um programa com subsídio mais
amplo. Nós (tradings) nunca coloca-
remos seguro como condição (para
dar crédito) ”, diz. A onda de produto-
res em recuperação pode se refletir
em juros mais altos cobrados pelas
empresas, alerta. “Com a Selic cain-
do, isso deveria reduzir o custo do
crédito. Mas, se na carteira há produ-
tores em recuperação, dilui esse ris-
co para todo o resto.”

»Concorrência. Com a criação da
Cédula Imobiliária Rural (CIR)
aprovada na chamada Lei do Agro
(13.986) – documento referente à
fração de terra dada como garantia
na obtenção de crédito – agriculto-
res deverão ter acesso a mais agen-
tes financiadores (bancos e tra-
dings) e a dinheiro mais barato, na
visão de Fernando Pimentel, sócio-
diretor da Agrosecurity. Até então,
a única garantia imobiliária era a
hipoteca de toda fazenda. Muitos
bancos não aceitavam hipoteca já
apresentada a outros credores e pro-
dutores pagavam caro para desmem-
brá-la a fim de obter recursos com
mais agentes. “A CIR deve estimu-
lar a concorrência e a queda de ju-
ros”, pondera.

»Quase lá. A Castrolanda deve inau-
gurar até junho em Piraí do Sul (PR)
uma usina de biogás com capacidade
de gerar 1 MW/h de energia. O projeto
recebeu R$ 15 milhões. É o terceiro
investimento a ser concluído este ano.
Já tinha colocado recursos em sua se-
gunda unidade de produção de leitões,
em Piraí, com capacidade para 200 mil
animais/ano, e na torre de secagem de
leite, em Castro, para 600 mil li-
tros/dia. A Castrolanda aplicou R$ 150
milhões nos dois empreendimentos.

»Cautela. A Castrolanda tinha planos
de investir R$ 110 milhões em ajustes
em frigoríficos e indústrias de leite e ra-
ção e na ampliação da unidade de bata-
tas fritas em Castro, mas segurará pelo
menos metade do valor para entender
como o mercado reagirá ao coronavírus.
“O momento é de insegurança”, diz o
presidente, Willem Bouwman.

ISADORA DUARTE, LETICIA PAKULSKI e
CLARICE COUTO

E


specializada em seguro para
veículos acima de dez anos, a
Suhai tem carteira com 300
mil clientes e oferece “seguros com-
pactos”, só para roubo e furto, o que
permite preço inferior ao de compa-
nhias que só oferecem cobertura to-
tal que inclui, por exemplo, perda par-
cial. Essa estratégia tem atraído entre-
gadores e motoristas de serviços de
aplicativos que tiveram demanda am-
pliada com a epidemia da covid-19.

lPor que o foco em veículo mais velho?
A principal empresa da nossa hol-
ding é líder em segurança pessoal.
Em virtude dessa expertise decidiu
abrir uma seguradora voltada ao seg-
mento de veículos com propósito de
inverter índices como o de que 98%

das motos circulam pelo País sem
proteção, assim como 70% dos car-
ros e 85% dos caminhões. Oferece-
mos um seguro compacto, com co-
bertura que inclui só furto e roubo.
Outras coberturas são opcionais.

lQual a vantagem desse seguro?
Quando se tira, por exemplo, cober-
tura de perda parcial (para conser-
tos) há redução do valor e camadas
da sociedade conseguem proteger
seus veículos por valor acessível.
Além disso o alto índice de recupera-
ção também reduz os preços.

lComo faz a seguradora tradicional?
No fundo são empresas de estatística
que medem o risco pelo perfil
do cliente. Quanto maior o
risco, maior o valor do
seguro. Também temos
estatísticas para com-
por o preço, mas como
recuperamos mais do
que outras compa-
nhias, nossa perda é
menor e isso é repassa-
do ao preço. Assim, con-
seguimos atrair clien-
tes com perfis

considerados de alto risco que muitas
seguradoras não aceitam ou cobram
preços abusivos.

lA Suhai é única a atuar nesse nicho?
Todas as seguradoras têm produto
que cobre só furto e roubo, mas nor-
malmente focam naqueles com co-
bertura total e atuam também com
seguro de casas, vida, etc. Nós foca-
mos em um único tipo de seguro e
aceitamos qualquer veículo para qual-
quer perfil de utilização.

lComo faz para obter alto índice de re-
cuperação?
Temos um centro de inteligência es-
tratégico com mapeamento de dados
da sinistralidade que facilita a re-
cuperação.

lHouve queda de vendas por
causa do coronavírus?
No início sim, mas temos
conseguido êxito nas vendas
para pessoas que trabalham
na rua, como entregadores e
motoristas de aplicativos que
tiveram o trabalho aumentado e
estão mais expostos a riscos. /
CLEIDE SILVA

Opinião


l]
LUÍS EDUARDO
ASSIS

Colheita de milho. Grão valorizado estimulou contratação de apólices


l Avanço

R$ 156,6 bilhões
foi o montante de crédito rural
contratado entre junho
de 2019 e abril deste ano

Contratação de seguro


para milho salta no País


coluna do


‘Atraímos nicho


que outras


seguradoras


desprezam’


JOÃO PAULO SANTOS/ESTADÃO

O Mapa da Bolsa


Azul PN

BR Malls ON

CIA Hering ON

Cogna ON

Cyrela Realty ON

32,33%

24,74%

42,53%

19,22%

58,44%

● As ações que mais subiram e as que mais caíram
na semana passada

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

OBS.: EMPRESAS QUE FAZEM PARTE DO ÍNDICE IBOVESPA

Melhores

Klabin S/A UNIT

Suzano S.A. ON

B2W Digital ON

Gerdau Metalúrgica PN

Minerva ON

Piores

Na semana Em 1 mês
0

-19,00%

-17,79%

-10,62%

2,83%

-5,23%

20,66%

20,15%

19,45%

13,20%

12,56%

-21,84%

-18,53%

-16,78%

-14,62%

-14,52%

Robson Tricarico,
diretor comercial da Suhai Seguradora

SUHAI SEGURADORA
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