Valor Econômico (2020-05-09,10 e 11)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 4 da edição"11/05/20201a CADB" ---- Impressa por cgbarbosaàs 10/05/2020@18:24:


B4|Valor|Sábado,domingoe segunda-feira, 9, 10 e 11 de maiode 2020

Empresas|Indústria


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


MineraçãoCompanhiadecidenãopagardividendos


enquantoincertezasdacovid-19nãosedissiparem


Riscos de parada de


operações foram


reduzidos, diz Vale


LucianoSiani, diretor de RI da Vale: mineradora vem fazendo reuniõesde conciliaçãovirtuais no casoBrumadinho

SILVIAZAMBONI/VALOR

Rafael Rosas e FranciscoGóes
Do Rio

Apesar do avançoda pandemia,
os riscosde umaeventual parada
de operações da Vale são hoje me-
noresdo que eramhá quasedois
meses. Em março,essa possibilida-
de era maiorpela falta de coorde-
naçãoepelaadoçãodemedidasdi-
ferentesde controle da covid- 19
pelosgovernos nas três esferas:
União, Estados e municípios. “Hoje
com os decretos mais recentesdo
governo federal estabelecendo ati-
vidades essenciais existe maiscon-
sensosobreo que deve ou não fun-
cionar”, disse o diretor-executivo
de finanças e relaçõescom investi-
dores da Vale, LucianoSianiPires.
Eleparticipou,nasexta,da“Li ve do
Valor”, espaçoparadiscussãodete-
mas relevantes parao Brasileo
mundonocenáriodocoronavírus.
Apossibilidadedeparadacomo
consequênciadadecisãodealgum
poder constituído estaria hoje
mais“af astada”,segundoSiani:“Só
vamos operar se pudermosoperar
em segurança. Movimento que
nósfazemospró-ativamentedere-
tirar empregados de grupos de ris-
co, retirar os empregadosque tive-
ram sintomas, eventualmenteaté
aquelesque tiveramcontato com

os que tiveramsintomas; isso faz
com que onúmerode trabalhado-
res nasnossas unidades caia ainda
mais.Eem certos casosagente po-
de identificar que não é possível
operar com um número de traba-
lhadorestão reduzido.Isso, contu-
do, dificilmente levaria ao fecha-
mentode uma operação, mas po-
de levar a operar com capacidade
reduzida.Eudiriaqueagoraémui-
to maiso conservadorismo,aope-
ração comsegurança da compa-
nhia quedita essesriscos [do que
as decisõesde governos], mas eles
são definitivamente menores hoje
doqueeramantes,apesardoavan-
çodapandemia”, afirmouSiani.
Na live,ele falou das iniciativas
que aVale vem adotandonocom-
bate à covid-19. Citou medidas de
proteção aos empregados, comoo
trabalho em casa e a suspensão de
obras nasunidades da empresa,e
o escalonamentode turnos.Disse
que na atividadeindustrial, ao
contrário do varejo, émais fácilfa-
zer odistanciamento social. “Ativi-
dades industriais nãorequerem
aglomerações. O operador de ca-
minhãofora de estrada, de uma
empilhadeira, uma equipe de ma-
nutenção de usina, são timesmui-
to pequenos. Há quese ter preocu-
pação no momento da refeição e
daentrada,doacesso”, afirmou.
Informoutambém que aem-
presa está adotando soluções de
tecnologia para permitir um
maiorcontrole nas unidadespro-

dutivas. Umadas soluções é o uso
de pulseirasou de chip instalado
no crachá que emiteum sinal
quando um empregadose aproxi-
ma muito do outro, oque ajuda a
manter o distanciamentosocial.
Sianidisse que pesquisas internas
mostramque 90% dos emprega-
dossesentemsegurosdetrabalhar
nasunidadesdacompanhia.
AVale também está dando
apoioa algumas prefeituras.Em
Parauapebas (PA),município onde
estãopartedas reservas de Carajás,
a Vale vai construir um sistemade
testagem do novocoronavírusem
sistema de “drive through”para a
população. A empresacomprou
tambémtestes rápidos para serem
aplicadosno município, que tem
200 mil habitantes. “Estamos aju-
darparaqueacomunidadenãose-
ja um vetor de transmissão de
doençaseparapreservarasaúdede
nossos colaboradores”, disse Siani.
Ele afirmou que aempresagastou
cercade R$ 350 milhões em ajuda
humanitária—deumtotalcom-
prometido de R$ 500 milhões —e
disseque a companhiatem condi-
çõesdeatenderàsdemandasdaso-
ciedadeporajudanapandemia.
Na conversa, o executivo disse
que acovid-19 obrigouaVale a
mudar o sistemade reuniõesde
conciliaçãopara opagamento de
indenizaçõespelo rompimento da
barragem de Córrego do Feijão,
em Brumadinho (MG), em janeiro
de2019.Seantesaempresamanti-

nha escritóriosespalhados para
queacontecessemasconversasen-
treas pessoasafetadas pelo tragé-
dia e representantesda Defensoria
Públicae da Vale, agora esses en-
controspassaramaservirtuais.
“Hácercadetrêssemanasinicia-
mosasreuniõesdeconciliaçãovir-
tuais etem sidoum sucesso. Volta-
mos afechar acordosnacasade
200,300acordosporsemana.Mui-
ta genteaté não quer maisvoltar
paraomodeloantigo,deterquese
deslocar”,disseSiani.Napartede
reparação ambiental, afirmou,em
algum momento houve decretos

de prefeitos que impediram a con-
tinuidadede obras da companhia,
masdisse que essa situaçãofoi
contornada eas equipesestão vol-
tando afazer as obras. Siani tam-
bém afirmou que a empresa conti-
nuaasconversas com oMinistério
Públicode MinasGerais parafe-
char um acordopara encerrar as
Ações Civis Públicas(ACPs) nas
quais a Vale éré pelo rompimento
da barragem. Até o momento, ele
disse,foramindenizadas direta-
mente quase 7mil pessoas, além
de outras 106 mil pessoas que re-
cebem auxílios emergenciais. Nes-

sas ações, foramdesembolsados
R$3,6bilhões,disseSiani
Ele afirmou que a principal
preocupação da companhiaéter
certeza de que tem os recursos ne-
cessáriosparafazerfrenteàrepara-
ção de Brumadinho. “Dadoque
nossaprioridademáximaégaran-
tir a reparação de Brumadinho,
aindanãovamosrestabelecerapo-
lítica de dividendos[aos acionis-
tas] e assimficará até que a incerte-
za do coronavírusse dissipe”. Mas
umavezeladissipada,tudocorren-
do bem,a Vale estaria prontapara
voltararemunerarosacionistas.”

China cancela 12 embarques ao Brasil até julho


Navegação


Taís Hirata
De São Paulo

A desaceleraçãona economia
brasileira já provocouo cancela-
mentode 12 embarques que vi-
riamda China,entreos mesesde
maioejulho. Comisso, oBrasil
deverá perder19% de sua capaci-
dadedeexportaçãoemcontêine-
res para o país asiático nos próxi-
mos meses, segundo levanta-
mentodaSolveShipping.
O problema não chegará a
derrubaras vendasparafora do
país, que seguemse benefician-
do da desvalorização do real,
mas deveráelevaros custosdas
empresas,que terãoque concor-
rer por espaço nos navios.
Aquedana capacidade éuma
consequência de um gargalo lo-
gístico, provocadopela menor
importaçãovindada China:co-
mo vêm menosnavios ao Brasil,
faltamembarcações econtêine-
res no país,oque podelimitar
também as atividadesde expor-
tadores que utilizam os equipa-
mentos,comoos setoresde car-
nes, celulosee algodão.
O problemajá aconteceu nos
últimosdoismeses,quando a
Chinaviviaoauge da epidemia

da covid-19. Nesseperíodo, em
que diversos terminaisportuá-
rios chineseschegaramafechar,
houve um acúmulo de contêine-
res na Ásiaeuma escassez no
restante do mundo.
No Brasil,afalta de equipa-
mentosfoi sendoresolvidaao
longo de abril,coma vindade
contêineres adicionais, mas de-
verá voltar a ser um problemaa
partir do próximo mês.
Dos 12 cancelamentos de via-
gensjá previstosparaos próxi-
mostrês meses,dois ocorrerão
em maio,sete, em junhoejáhá
outrostrês confirmadospara ju-
lho.Omotivoé aquedanas ati-
vidadesna economia brasileira,

com ofechamento de indústrias
evarejoem meioàpandemiada
covid-19, afirma LeandroBarre-
to, sócioda consultoria.
“Até agora, o problematem si-
do tratadocom avinda de ‘extra
loaders’[navios adicionais]eo
desviodecargasporoutrasrotas,
com transbordono Caribeou no
Mediterrâneo, por exemplo. São
alternativas,mas que aumentam
otempoeocusto da viagem,e
quedemandam mais planeja-
mentoefluxodecaixa”, dizele.
Alémdos cancelamentos de
viagens,outropotencialentrave
é o acúmulode contêineresna
própriacostabrasileira.Isso tem
ocorrido porque, coma alta do

dólarperanteo real, muitos im-
portadorestêm retardadoana-
cionalizaçãoda carga.
Nos terminais alfandegados
da Localfrio em Itajaí(SC),por
exemplo, houve uma alta de 30%
no númerode contêineres arma-
zenadosentrefevereiroemarço.
ParaAntônioJorgeCamardelli,
presidente da Associação Brasi-
leira das Indústrias Exportadoras
de Carnes(Abiec), essa retenção
de cargas nosportos brasileiros é
um receio que tem sidomonito-
rado pelosetor, mas que ainda
nãogeragrandepreocupação.
Como dólarfavorável às ven-
das para fora, a perspectivaéque
ogargalo logísticonão impedirá

o crescimentodas exportações
de setoresimportantesque de-
pendem de contêineres, mas po-
derálimitar um avanço ainda
maior,avalia AndrewLorimer,
diretordaconsultoriaDatamar.
As exportações brasileiras para
a China tiveram um avançode 4%
no primeiro trimestre, mesmo
com o mês de março já sofrendo
impactosdapandemia,dizele.
Aavaliação entreanalistasé
que o impactodesseentrave lo-
gístico será comercial,já que
empresasmenoresterãoque pa-
gar maiscaroparagarantires-
paçonos contêineres.
A situaçãotambémajudaas
empresasde navegação, diz Lo-
rimer. “É naturalque os armado-
res cancelem as viagens. Isso
também faz com que ofrete nas
exportaçõesfique emumpata-
mar saudável, em um momento
em que o preçoestá em queda.”
Apesar da situaçãopreocu-
pantena rota China-Brasil,Bar-
reto, destacaque outrospercur-
sos marítimoscontinuamestá-
veis.Fora os 12 cancelamentos,
há apenas outrostrês navios que
deixarão que chegaràcostabra-
sileiranos próximos três meses:
dois deles vindosda CostaLeste
dos Estados Unidose um da Cos-
ta Oesteda América do Sul.

Menosnavios,menoscontêineres
Comquedanas importações vindasda China,Brasil perdetambém capacidadede exportação
Capacidadenominalparaexportação,em TEU*

Fonte:SolveShipping.*unidadeequivalentea 20pés,usadaparamedircontêineres.**combaseemprojeçõesdoscancelamentosdeviagensconfirmados

90

106

122

138

154

170

Jan/19 Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan/20 Fev Mar Abr Mai** Jun** Jul**

Capacidadeplanejada

146.
132.
140.
113.

143.

Comseca, clienteda Sanepar podeficaraté 48hsemágua


Saneamento


De São Paulo

Emmeioàpandemiadacovid-
19, a Sanepar (Companhia de Sa-
neamentodo Paraná) ganhou
autorização do governo estadual
para interromperpor 24 horaso
fornecimento de águaà popula-
ção, com prazode outras 24 ho-
ras para aretomadado serviço —
o que podelevar, na prática,a
umaparadapordoisdias.
Um decretopublicadonaúlti-
ma semanadecretou estadode
emergênciahídricaedefiniuas

normas para orodízio no abaste-
cimentodeáguadoEstado.
A seca vividapelo Paranáé a
piordos últimos30 anos,afir-
mouAbelDemetrio, diretorfi-
nanceiro ede relaçõescomin-
vestidoresda Sanepar, em tele-
conferência com analistas.
Hoje,a companhiajá realiza
umracionamentonoEstado.Tra-
ta-sede umaformade garantir
um nívelmínimo dos reservató-
rios, segundooexecutivo. Ques-
tionado sobrea possibilidadede
ampliaro rodízio,oexecutivo
afirmou que tudodependerádas
chuvas. “Estamos tomando as

medidas necessárias. Se as condi-
ções declimacontinuaremsede-
teriorando,poderemosfazer[o
rodízio] por maistempo.Acom-
panhia avalia dia a dia situação
dosreservatórios”,disse.
Segundoo executivo,após o
cortede água,o serviçocostuma
demorar até dez horasparavol-
tar ao normalna regiãometro-
politana de Curitiba. Oprazo de
um dia previstono decreto, po-
rém, é umamedidaimportante
para evitaraçõesjudiciais.
A estataltem um planode in-
vestimentopara 2020 de R$ 1,
bilhão,que incluiobrascomoa

construção de uma barragemna
bacia do Miringuava, que é uma
das atingidas pela seca.
No primeirotrimestre,porém,
foraminvestidos somente 16%
do montante, um total de R$ 211
milhões,sendo48% do valordes-
tinadoa obrasparao abasteci-
mentode água. Questionado por
um analista sobreapossibilida-
de de revisão desseplano, oexe-
cutivo afirmouque oassunto
aindanãoestáemdiscussão.
A crise hídrica no Estado ocor-
re justamente em meio a uma
pandemia que amplia a deman-
daporáguapelapopulaçãoeque

ameaçaocaixadasempresas.
No primeiro trimestre deste
ano,aSaneparregistrouum re-
sultadopositivo, comaumento
anual de 17,7%em seu lucrolí-
quido,paraR$256milhões.
A inadimplência, uma das
grandes preocupações,ficouem
3,6%, oque Demetrio já classifica
como acima do normal.Os nú-
meros de abril aindanão foram
fechados,masoexecutivodizque
estão muito abaixo da faixa de
25% anunciada por entidades do
setor. Aempresa constituiuuma
provisão de R$ 3,7 bilhões para as
perdasesperadas.(TH)

Curtas


Lightespera ContaCovid
Odiretorfinanceirodadistri-
buidoradeenergiaLight,Roberto
Barroso,dissequeosetorespera,
paraapróximasemana,odecreto
da“ContaCovid”, comoemprésti-
moparaosocorroàsdistribuido-
ras.Segundoapresidentedacon-
cessionária,AnaVeloso,aexpecta-
tivaéqueamedidasejasuficiente
pararesolverosproblemasdecai-
xadasdistribuidoras.Elalem-
brou,contudo,quediscussõesso-
breaspectosmaisestruturais,co-
moasobrecontrataçãodeenergia,
aindaprecisamavançar.“Mases-
tamosotimistasdequeteremos
umasoluçãoconceitualdessadi-
mensãocaixa”, disseela,durante
teleconferênciacomanalistasna
sexta-feira.Aexecutivadestacou
queapandemiatraz“umcontexto
desafiadorparaaeconomia”,mas
queaLightestápreparadaparase-
guircomsuareestruturação.Entre
outrasmedidasparafazerfrente
aocenário,mencionouVeloso.a
companhiaaprovouaretenção
dosdividendos;orecebimentode
R$105milhõesderepassedefun-
dossetoriais;eacaptaçãodeR$
400milhõesemdebêntures,me-
didasparapreservarcaixa.Acom-
panhiafechouotrimestrecom
caixaconsolidadodeR$1,5bilhão
aR$2bilhões,naposiçãopro-for-
ma,aoseconsideraasmedidasto-
madasapós31demarço.

Lucro daCelesccresce
ACelesc,distribuidoracatari-
nensedeenergia,reportoulucro
líquidodeR$144milhõesnopri-
meirotrimestre,altade98%anteo
mesmoperíododoanopassado,e
tevecomoprincipalfator,segun-
doinformou,obomdesempenho
dereceitasedespesasnoperíodo.
Olucroantesdejuros,impostos,
depreciaçãoeamortização(Ebit-
da)tambémfoibeneficiadopelo
desempenhodereceitasedespe-
sasecresceu37,9%,paraR$286,
milhões.Jáareceitalíquidacaiu
0,7%,totalizandoR$2,02bilhões,
deidoàreduçãonovolumedefor-
necimentodeenergiade16,6%,na
comparaçãocom2019,reflexoda
quedanareceitacombandeirata-
rifária,quenotrimestreregistrou
R$29milhões,contraR$136mi-
lhõesumanoantes.

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