O Estado de São Paulo (2020-05-11)

(Antfer) #1

Caderno 2


Guilherme Sobota


Não é por acaso que o álbum
preferido de Kieran Shudall
(vocalista, compositor e produ-


tor da banda inglesa Circa Wa-
ves) em 2020 seja After Hours ,
de The Weeknd, uma espécie
de apanhado do melhor que a
música pop pré-pandemia con-
seguia produzir. O novo disco
do Circa Waves, Sad Happy , é
uma ambiciosa troca de mar-

chas do grupo criado em Liver-
pool ainda em 2014, uma época
em que talvez o indie rock já
não fosse o gênero favorito de
muita gente.
Mas como nem tudo precisa
ser inovador para funcionar, o
quarto disco da banda usa a fric-

ção do título (feliz e triste) para
colocar um pouco de gasolina
no rarefeito fogo do rock ‘n’ roll
pós-Strokes (“nosso primeiro
disco era uma cópia descarada
deles”, comenta Shudall, por te-
lefone – ele curtiu The New Ab-
normal , o novo do Strokes).
Assim como a aparente con-
tradição do título, Sad Happy
também manipula certo confli-
to entre as raízes da banda no
rock de garagem e as explora-
ções com baterias eletrônicas.
“Sempre fui fascinado por
música pop, escuto muito
Drake, The Weeknd, presto
atenção nos samples do hip
hop, e foi nessa direção que eu
queria apontar esse disco”, ex-
plica Shudall, hoje aos 30 anos.
“Basicamente, não queria diri-
gir para longe das raízes indie,
mas acrescentei elementos e
sons do pop para criar um amál-
gama de dois estilos.”
O disco é dividido em duas
partes, e Happy já estava dispo-
nível nas plataformas desde ja-
neiro, quando a pandemia ain-

da era assunto apenas da seção
internacional dos jornais das
Américas e da Europa. Quando
a segunda parte, Sad , chegou,
em março, o coronavírus já era
uma realidade. “É um tempo
em que o mundo inteiro preci-
sa de música mais do que nun-
ca, todo mundo está precisan-
do preencher as horas”, diz um
Shudall blasé, acostumado a fi-
car em casa quando não está
com sua banda na estrada no
circuito de festivais. “Honesta-
mente, para mim, e muitos com-

positores, o isolamento é cool,
eu tendo a ficar em casa sempre
e fazer música, isso não é novo
para mim.”
Assim, é ao mesmo tempo jus-
tificado e surpreendente que a
primeira frase de Jacqueline , a
música que abre o disco, seja
“eles dizem para ficar em casa”.
Em Move to San Francisco , um
teclado espacial é a base de
uma conversa em que duas pes-
soas discutem sobre a ideia de
se mudar para San Francisco,
“para onde as pessoas felizes
vão”, numa música que, após es-
sa introdução, se transforma
em uma festa indie que se encai-
xaria nos melhores álbuns da
banda francesa Phoenix.
Entre bases de guitarra dese-
nhadas para shows de fim de tar-
de em festivais até investidas em
baladas que buscam o grandio-
so, a banda oferece o seu melhor
trabalho até aqui, num álbum
profundamente agridoce, desde
o título e as primeiras linhas, fei-
to para dançar num mundo que
talvez já não exista mais.

Música*


GANHA CONTORNOS POP


COM O CIRCA WAVES


INDIE


Quarto disco da banda britânica, ‘Sad Happy’ mira para


sonoridade dançante, desenhada no mundo pré pandemia


l Amálgama

EDIÇÕES SESC
sescsp.org.br/edicoes

Josué e o Pé de
Macaxeira
O jovem Josué que vive na
caatinga, ganha um pé de
macaxeira mágico que atinge
proporções gigantescas e o
leva ao encontro de Lampião.
Direção: Diogo Viegas.

SELO SESC
sescsp.org.br/selosesc

SESCTV
sesctv.org.br

Do jazz ao...
A #playlistselo deste mês
exalta: introduções, temas
carregando diferentes
melodias, seções de solos com
improvisações, progressão de
acordes e encerramentos; tudo
de uma forma que, embora nem
toda peça siga essa forma, a
vasta maioria do jazz tradicional
esteja representada.

Lições de Resistência:
Artigos de Luiz Gama na Imprensa
de São Paulo e do Rio de Janeiro
Ligia Fonseca Ferreira (org.)
Publicados entre as décadas
de 1860 e 1880, textos de Luiz
Gama – negro, ex-escravo e
autodidata – relatam a história
de mulheres e homens anônimos
que permaneceram sob o regime
de escravidão, mesmo após
a Lei do Ventre Livre, de 1831.
Disponível em versão digital.

36 SÉRIES COM MAIS DE 800 VÍDEOS
ON DEMAND

sescsp.org.br


Na plataforma Sesc Digital, você encontra áudios, vídeos, imagens
e publicações de parte do acervo formado pela instituição ao longo
de seus mais de 70 anos, além de conteúdos inéditos.
Acompanhe alguns destaques:

Circos
Um Café da Manhã
“Eles vivem uma paixão. Uma
paixão daquelas paixões que a
gente vive às vezes” – este é o
mote de Um Café da Manhã ,
espetáculo que passou pelo
palco do Sesc Consolação
durante a edição de 2015 do
Circos – Festival Internacional
Sesc de Circo, e que você pode
conhecer ou rever.

Tony Allen
Este programa do SescTV
apresenta o show do baterista
nigeriano gravado no Sesc
Pompeia, em 2013. Tony Allen
(1940-2020) é considerado
um dos grandes expoentes da
música internacional por ter
criado com Fela Kuti o afrobeat,
que une música yorubá, jazz,
highlife, funk e ritmos.

Coleções
Palcos Brasileiros:
Theatro José de Alencar
O episódio desta série do
SescTV apresenta o teatro
localizado em Fortaleza (CE)
e construído no século XIX,
como símbolo da expansão
econômica da região. Dentre
os destaques do local está
um jardim de Burle Marx com
plantas típicas brasileiras. DISPONÍVEL ON DEMAND

Shows ao vivo direto
da casa do artista, às 19h.

Em Casa


com o Sesc


/sescaovivo

/s es c s p

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SESC DIGITAL

Toninho
Ferragutti
Dia 11. Segunda

TECNOLOGIAS E ARTES
sescsp.org.br/stopmotion

L

Venha matar a saudade das
oficinas dos Espaços de
Tecnologia e Artes do Sesc e
aprenda online a editar um vídeo
stopmotion no seu celular!

André
Abujamra
Dia 14. Quinta

Ceumar
Dia 12. Terça

Josyara
Dia 13. Quarta

Pesquisa em Foco
Literatura Negra e
Periférica no Brasil
(1960-2000)
Nesta palestra, o sociólogo Mário
Augusto Medeiros da Silva analisa
identidades e percursos históricos
apresentados na produção de
escritores como Carolina Maria
de Jesus, Paulo Lins, Ferréz e
o coletivo de autores negros
Quilombhoje Literatura. O registro
sonoro do bate-papo realizado no
Centro de Pesquisa e Formação
está disponível na íntegra.

Crítica. Ambicioso
novo projeto foi
bem recebido

DYLAN MARTINEZ/REUTERS – 23/6/2017

“Sempre fui fascinado por
música pop, escuto muito
Drake, The Weeknd, presto
atenção nos samples do hip
hop, e foi nessa direção que
eu queria apontar esse
disco. Não queria dirigir
para longe das raízes indie,
mas acrescentei elementos
e sons do pop para criar um
amálgama de dois estilos”

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2020 Especial H3

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