JornalValor--- Página 2 da edição"11/05/20201a CADB" ---- Impressa por cgbarbosaàs 10/05/2020@18:09:
B2|Valor| Sábado,domingoe segunda-feira, 9, 10 e 11 de maiode 2020
Empresas|Carreira
CEOs bélicos não são os mais indicados em tempos de crise
Bandaexecutiva
Andrew Hill
O
comunicadoda
SAPnãodeixou
margemadúvidas.
Em20deabril,o
grupoalemãode
softwaresanunciouofimde
suaestruturadeliderança
dupla.Aco-CEO,Jennifer
Morgan,renunciará,eooutro,
ChristianKlein,assumiráo
podersozinho“paraassegurar
umaliderançafortee
inconfundívelemumacrise
semprecedentes”.
Nãosougrandefãdeco-CEOs,
emboraaSAPtenhasidomais
bem-sucedidadoqueoutras
empresasemseu
compartilhamentodepoder.
Tambémháváriosoutros
motivos,nãorelacionadosàcrise,
pelosquaisaSAPfariabemem
“adotarmedidasrápidaseclaras”
pararestabeleceruma“estrutura
muitoclaradeliderança”.A
companhia,contudo,nãoéa
únicainteressadaemum
comandoforte.“Istoéuma
guerra”,disseDonaldTrump.
“Souumpresidenteemtempos
deguerra”, disse.
Masumapandemianãoéuma
guerrae“CEOsdetemposde
guerra” nãosãoosmelhorespara
enfrentartodasassuas
consequências.Aspessoas,sem
dúvida,voltam-seaseuslíderes
emtemposincertos.Muitas
organizaçõesvêmadiandoa
substituiçãodechefes
experientescujasaídaestava
programada.Comocoronavírus,
arotatividadedeCEOsnos
EstadosUnidosemmarçofoia
menorem20meses.Atéa
UniversidadedeHarvard
manteráa“mãofirme”doreitor
daHarvardBusinessSchool,
NitinNohria,atéofimdoano.
OsCEOsestão,corretamente,
intervindoparaliderarsuas
empresas.Ofundadorda
Amazon,JeffBezos,dedicou-se
recentementeapensar
estratégiasdelongoprazoparao
grupo.Segundoo“TheNewYork
Times”, eleagora“realiza
teleconferênciasdiáriaspara
ajudaratomardecisõessobre
estoquesetestes[dacovid-19],
inclusivesobrecomoequando—
comextremaprecisão—a
Amazondeverespondera
críticaspúblicas.”
NãocreioqueBezosesteja
recorrendoametáforasmilitares
paradescreversuaabordagem.A
Amazonseorgulhadeempregar
váriosex-militarescom
experiênciasdotipo“vidaou
morte”emlinhasdefrente.
Nãovaidemorarmuitopara
queBezostambémprecisevoltar
adelegar.Seháalgumaanalogia
militaraqui,équeos
comandantessabemque,uma
vezdefinidaamissão,eles
precisamdeixá-lanasmãosde
oficiaissubalternosbem
treinadosnocampodebatalha
paradecidircomolevá-laacabo.
Oinvestidoremcapitalderisco
BenHorowitzcitouasdiferenças
entreCEOsdetemposdepazede
guerraemumcomentárioemseu
blogem2011.Oschefesem
temposdepazevitamlinguagem
vulgar,toleramdesviosdeplanos
“quandoacompanhadosde
empenhoecriatividade”e“não
elevamavoz”,escreveu.Ochefeem
temposdeguerra“algumasvezes
usaprofanidadespropositalmente
[...]écompletamenteintolerante
[...]raramentefalaemtomnormal
[e]nemsepermiteesperar
consensosoutoleradivergências”.
EmpreendedoresdoValedo
Silícioparecemteraceitadoessa
falacomoumaconvocaçãodo
chefedoEstado-Maior.Mark
Zuckerberg,porexemplo,temse
descritocomoumCEOemtempos
deguerranosúltimosanos,depois
detersidoobrigadoaagirde
formadecisivaparaenfrentaras
crisesassolandooFacebook.
Deixandoàparteatomada
rápidaefirmededecisõesde
curtoprazo,oCEOemtemposde
guerrapodeserummodelode
liderançaperigosoemumacrise.
Nopiorcenário,podelevar
líderesimprudentesaassumir
posiçõesrígidas,beligerantes.
AlistadeHorowitzeraum
guiaparaenfrentaruma
competiçãocomercial.Masatéo
presidentedosEUAchamoua
lutacontraapandemiade“um
tipodiferentedeguerra”.A
maioriadas“salasdeguerra” das
empresasestáhojeemescritórios
nosótão,mesasdecozinha
ounasvideoconferências;
ossoldadosnalinhadefrente
sãoentregadoresefuncionários
nalinhadeproduçãoou
inspeçãofinal,orientadospor
anônimosgerentesmédios.
Todosestãosobataque.
Umfundadordeempresa
citouocomentáriodeHorowitze
acrescentouque“comacovid-19,
aguerranãoénecessariamente
entrecompetidores,mascontra
ascircunstânciaseacadeiade
produção”.Mas,nessecaso,para
“vencer”, oslíderesprecisam
colaborarcomseusfornecedores
enãotêmcomolutarcontraas
circunstâncias.Elesprecisam
admitiroquenãosabemeestar
dispostosaseadaptar,emvezde
colocaremvigorumplano
pré-concebido.
Nessesentido, opresidente
daFrançapareceserummelhor
modelodoqueoamericano.
ComodisseEmmanuelMacron
ao“FinancialTimes”:“Nãoseise
estamosnoinícioounomeio
destacrise—ninguémsabe.Há
muitasincertezaseissodeveria
noslevarasermoshumildes”.
Andrew Hillé editor de negóciose
colunistado “FinancialTimes”
RecrutamentoBancoseempresasdisputamtalentos
naárea,quesofrecomescassezdeespecialistas
Cresce a busca por
profissionais da área
de cibersegurança
ValériaMarretto, diretora de RH do Itaú Unibanco,que vai contratar 150 profissionaispara a área de cibersegurançaeste ano
DIVULGAÇÃO
Danylo Martins
Para o Valor, de São Paulo
A adoção do trabalho remoto
porcausadapandemiaeoaumen-
to de ataquesvirtuais estão impul-
sionando ademanda das empre-
sasdopaísporprofissionaisdetec-
nologia, principalmentena área
de cibersegurança.Consultorias
de recrutamento eseleção,forne-
cedores de TI e startupsouvidos
peloValor relatamumacorrida
para encontrar talentosem um se-
torquesofrecomafaltadepessoas
qualificadasmundoafora.
Hoje,esse mercadoemprega
2,8 milhõesde profissionaisem
dez países,mas o déficitglobal
chegaa 4milhões,com maiorla-
cunana regiãoda Ásia e Pacífico
(2,6 milhões),seguidapela Amé-
rica Latina(600mil),conforme
relatório do (ISC)², uma das
principaisorganizaçõesda área.
Coma segundamaiorforçade
trabalho em cibersegurança,
atrásdosEstadosUnidos,oBrasil
tem um desafioadicional:aLei
Geral de Proteção de Dados
(LGPD), adiadade agostodeste
anoparamaiode2021.
O aumentona utilização dos
canaisdigitaisnos bancos elevou
o riscode exposiçãoa golpeson-
line durantea pandemia.Para
combater a escaladade ataques
de hackerse tentativasde roubo
de dadosde clientes,eles tiveram
que fortalecerseu arsenalde se-
gurançae comisso ajudaram a
acirrara disputapor talentosna
áreadecibersegurança.
OItaúUnibanco,omaiorban-
co privadodo país, está com cer-
ca de 450 vagasabertasem tec-
nologiae, desdejaneiro, contra-
tou quase500 pessoas.“Dentro
do nossoplanode expansãode
tecnologia,agenteprevêaumen-
tar em 150 onúmerode vagas
paraprofissionais na área de se-
gurançaeste ano,eparte delasjá
forampreenchidas”,contaValé-
riaMarretto,diretoraderecursos
humanosdoItaúUnibanco.
No LinkedIn, oItaúUnibanco
tem vagas, por exemplo, para ana-
lista de segurança da informação e
coordenador de prevenção a frau-
des. Segundo Valéria, profissionais
que costumam ser muito disputa-
dos. “É um mercadodifícil de pre-
cificar, assim comoos cientistas de
dados.É precisocriar um ambien-
te para atrair essas pessoas”, expli-
ca. Entreos pré-requisitos para fa-
zer parte do time de segurança do
banco, aformação é oitem menos
importante,segundo ela. “Geral-
mente,buscamospessoasquegos-
tamdefuçar,oshackersdobem.”
“Com uso do celular, a área de
contato multiplicoumuito”, expli-
ca WaldemarRuggiero Jr., diretor
de infraestrutura de tecnologia da
informação(TI)doBradesco,oque
aumenta a exposição eos riscos de
segurança.No banco, 93% das
transações hoje são realizadas por
canaisdigitais (celular, internet
banking e telefone).Há quatro
anos, a instituiçãovem reforçando
aárea de segurança. A equipe do-
broude150 para400 funcioná-
rios. Hoje, o time é divididoem
dois departamentos: um que cui-
da da chamada segurança“peri-
metral”, monitorando possíveis
ataques, por exemplo, eoutra que
cuidadas regras de segurança. O
reforçocontou, inclusive, coma
migraçãodeempregadosdeagên-
ciasparaotimedesegurança.
SegundoRuggiero, ogrande
desafionesteperíodode quaren-
tena é manteraequipede tecno-
logiatranquila,aindaque adis-
tância.“No caso do pessoalde se-
gurança, otrabalho é24 por 7, o
que faz com que precisemos
atuaraqualquerminuto”, diz.
Outrosbancos, comoSafrae
BV(antigoVotorantim),também
publicaramnasúltimassemanas
em plataformason-lineoportu-
nidadespara analistaseespecia-
listasem segurançada informa-
ção. No Bancodo Brasil(BB),não
há maisvagasna área de ciberse-
gurança,segundoinformouMo-
nicaLuciana Martins,gerente-
executiva da diretoriade segu-
rançainstitucionaldo BB.Hoje, o
bancocontacom 130 profissio-
nais diretamente envolvidos
com segurançacibernéticaepre-
venção a fraudes eletrônicas,
alémde outros50 de áreasrela-
cionadas. Em TI, ao todo, são
4.000funcionários.
Antesdacovid-19,empresasde
outros setores da economia tam-
bémjáhaviam saído à çaçade
profissionais de segurança digi-
tal preocupadas com a privacida-
de de dadoseaa dequação à nova
legislação.Issoexplica oaumento
na procura por analistas, especia-
listaselíderesdecibersegurança.
Nos últimosdois meses,a bus-
ca mudoue refleteas novasde-
mandasprovocadaspeloisola-
mentosociale a maiorutilização
do homeoffice.A buscacresceu
por pessoascomconhecimento
em conectividade remota, in-
fraestrutura de segurançaeim-
plantaçãodeVPN (siglaem in-
glês pararedeprivadavirtual),
apontaMarcelo Lau,executivo
queatuoupormaisde12anosna
áreadesegurançadainformação
do Itaú eno antigoUnibanco.
Atualmente, ele coordenao MBA
emcibersegurançadaFIAP.
Naconsultoriaderecrutamen-
to Talenses,os principaisperfis
Fonte:(ISC)²CybersecurityWorkforceStudy, (^2019) procurados hojesão arquitetos,
Escassezdetalentos
Distribuiçãodos profissionaisde cibersegurançapelomundo
Estimativada forçade trabalhoem cibersegurança,mil
Gap'(lacuna)de profissionaisem
cibersegurançapor região- %
América
Latina
América
do Norte
Europa Ásia-
Pacífico
Perfildos profissionaisem
cibersegurança/escolaridade- %
Alemanha
Austrália
Brasil
Canadá
Cingapura
Coreiado Sul
EUA
França
Japão
México
ReinoUnido
0
500
133
107
486
84
43
201
804,
121
193
341
289
600 561
291
2.600 38%
Bacharelado
10%
Doutorado/pós-
doutorado
28%
Mestrado/
pós-graduação
12%
Ensinomédio
11%
Graduaçãotecnológica
600 mil
é o gapde
profissionais
na regiãoda
América
Latina
analistas e especialistasem segu-
rançadainformação,alémdede-
senvolvedoresespecializados em
segurança,comofertade vagas
paraconsultor,gerentesênior,lí-
der e coordenador.OPageGroup
também nota uma demanda
maiorporanalistasdecibersegu-
rança,comsaláriosentreR$7mil
e R$ 11 mil, e líderesde ciberse-
gurança,cujaremuneraçãovai
deR$25milaR$35mil.
SegundoPaulo Moraes,dire-
tor da filial da Talensesno Rio de
Janeiro, ocrescimentoacelerado
de empresasde tecnologia,star-
tups e os planosde transforma-
ção digitalnas grandescompa-
nhiastambémpuxouabuscapor
profissionaisde segurançaciber-
néticaedigital.“Coma pande-
mia,muitasempresasestãoti-
rando do papel projetos de
transformação digital. Conse-
quentemente,os ataquesde ha-
ckerstambémpodemse tornar
maisfrequentes”,afirma.
Comumaequipede 500 fun-
cionáriosnaAméricaLatina,sen-
do 100 no Brasil,a multinacional
de segurançacibernética Forti-
net contratoucincopessoasnes-
te ano e está comdez posições
abertaspara diversasáreas.“A in-
tençãoéabrir de 15 a20vagas
atéofimdoano.Nossotimecres-
ceu 37% em 2019”, contaFrederi-
co Tostes, gerente-geralda Forti-
net Brasile vice-presidentede
cloudparaaALdaFortinet.
Além das competências técni-
cas,aor ganização valorizacarac-
terísticascomoflexibilidadeeau-
tonomia. “A pessoa precisa ter ca-
pacidadede trabalharremota-
mente porque a estrutura da
equipe sempre foi assim”, explica
Tostes. Para ajudar na descoberta
de talentos, a empresa mantém
parceriascom faculdades de tec-
nologia e também oferece treina-
mentos para alunos de escolas
comoFIAPeImpacta.
AStefaniniRafael,empresado
grupo Stefanini especializada
em segurançacibernética,tem
14 vagasabertas para as áreasde
operações,Centrode Operações
de Segurança(SOC,em inglês)e
arquiteturade soluções.“Tam-
bém vamos abrir vagas para
‘ethical hacking’. Éum perfil
muitodifícil de encontrar no
mercado”, afirmaoLeidivinoNa-
tal, CEO da StefaniniRafael,que
hojetem52pessoasnaequipe.
Entreas principaishabilida-
des exigidaspela companhia,o
executivo cita a proatividade.
“Além do conhecimento técnico
em infraestrutura,firewall, anti-
vírus,gestão de identidade,o
profissionalprecisair atrásdas
coisas,ser curiosoeentenderas
mudanças no mercado. E por úl-
timo, ser discreto”, aponta.Se-
gundoele, a formaçãona área
aindaémuito voltadapara atec-
nologia. É importanteque a se-
gurançaseja encaradacomopar-
te do todo, inclusivepara a conti-
nuidadedenegócios.
AWavy, empresa de experiência
do consumidor do grupo Movile
com270funcionários,dobrouoti-
me de segurança nos últimos qua-
tro meseseplaneja novas contra-
tações paraa área, hoje com sete
profissionais.“Temosduasvagas
emabertonasequipesdeseguran-
ça,masháumaexpectativadecon-
tratar mais profissionais até o fim
do ano”, contaMarcia Asano, dire-
tora de operações da Wavy. Entre
as habilidades mais requisitadas
pelacompanhiaestão:vivênciaem
práticas reais de ataque e conheci-
mentode técnicas eferramentas
dedefesa.
Marcialembraque, durante
anos,muitosprofissionaisdetec-
nologia se especializaram em
áreascomodesenvolvimento, in-
fraestrutura,bancode dadose
design,maspoucosse dedica-
ram àárea de segurança. “Se já é
difícil buscar profissionais de
tecnologiaaltamente capacita-
dos e alinhadoscom a nossacul-
tura,é aindamaisdifícil encon-
trar profissionais qualificados
em segurança”, observa.NaWa-
vy, sete pessoasatuamcom com-
plianceecibersegurança.
Para Maximiliano de Carvalho
Jácomo, coordenador do MBA em
segurançacibernética do Instituto
de Gestão e Tecnologiada Infor-
mação (IGTI), quem vai trabalhar
na área precisa ter um profundo
conhecimento técnico de banco
dedados,infraestruturalocalenu-
vem.Isso porque, assim como a
tecnologia avança, os tipos de
ameaçasegolpesficammaisdiver-
sificadosecriativos.Mastambémé
fundamental conseguir traduzir
todas as tecnologias e ferramentas
em soluções parao negócio. “O
profissionalsaberser mutante pa-
ra se adaptar àrealidade, mas en-
tendendoomodelodenegócio.”
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