O Estado de São Paulo (2020-05-11)

(Antfer) #1

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A4 SEGUNDA-FEIRA, 11 DE MAIO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Nelson Teich,
ministro da Saúde

»Todos... Segundo Gil Cas-
tello Branco, da ONG Con-
tas Abertas, a maior preocu-
pação é com a transparên-
cia nos gastos públicos, em
especial, nos municípios.

»...os lados. Numa compa-
ração com a Copa de 2014,
a diferença hoje é que o vo-
lume de recursos é dez ve-
zes maior e sua distribuição
está mais pulverizada.

»Olha aí. “Além disso, as
facilidades para que os des-
vios ocorram são muito
maiores porque os preços
estão atípicos. Compras es-
tão exigindo pagamento an-
tecipado, os gastos são va-
riados, houve dispensa de
licitação e, principalmente,
com enorme velocidade de
gasto”, diz Castelo Branco.

»Help. Dos 36 tópicos de
comentários possíveis na
página da CGU sobre a co-
vid-19, praticamente um
terço das quase 13 mil mani-
festações é sobre pedidos e
dúvidas a respeito do bene-
fício de R$ 600 a informais.

»Help 2. O documento re-
lata que as linhas disponí-
veis para tirar dúvidas não
funcionam e que há “gran-
de quantidade de reclama-
ções sobre demora no rece-
bimento do benefício”.

»Bola... Nelson Teich con-
vidou e desconvidou Mauro
Junqueira, secretário execu-
tivo do Conasems (Conse-
lho Nacional de Secretarias
Municipais de Saúde), para
assumir uma das principais
secretarias de seu ministé-
rio: a de Atenção Especiali-
zada à Saúde (SAES).

»... fora. Junqueira chegou
a avisar a interlocutores
que esperava só a nomea-
ção para assumir. Não ima-
ginava que o cargo estives-
se na mira do Centrão. O
Planalto, por isso, barrou. A
triste notícia foi dada ao
técnico pelo próprio Teich.

»Cenário. No polêmico
encontro de quinta-feira
entre Jair Bolsonaro e a
Coalizão Indústria, empre-
sários entregaram um filme
publicitário ao presidente
(para quando o País sair da
crise) e uma tabela com o
desempenho de todos os
setores ali representados.

»Cenário 2. Os números
preocupam: altos fornos de
siderúrgicas e muitas fábri-
cas de cimento já estão
com atividades paralisadas.
No ramo automobilístico,
90% das unidades pararam.

»Dados. Segundo tabela
encaminhada a Bolsonaro e
a Paulo Guedes (Econo-
mia), os setores já apresen-
taram quedas significativas
em abril: brinquedos, 75%;
têxtil, 59%; calçados, 50%;
cimento, 50%; máquinas e
equipamentos, 42%; plásti-
co, 37%; e aço, 35%.

»Pena. Participaram do
encontro 14 líderes empre-
sariais das seguintes entida-
des: Anfavea, Abrinq, Abical-
çados, AEB, CBIC, Abinee,
Abimaq, Abiplast, Abiquim,
Abit, Interfarma, SNIC,
Grupo Farmácia Brasil e
Instituto Aço Brasil. Muitos
ainda lamentam a caminha-
da com o presidente até o
STF por ter desviado o foco
do que interessa.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


Controladoria-Geral da União analisa 400 denún-
cias de supostos desvios de verba pública no comba-
te ao coronavírus. Os casos foram apresentados
por cidadãos a uma plataforma digital criada pela CGU
específica para essas manifestações, a Fala.BR. Algumas
denúncias já estão em fase de apuração, outras, em “cole-
ta de materialidade”. Segundo o mais recente relatório, o
órgão contabilizou um total de 3,7 mil comunicações de
irregularidades e 855 denúncias, em um mês e meio de ope-
ração da plataforma. Todos os casos serão analisados.

AGU analisa denúncias


de desvios na pandemia


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Multa por fake news
chega a R$ 10 mil.

Pág. A


Desinformação


Compras emergenciais são


investigadas em 11 Estados


Adriana Ferraz
Renato Vasconcelos

A pandemia de covid-19 pres-
siona prefeitos e governado-
res a agir de forma rápida pa-
ra assegurar a aquisição de in-
sumos necessários ao enfren-
tamento da doença. Respira-
dores, máscaras e demais
equipamentos de proteção in-
dividual entraram para a lista
prioritária de compras reali-
zadas sem licitação em fun-
ção do novo coronavírus. É
uma guerra comercial, mas
que revela implicações políti-
cas e até policiais. Desde
abril, investigações por mau
uso do dinheiro público se es-
palharam por ao menos 11 Es-
tados e o Distrito Federal.
Desde fevereiro, a legislação
brasileira permite que gestores
públicos comprem, sem fazer li-
citação, bens, serviços e insu-
mos destinados ao enfrenta-
mento da pandemia. Os contra-
tos passam a ser investigados
quando Ministério Público e po-
lícia notam indícios de irregula-
ridades, como preços muito aci-
ma da média praticados por for-
necedores ou demora para en-
tregar mercadorias. Segundo o
Ministério Público Federal, que
atua nas investigações quando
há repasse da União, há 410 pro-
cedimentos abertos de forma
preliminar que podem originar
processos criminais.
Em São Paulo, o Ministério
Público Estadual instaurou um
inquérito civil, desmembrado
em cinco procedimentos, para
apurar compras do governo
João Doria (PSDB). A gestão fe-
chou o maior contrato estadual
até aqui: US$ 100 milhões (cer-
ca de R$ 574 milhões) por 3 mil
respiradores da China. Por en-
quanto, 150 unidades foram li-
beradas pelo governo chinês,
que limita a entrega em lotes.
Segundo a administração tu-
cana, a empresa chinesa foi es-
colhida após pesquisa de merca-
do por apresentar as melhores
condições de volume e prazos.
“A aquisição cumpriu as exigên-
cias legais e os decretos esta-
dual e nacional de calamidade
pública”, informou o governo.
Na semana passada, Doria anun-
ciou a criação de uma correge-
doria para acompanhar com-
pras relacionadas à covid-19.
No Paraná, o comitê de crise
criado para a pandemia já tem
entre seus participantes o con-
trolador-geral do Estado, Raul
Siqueira, que instituiu um con-
selho de aquisições públicas em
parceria com o Tribunal de Jus-
tiça, o Ministério Público e o Tri-

bunal de Contas do Estado.
Em outros Estados, investiga-
ções apuram situações em que
os produtos não foram entre-
gues, mesmo após o pagamento
integral. São os casos de Rio de

Janeiro e Santa Catarina, onde
o governador Carlos Moisés
(PSL) vai enfrentar uma Comis-
são Parlamentar de Inquérito
(CPI) para apurar se houve des-
vio de recursos na negociação
dos respiradores. Anteontem,
uma força-tarefa da Polícia Ci-
vil de Santa Catarina cumpriu
35 mandados de busca e apreen-
são em quatro Estados. A Opera-
ção O2 (símbolo do oxigênio)
investiga a compra de 200 apa-
relhos por R$ 33 milhões.
O governo catarinense afir-
ma que apoia as investigações e
busca reparação aos cofres pú-
blicos por meio judicial em pro-
cesso conduzido pela Procura-
doria-Geral do Estado. Em no-
ta, disse ainda que instaurou sin-
dicância interna para apurar
possíveis irregularidades e afas-
tou preventivamente servido-
res. O secretário de saúde, por
exemplo, deixou o cargo.
No Rio, o ex-subsecretário de
Saúde Gabriell Neves e outros
três suspeitos de obter vanta-
gens em contratos emergen-
ciais para a aquisição de respira-
dores foram presos na semana
passada. O governo de Wilson
Witzel (PSC) fechou contrato
de R$ 9,9 milhões por 50 apare-
lhos. A investigação corre em si-
gilo. O governo informou que o
subsecretário foi afastado e que
os contratos são monitorados
por auditoria permanente.
A origem do recurso emprega-
do – via governos federal, esta-

duais, municipais ou uma mes-
cla de todos – dificulta a fiscali-
zação. Na Paraíba, a Operação
Alquimia, da Polícia Federal,
apura o desvio de verbas do Es-
tado e da União em Aroeiras, na
região de Campina Grande. A
suspeita é que a prefeitura te-
nha usado parte dos repasses
destinados à compra de insu-
mos médicos para adquirir, por
R$ 580 mil, cartilhas sobre o co-
ronavírus oferecidas, de graça,
no site do Ministério da Saúde.
A prefeitura não foi localizada
para comentar.

Prejuízo. Denúncias também
renderam ações da PF no Ama-
pá, onde a Operação Virus Infec-
tio apontou variações de até
814% no preço de máscaras com-
pradas pelo fundo estadual de
saúde. Se a irregularidade se
confirmar, o prejuízo seria de
R$ 639 mil. O governo de Wal-
dez Góes (PDT) diz que a com-
pra ocorreu no início da pande-
mia, quando os preços estavam
“majorados”. Após a ação da
PF, Góes abriu uma conta espe-
cífica dos gastos com a pande-
mia para facilitar a fiscalização.

Autorizados a adquirir insumos e aparelhos sem licitação por causa da pandemia, governos


e prefeituras viram alvo de ações policiais e do Ministério Público por suspeita de desvios


Alexis Fonteyne

Respiradores chegam


quebrados e falsificados


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


PRONTO, FALEI!

Assim como o avanço de casos
da doença, denúncias de negó-
cios supostamente superfatura-
dos se alastram pelo País. Mas
há situações em que a suspeita
de irregularidades parte do pró-
prio poder público. Na semana
passada, a Prefeitura de Rondo-
nópolis, terceira maior cidade
de Mato Grosso, chamou a polí-
cia após constatar que 22 respi-
radores comprados por R$ 4,
milhões eram falsos.
O vendedor, que está preso,
entregou monitores cardíacos
em caixas “maquiadas” com
adesivos e manuais dos produ-

tos solicitados pela administra-
ção municipal.
No Pará, o governador Hel-
der Barbalho (MDB) se disse
surpreso ao constatar que os pri-
meiros 152 aparelhos de um to-
tal de 400 importados da Chi-
na, por R$ 50 milhões, chega-
ram sem condições de uso.
A PF abriu procedimento pa-
ra investigar, e Barbalho conse-
guiu na Justiça o bloqueio dos
bens da empresa contratada,
além da retenção dos passapor-
tes dos sócios até que se forne-
çam equipamentos em condi-
ções de funcionamento ou que

se faça o ressarcimento do valor
empenhado. O Pará entrou em
lockdown ontem. O Estado já
soma mais de 650 mortes.
Em Roraima, o secretário da
Saúde foi exonerado depois de
comprar e pagar, de forma ante-
cipada, respiradores que não fo-
ram entregues. “No nosso caso,

o secretário não seguiu os ritos
internos. Não comunicou so-
bre a compra à controladoria
nem a mim. Não se trata de má-
fé, mas de falha administrati-
va”, afirmou o governador Anto-
nio Denarium (PSL), que diz
ter aberto sindicância interna
para apurar o caso. / A.F. e R.V.

SOB SUSPEITA

“Chegar de jet ski para comer churrasco é puro de-
boche! Só votamos em JB no segundo turno para
nos livrar da cleptocracia do PT. Que vergonha!”

Deputado federal (Novo-SP)

NA WEB
Análise. Leia
texto do professor
Floriano Marques

estadao.com.br/e/analise_floriano
6

»CLICK. Vídeo da Coali-
zão Indústria diz que,
quando a quarentena ter-
minar, a recuperação de-
mandará a união de to-
dos e o consumo de pro-
dutos fabricados no País.

COLUNA DO ESTADÃO

POLÍCIA CIVIL DE MATO GROSSO

Fraude.
Homem foi
preso por
vender 22
ventiladores
respiratórios
falsos para
prefeitura no
Mato Grosso

POLICIA FEDERAL AMAPA

Amapá. Apreensão de produtos na operação Virus Infectio, contra o superfaturamento

l Compra de
respiradores
Diferença nos valores pagos ou a
não entrega motivam apurações
em AM, RJ, RR, SC, PA e SP.

l Equipamentos de
proteção
No AP, DF, PB e TO, os órgãos de
fiscalização questionam os valo-
res pagos em itens de proteção,
como máscaras e luvas.

l Hospitais de
campanha
A destinação de verba para estru-
turas temporárias foi questiona-
da no DF, Mauá (SP), Aracaju(SE)
e Itajaí (SC), por exemplo.

l Exonerações na Saúde
Em meio às suspeitas de superfa-
turamento, RR e SC exoneraram
seus secretários de Saúde. No
RJ, o nº 2 da pasta foi preso.

l Outros casos
Também são investigadas com-
pras de testes para covid-19 e
até de cartilhas educativas.
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