O Estado de São Paulo (2020-05-11)

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B6 Economia SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


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ealmente os tempos são outros. Os
dias de hoje trazem tanto notícias
muito boas, como muito ruins. Até
os pessimistas estão em dúvida de como
enxergar a realidade.
Quem diria que chegaríamos a juros bási-
cos no Brasil em 3%, com taxa real de juros
abaixo a 0,26% ao ano e inflação prevista
abaixo de 1% para 2020. Até bem há pouco
tempo acreditávamos que nosso país fosse
ter taxas de baixas de inflação e juros, mas

a perspectiva é que essa conjunção de fatores
viesse para permitir o nosso desenvolvimen-
to econômico e social. Que nossos dirigentes
aproveitassem o momento para acertar as
contas do país, déssemos um passo decisivo
para o acerto das contas públicas, acabasse a
farra fiscal, fim a certos privilégios e tudo que
nos tornasse a nação que os brasileiros mere-
cem – aquela que está sempre presente nos
discursos, mas que nunca se torna realidade.
Mas, o fato é que não estamos fazendo a li-
ção de casa. A condução do combate a pande-
mia, os desencontros entre as autoridades, a
volta do fisiologismo, que nestas bandas ad-
quire o título de “centrão”, entre outras atitu-
des, não trazem novo ânimo. Talvez seja a du-
ra realidade se mostrando como tal. No entan-
to, essa realidade também permite observar

atitudes nobres na direção da solidariedade,
de união entre concorrentes e de instalação
de uma rede de proteção social.
Todos os dias temos notícias de empresas e
entidades fazendo muita coisa boa, criando
uma rede que busca aliviar a situação das pes-
soas e no combate a covid-19. Desde entrega
de respiradores, máscaras, cestas básicas, lei-
tos hospitalares, até amparo psicológico. Não
só aqui, o exemplo também vem de outros paí-
ses. Nestes dias andei trocando mensagens
com um amigo que está em Portugal, o Wil-
liam Eid, que me contou de ações concretas
de proteção social para a população e um es-
pírito de comunidade/solidariedade que per-
mitiu antes mesmo de qualquer medida do
governo que o comércio fechasse suas portas,
no início de março, antes de qualquer morte.

Outro exemplo de sucesso por lá são as
“caixas solidárias” encontradas em praças
ou na porta de supermercados, que são
grandes caixas do tipo “quem puder encha,
se precisar pegue”. Em Portugal o governo
estendeu a assistência médica gratuita aos
imigrantes ilegais. Enfim, tanto aqui como
em outros países, temos exemplos de mos-
tras de humanidade e cuidado com o outro.
Neste momento, uma atitude concreta
pode ser tomada por todos quando da de-
claração do imposto de renda: doar parte
do imposto de renda devido a Projetos de
Assistência Social. A previsão é que os pro-
jetos sociais também sentirão os efeitos
econômicos da pandemia. É importante
buscarmos incentivar ações tornado a du-
ra realidade em algo mais humano.

Historicamente, quinto


mês do ano é de


perdas para a Bolsa;


especialistas avaliam as


chances de nova queda


A ‘maldição’ de maio vai se repetir?


● Nos últimos 25 anos, maio foi o pior período do ano para o Ibovespa

UM MÊS PARA ESQUECER

Retorno em maio de cada ano
EM PORCENTAGEM

FONTE: B3 INFOGRÁFICO/ESTADÃO

0

-2,

10,

13,

-15,

-2,3 -3,7 -1,8 -1,

6,

-0,

1,

-9,

6,8^7

12,

-6,

-2,
-4,

-0,

-6,

-10,
-11,

-4,

-10,

0,

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019


  • 1,39%
    FOI A MÉDIA
    NO PERÍODO


Férias no Hemisfério Norte. Maio marca o início do verão nos EUA e muitos investidores vendem suas posições na Bolsa

]
FÁBIO GALLO

Márcio Kroehn


Há um ditado inglês que pro-
voca pavor nos investidores
globais do mercado de ações:
“sell in may and go away”
(venda em maio e vá embora,
em uma tradução livre). Essa
história remete à Bolsa de Va-
lores e aos potenciais prejuí-
zos no quinto mês do ano. O
Stock Trader's Almanac, que
estuda os ciclos do mercado
americano de ações, fez um le-
vantamento sobre o compor-
tamento do índice Dow Jones
desde 1950. O resultado mos-
tra por que maio é considera-
do “maldito”.

No período quente do ano no
Hemisfério Norte, o retorno
médio era de apenas 0,3% ante
uma rentabilidade de 7,5% nos
meses frios. Essa diferença foi
válida até 2013. Desde então, a
longa expansão da economia
dos EUA distorceu os números



  • mais de 120 meses consecuti-
    vos de crescimento. “Maio mar-
    ca o começo do verão nos Esta-
    dos Unidos e muitos investido-
    res vendem suas posições quan-
    do não vão acompanhar o mer-
    cado financeiro nas férias”, diz
    Ernani Reis, analista da casa de
    análise Capital Research.
    A chamada ‘maldição’ de
    maio é tratada como supersti-
    ção pela maioria dos gestores,
    analistas e investidores expe-
    rientes. Mas esse fenômeno de
    perdas se repete no Brasil. Des-
    de 1995 (primeiro ano comple-
    to do Plano Real), o principal
    indicador da B3 acumula 17 que-
    das em maio em 25 anos – ainda
    falta ver se 2020 ampliará essa
    liderança. É o mês com a maior
    quantidade de baixas e, tam-
    bém, com o pior retorno médio


(-1,39%). Além disso, os negó-
cios na Bolsa diminuem. Desde
2004, foram realizadas 360
aberturas de capital (IPO) de
empresas ou ofertas secundá-
rias ( follow on ) de ações, mas
apenas nove delas ocorreram

em maio.
“Um período mais longo mos-
tra a correlação existente entre
a Bolsa brasileira com o merca-
do americano, mas isso mudou
a partir dos anos Dilma Rous-
seff, com a recessão no País e o

crescimento nos EUA”, afirma
Marco Saravalle, analista inde-
pendente de investimentos.
“Nos últimos anos, o Joesley
day ( divulgação da gravação de
Joesley Batista com o ex-presiden-
te Michel Temer ), em 2016, e a

greve dos caminhoneiros, em
2018, acabaram sendo os fato-
res extraordinário que intensifi-
caram as quedas em maio.”
Com a alta de 2,74% na sexta-
feira passada, o retorno no mês
está apenas 0,3% negativo e não

há uma indicação clara de como
pode ser o resultado final. Há
motivos para esperar um resulta-
do diferente, principalmente
porque os investidores estran-
geiros já têm se afastado da Bol-
sa brasileira. No início de março,
eles remeteram para o exterior
US$ 45 bilhões, o equivalente a
todo o ano de 2019. “Nosso maio
veio em março passado, quando
o Ibovespa caiu 29,9%”, diz Ri-
cardo Almeida, CEO da Brades-
co Asset Management (Bram).
“Minha visão é cautelosa e oti-
mista. Pode até ser um mês de
recuperação, um maio mais tran-
quilo desde que a gente não te-
nha mais episódios extraordiná-
rios como em 2016 e 2018.”
No entanto, é preciso anali-
sar que os dados macroeconô-
micos do Brasil e do mundo co-
meçarão a vir à tona ao longo do
mês, desde o tombo no PIB do
primeiro trimestre, que será
um indicativo para a projeção
dos próximos trimestres, até os
resultados financeiros das em-
presas, que não devem sur-
preender positivamente os ana-
listas. Além dos indicadores glo-
bais de novos casos de covid-19,
a tensão entre Estados Unidos e
China continua no radar. “Maio
vai reforçar a má fama? Há uma
série de fatores que são mais ne-
gativos e estou preocupado”,
afirma Inácio Ponchet, sócio da
gestora BLP Asset Mangement.
“Minha posição é mais defensi-
va e cautelosa, pois pode ser um
mês de muita realização.” /
COLABOROU ERNANI FAGUNDES

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LUCAS JACKSON / REUTERS

“Um período mais longo
mostra a correlação
existente entre a Bolsa
brasileira com o mercado
americano, mas isso mudou
a partir dos anos Dilma
Rousseff, com a recessão, e
o crescimento nos EUA”
Marco Saravalle
ANALISTA DE INVESTIMENTOS
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