Valor Econômico (2020-05-09,10 e 11)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 10 da edição"11/05/2020 1a CAD A" ---- Impressapor cgbarbosa às 10/05/2020@17:02:


A10|Valor|Sábado,domingoe segunda-feira, 9, 10 e 11 de maiode 2020

Opinião


Amazônia hoje: ocupar


não é desenvolver


Grandepartedaáreadesmatadanaregiãotembaixa


aptidãoagrícola.PorJoaquimLevy, AnaToni e outros


Considerar que o
desmatamento não tem
custo é, ainda,fazer
umaaposta errada
sobre o futuro do Brasil

A


covid-19trouxe gran-
desmudanças,cristali-
zandoo entendimen-
to de que acompla-
cência com certosriscos podeter
custos muitoaltosedandonova
atualidadeàs questões ambien-
taisesociais.Essasquestõesestão
no coraçãodas escolhas brasilei-
ras para aAmazônia, ondeode-
safiode criarrenda,emprego e
oportunidades, preservando a
floresta,écentral.
A questão fundiáriaeouso do
solo comfrequência pautamas
políticas públicaspara a Amazô-
nia. Mas, para que essaspolíticas
tenhamêxitoem melhorar as
condiçõesde vida na região, suas
implicaçõeseconômicas, sociais
eambientais precisam ser bem
endereçadas.
Onde a conversão de florestas e
a ocupação de terra ocorreram de
formadesordenadaecomtolerân-
ciacomailegalidade,atendênciaé
criar-se uma “máquina de geração
de miséria” e de violência, ondeo
ambiente institucional e a gover-
nança são frágeis. Comisso, como
aponta Douglass North, Prêmio
Nobel de Economia, não há condi-
çõesparaqueestratégiasdedesen-
volvimentoprosperem.
No Brasil,há evidências de que
esseprocesso proporciona ga-
nhosmarginais paraalgunse
custosmuito altose difusospara
a populaçãodo Nortee do país
comoum todo.Aineficiência
desseprocessopodeser consta-
tadana grande área de floresta
destruída ede terraabandonada
na Amazônia.Não éde hoje que
se sabe que grandeparteda área
desmatadana regiãotem baixa
aptidãoagrícola eas pastagens
assimconstituídassão frequen-
tementede baixaprodutividade,
logosetornandoinsustentáveis.
Apenasquandose considera
que não há custoem desmatar
pode-se defenderque aabertura
de novasáreasna Amazônia ren-
de maisdo que o uso eficiente
das terrasjá disponíveis.Há 18
milhõesde hectares de pasta-
genspoucoprodutivasno Brasil
que podematenderconfortavel-
menteàdemandafuturadeterra
paraaagricultura(Carneiro e
Costa,2016)^1 , especialmente se
investirmosna integraçãoda la-
vouracomapecuária.
Considerar que odesmata-
mento não tem custoé, ainda,fa-
zerumaapostaerradasobreofu-
turo do Brasil.Ocusto e o risco
que a aceleração do desmata-
mento da Amazôniatraz parao
regimedechuvasnoCentro-Oes-
te não são desprezíveis. A dimi-
nuiçãode chuvasna regiãocen-
tral se expressará rapidamente
pela deterioração da nossaagri-
culturade duassafrase da pro-
duçãohidroelétrica. Investimen-
tos de bilhõesde reaisserãopre-
judicados,afetandoa segurança
nacional,dificultandoo cresci-
mentoeconômico e fragilizando

nossabalançacomercial.
Medidaslegislativasque não
reflitamoentendimentodesses
riscosdão sinaiserradosà nossa
economia. Esse equívocoémais
sérioquandoos mapasde des-
matamentosugeremumaforte
mudançadepadrãodeocupação
do solonos últimostrês anos,
com polígonosde desmatamen-
to muitomaioreseafastadosde
áreasjáconsolidadas.
Na medidaem que mudanças
legislativas sancionema ocupa-
ção predatóriaeodesmatamen-
to em terraspúblicas,elas não só
anistiamatos criminosos—o des-
matamentoilegaléum crime,
comoenfraquecemoquadrofis-
cal ao dilapidaro patrimônio de
todosos brasileiros. Infelizmen-
te, esse paradigmade “desenvol-
vimento” falhoparecedar sus-
tentação, por exemplo,àMP
910/2019, a ser votadano Con-
gressobrevemente.

Daformacomoestáatualmen-
teredigido,esseinstrumentoser-
virá principalmenteà consolida-
ção de um modelo de ocupação
ilegalque não atendeàs aspira-
ções da maioriada populaçãolo-
cal, nemfará a regiãomudarde
patamardedesenvolvimento.
Umapolíticade desenvolvi-
mentopara a Amazôniadevefo-
car nas cidades,ondeadiversifi-
caçãoeconômicafacilitaacria-
ção de renda,e na consolidação
de áreasocupadas em décadas
passadas,coma valorizaçãoda
florestaem pé. Ao contráriode
há cem anos,hoje povoarapenas
não representao exercícioda so-
beranianacional.
O desenvolvimento da região
tambémdeverácontarcadavez
maiscoma tecnologia. Sabe-se,
por exemplo, que apenas ¼ das
terraspassíveisde desmatamen-
to legalem propriedade privada
tem aptidãoparaa agricultura
(Sparovek et al., 2017)^2. Sabe-se,
por outrolado, quaisproprieda-
des, que juntassomam20 mi-
lhõesde hectares,estãoem desa-
cordocomalegislação, e onde
estãoasáreasprivadascomsupe-
rávit de cobertura florestalque
proprietários faltosos podem
usar parase regularizarem.For-
taleceromercadoprevistopelo
CódigoFlorestalparapromover
a regularizaçãoambientalé uma
escolha política transparente,
eficazesemcustofiscal.
Comumpoucodeinvestimen-
to pode-setambémidentificar
com precisãoonde épossível
praticarumamineraçãosaudá-
vel eprodutivafora de áreaspro-
tegidasou terrasindígenas. As

oportunidades de umaecono-
mia do conhecimento devem
guiaras políticaspúblicas,inclu-
sive no que tangeaos incentivos
parapesquisare investirno pa-
trimôniobiológicoda florestae
no desenvolvimento de setores
modernosnascidadesdaregião.
Elas precisam orientararecali-
bragem da ZonaFrancade Ma-
naus,que éuma âncora para are-
gião, mas onde, de um fatura-
mentodeR$ 100 bilhões, metade
é importaçãode insumos e ape-
nas 2,5% são salários.É hora de
miraraprodução sustentável de
biocombustíveis, aenergia solar
centralizada e distribuídano ex-
tremo nortee o turismo.Há que
fecharas brechasdos mecanis-
mosde rastreamento do gadoe
da madeira para dar futuro a esses
setores. É oportuno também con-
siderar estímulosfiscaisecredití-
cios pós-Covid para apoiar ainte-
gração da lavoura, pastagem e flo-
resta, comconformidade fundiá-
ria, e dando novas possibilidades
aos milhares de pequenos agricul-
tores da Amazônia.
Boa partedo setorempresarial
edapopulaçãobrasileira já en-
tendeuque a ocupaçãoda Ama-
zôniacom objetivosde especula-
çãofundiáriaeodesmatamento
associadotem falhadoem pro-
movero desenvolvimento da re-
giãoe prejudicadoareputação
do país. Entenderamque esse
modelocoloca em perigonossas
exportações, a capacidade de
atraircapitaleavantagem com-
petitiva de produzircom uma
matrizenergéticalimpa.
Em uma hora em que se forma
um Conselhode alto nívelpara
orientara políticaem relaçãoà
Amazônia,alémde colocara le-
galidadeno primeiroplano,de-
vem-seevitarsoluçõesapressa-
das e iniciativas legislativasequi-
vocadas.É urgenteguiar-sepor
um realismoeconômico eouvir
as forçasempresariaise de repre-
sentação dos trabalhadores,a
Embrapa,as universidades e cen-
tros de pesquisa da regiãoe as
instituiçõesdo estadoeda socie-
dadecivil. Há um vastoconjunto
de alternativaspara aAmazônia
entrarna rota “5G”e da biotec-
nologia.E isso podeser alcança-
do com o conhecimento,ocapi-
tal e otrabalhodoseu povoede
todososbrasileiros.

(^1) CarneiroFilhoeCosta,“A ex-
pansãodaSojanoCerrado”,
(^2) Sparovek,Guidotti,Pinto,“Qual
oImpactodo Desmatamento Zero
noBrasil”,
JoaquimLevyé ex-ministro
Steyer Taylor, fellow na Universidade
de Stanford;
AnaToni,diretora do Instituto Clima e
Sociedade;
Roberto Waack,empresário;
AnaYang, presidente do Conselhodo
Instituto Climae Sociedade;
Luana Maia,consultora em
Governança.
FÁBIO NASCIMENTO / GREENPEACE
Toffoli disse o óbvio ao
presidente Bolsonaro


N


asemanapassada,depoisde
comandarumainusitadae
despropositadamarchade
empresáriosedeministrosdo
governoatéoSupremoTribunal
Federal(STF),opresidenteJairBolsonaro
certamenteouviudotitulardaquelaCorte,
JoséDiasToffoli,oquenãogostaria.
Componderaçãoebastanteequilíbrio,
mesmonaquelasituaçãoconstrangedoraa
quefoisubmetido,comoseugabinetesendo
ocupadopordezenasdepessoassemacerto
prévio, Toffolidisseaopresidentequeé
necessárioumplanejamento,deforma
articuladacomgovernadoreseprefeitos,
paraareaberturadaeconomia.Opresidente
doSupremodisseoóbvio,quepodeser
entendidoporqualquerpessoadebom
senso.
ÉinsondávelarazãoquelevouBolsonaroa
comandarapasseata,quefoifilmadae
colocadaemsuaredesocialemtemporeal.O
presidentegostariadepoderreabrira
economiapordecretoeparececulparToffoli
pelofatodeoSupremoterdecididoqueos
governosestaduaisemunicipais,alémdo
governofederal,podemdeterminarregras
deisolamento,quarentenaerestriçãode
transporteetrânsitoemrodoviasemrazão
dapandemiadonovocoronavírus.
Essadecisãofoitomadapelosministrosdo
STFdeformaunânime.Qualquerpessoacom
omínimodeconhecimentosobreo
funcionamentodasinstituiçõesbrasileiras
sabequeToffolinãopoderiaalteraradecisão
colegiada.Então,porqueBolsonarofoiao
Supremo?Apósolamentávelepisódio,
algunsempresáriosdisseramquenãosabiam
queiriamparticipardamarchaequenão
foramconsultadossobreela
antecipadamente.Mas,ofatoéquedela
participaram.
Desdeoanúnciodapandemiapela
OrganizaçãoMundialdaSaúde(OMS),oque
seviunoBrasilfoiumacompleta
desarticulaçãoentreosgovernosestaduais,
municipaiseofederalsobreasmedidasde
combateaonovocoronavírus.Emgrande
medida,porcausadoprimeiromandatário
dopaís,queconsiderouacovid-19como
“umagripezinha”.Preocupadosemsalvara
vidadosseuscidadãos,governadorese
prefeitosforamadotandomedidasde
isolamentosocial,emalgunscasosde

maneiraatabalhoadaecomexcessos.
Caberiaaogovernofederal,noentanto,
fixarasregrasparaoisolamentosocial,
estabelecendolimiteseresponsabilidades
paracadaentedafederação.Istonãofoifeito
e,aocontrário,opresidenteadotouuma
atituderadicalmentecontráriaamedidasde
isolamento,chegandoademitiroministro
daSaúde,emplenapandemia,porele
discordardassuasteses.
Comdadossobreaatualsituaçãoda
economia,queregistraforteaumentodo
desempregoeparalisiadesetoresindustriais
importantes,Bolsonarovoltaadefendero
fimdoisolamento,semapresentarà
sociedadeumplanocomessafinalidade.No
dia22deabril,onovoministrodaSaúde
informouqueogovernoirialançaruma
diretrizparaqueEstadosemunicípios
possamcriarpolíticaseprogramaspróprios
relacionadosaoisolamentosocial.
Naquarta-feirapassada,oministrodisse
queataldiretrizestavapronta,masqueo
governoaindaestudavaamelhorformade
divulgá-la.Nasexta-feira,elevoltouadizer
queéprecisoumaarticulaçãodogoverno
federal,dosEstadosemunicípiospara
melhorenfrentarapandemiaeevitaropior.
Comisso,parecequeapenasopresidenteda
Repúblicanãoconcorda.
Amaioriadospaísesadotouoisolamento
socialnocombateàpandemia,alguns
decretaramatémesmoumbloqueiototaldas
atividades(oqueéchamadode“lockdown”),
comprisãodaquelesquenãoobedecessem.As
economiasdetodoselesapresentaram
retraçõesrecordes,comaumentoexpressivodo
desemprego.Depoisdepassadoopicodo
contágio,comasituaçãodoshospitaissob
controle,váriosdelesestãoagorareabrindo,de
formaplanejadaegradual,suasatividades
econômicas.
Osdadosdisponíveisindicamqueocontágio
dapopulaçãobrasileirapelovírusaindaé
ascendentee,diantedessarealidadeatroz,
váriosgovernadoresestãodecretandoo
fechamentocompletodasatividadesdeseus
Estadoseoutros,adiandoadatadareabertura
daeconomiaquehaviamprogramado.Por
causadonúmeroalarmantedenovoscasosda
covid-19,areaberturadesejadaportodos
deverádemorarumpoucomais.Atélá,talvezo
governoconsigaapresentarumplanejamento
minimamentecoerentedecomoissoseráfeito.

Diretora Adjuntade Redação
ClaudiaSafatle
([email protected])
Editor-executivo de Opinião
JoséRoberto Campos
([email protected])
Editores-executivos
CatherineVieira
([email protected])
Céliade GouvêaFranco
([email protected])
CristianoRomero
([email protected])
Pedro Cafardo
([email protected])
Chefe da Redação
em Brasília
FernandoExman
([email protected])
Chefe da Redaçãono Rio
FranciscoGóes
([email protected])
Repórteres Especiais
Alex Ribeiro (Brasília)
([email protected])
DanielRittner(Brasília)
([email protected])

DanielaChiaretti
([email protected])
GraziellaValenti
([email protected])
JoãoRosa
([email protected])
MariaCristinaFernandes
([email protected])
MariaLuízaFilgueiras
([email protected])
MarliOlmos
([email protected])
RibamarOliveira (Brasília)
([email protected])
Editor de Brasil
SergioLamucci
([email protected])
Editor de Política
CésarFelício
([email protected])
Editor de Internacional
Humberto Saccomandi
([email protected])
Editora de Tendências
& Consumoe Tecnologia
CynthiaMalta
([email protected])

Editor de Indústria
e Infraestrutura
Ivo Ribeiro ([email protected])
Editor de
Agronegócios
FernandoLopes
([email protected])
Editora de Finanças
Alessandra Bellotto
([email protected])
Editor de S.A.
Nelson Niero
([email protected])
Editora de Carreiras
Stela Campos
([email protected])
Editor de Cultura
RobinsonBorges
([email protected])
Editora de Legislação
& Tributos
ZiniaBaeta
([email protected])
Editor de Arte/
Fotografia
SilasBotelho Neto
([email protected])

Editora Valor Online
Paula Cleto
([email protected])
EditoraValorPRO
Lucinda Pinto
([email protected])
CoordenadorValor Data
WilliamVolpato
([email protected])
Editores de Projetos Especiais
Célia Rosemblum
([email protected])
Tania Nogueira Alvares
([email protected])
Correspondentes internacionais
Assis Moreira (Genebra)
([email protected])
Correspondentes nacionais
Marcos de Moura e Souza
(BeloHorizonte)
([email protected])
MarinaFalcão (Recife)
([email protected])

VALORINVESTE
Editor
Fernando Torres
([email protected])

Filiadoao IVC (Instituto Verificadorde Comunicação) e à ANJ(AssociaçãoNacionalde Jornais)
Valor EconômicoAv. 9 de Julho, 5229 – JardimPaulista – CEP01407-907– São Paulo - SP –Telefone0 xx 11 3767 1000
Departamentos de PublicidadeImpressae On-lineSP:Telefone0 xx 11 3767-1012,RJ0 xx 21 35211414,DF0 xx 61 3717 3333.
Legal SP0 xx 3767 1323
Redação0 xx 11 3767 1000.Endereço eletrônicowww.valor.com.br
Sucursalde BrasíliaSCNQuadra05 BlocoA-50– BrasíliaShopping– TorreSul – sala 301 – 3º andar – AsaNorte– Brasília/DF- CEP70715-
Sucursaldo Rio de JaneiroRuaMarquesde Pombal, 25 – Nível 2 – Bairro:CidadeNova– Rio de Janeiro/RJ– CEP20230-

Para vendade assinaturas e atendimento ao assinanteligue:
0800-
[email protected] [email protected] assinaturas corporativas e-mail:[email protected].
Aviso:o assinante que quisera suspensãoda entrega de seu jornaldeve fazer essepedidoà central de atendimento com48 horas de antecedência.

Preçode assinaturaanualnova(impresso+ digital)pararegiõesSudestes,DistritoFederale Paraná:R$ 1.114,80 ou R$ 92,90mensais.
Demaislocalidades, consultaro atendimentoao assinante:tel: 0800 701 8888. Cargatributáriaaproximada:3,65%.

BA/SE/PB/PEe RegiãoNorte
CanalChetto Comun. e
Representação
Tel./Fax: (71) 3043-2 205

MG/ES -
Sat Propaganda
Tel./Fax: (31)
3264-5463/3264-

PR - SEC - Soluções
Estratégicasem
Comercialização
Tel./Fax: (41) 3019-

RS -
HRMRepresentações
Tel./Fax: (51)
3231-6287/3219-

SC - Marcucci&
Gondran Associados
Tel./Fax: (48)
3333 -8497/3333-

Publicidade- Outros Estados

Diretorde TIRobertoMartinsPortellaFilho([email protected])

PrincípioseditoriaisdoGrupoGlobo:http://glo.bo/pri_edit

CONSELHODEADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE:RobertoIrineuMarinho
VICE-PRESIDENTES:JoãoRobertoMarinho- JoséRobertoMarinho
PRESIDENTEEXECUTIVO
JorgeNóbrega

DIRETORGERAL:FredericZoghaibKachar
DIRETORADEREDAÇÃO:VeraBrandimarte

é umapublicaçãoda EditoraGloboS/A

Canal Unico PDF - Acesse: t.me/ojornaleiro

Free download pdf