Valor Econômico (2020-05-09,10 e 11)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 10 da edição"11/05/2020 1a CAD B" ---- Impressapor cgbarbosa às 10/05/2020@21:13:22


B10|Sábado,domingoe segunda-feira, 9, 10 e 11 de maiode 2020

Agronegócios


IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


Fonte:Imaflora

Concentraçãono campo
Distribuiçãodas maiorese menoresáreas privadas

Imóveisquedetêm
25%das maioresáreas
privadasdo Brasil
Imóveisquedetêm
25%das menoresáreas
privadasdo Brasil

Fonte:Imea

Insumos em MT
Custosmédios(R$ por hectare)
Macronutrientes Herbicidas Inseticidas Fungicidas

Safra2019/20 Safra2020/21(outa mar) Safra2020/21(mar)

0

200

400

600

800

1.000
809,35 767,85 807,63

178,42 171,97 184,05

336,71 349,41 370,76
267,86 287,88 310,93

CenáriosÉoqueapontaumnovoestudoqueaplicaoÍndiceGiniparamensurarasituação


Desigualdade da distribuição de terras


no país é uma das mais altas do mundo


Daniela Chiaretti
De São Paulo

A desigualdade da distribuição
de terras no Brasiléuma das mais
altas do mundo. Um novo estudo,
que aplica o Índice de Gini para
medir estecenário, mostra que a
pontuação brasileira na divisãode
terras do país éde 0,73. O maior
desequilíbrio ocorre em Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia
e na regiãoprodutora conhecida
por Matopiba —parte do Mara-
nhão,Tocantins,PiauíeBahia.
São Estadosondea produção
de grãosnormalmente ocorre
em grandesimóveis.Adesigual-
dadeé maisbaixaem SantaCata-
rina, Amapáe EspíritoSanto, on-
de há maisagricultoresfamilia-
reseaproduçãoédiversificada.
O Índice de Gini é um instru-
mento para medir ograu de con-
centraçãoderendaemdetermina-
do grupo. Aponta a diferença en-
tre os rendimentos dos maispo-
bres e dos maisricos,variando de
zero a um. Um cenário de igualda-
de, ondetodosteriam a mesma
quantidadedeterra,éexpressope-
lo valorzero.No extremooposto
está ovalor um, ou seja, quando
umasópessoaseriadonadetudo.
NoPará,oíndicedeGinichega
a 0,85,indicamdadosque agre-
gam imóveiscom o mesmodono
apartir do CPF eCNPJ do Cadas-
troAmbientalRural(CAR).

A análise “Quem são os poucos
donosdasterrasagrícolasnoBra-
sil–OMapadaDesigualdade”, foi
feita por 15 autoresde noveuni-
versidades e institutos de pesqui-
sa. Usa dados do Incra edoCAR,
considerando também os assen-
tamentos rurais, comsua desa-
gregaçãoemlotesindividuais.
O agrônomoLuís Fernando
Guedes Pinto, pesquisador do Ins-
titutodeManejoeCertificaçãoFlo-
restal e Agrícola (Imaflora), que li-
dera oprojeto, explica que aanáli-
se do estudoéfeita por imóvel. Há
no Brasil5,3 milhõesde imóveis
ruraisqueocupam422milhõesde
hectares. Aárea média éde102
hectares, segundooestudo. Um
quarto (25%) da terra agrícola no
Brasil éocupadapor 15.686 dos
maioresimóveisdopaís,oquecor-
respondea 0,3%do total.Outros
25% do total são ocupadospor
3.847.937propriedades menores
(77%dototaldeimóveis),oquein-
dicaodesequilíbrio.
Aanálise mostra tambémque
em todosos Estados os 10% maio-
res imóveis ocupammaisde 50%
da área agrícola.Em seis Estados e
no Matopiba,os 10%maiores imó-
veisdetêmmaisde70%daárea.
“A AméricaLatina éaregião on-
de a desigualdadeda terra é a
maiordo mundo,eo Brasil éum
doslíderes”,dizGuedesPinto.
Os pesquisadores acreditam
que as propostas de mudar as re-

grasatuais,em discussão no Con-
gresso —comoa medida provisó-
ria910/2019,quepodeiravotação
estes dias —acentuamoquadro
em que a concentração de terras
no Brasil “é associadaaprocessos
históricos de grilagem,conflitos
sociais e impactos ambientais”. As
propostas alteram leisque tratam

de unidades de conservação e ter-
ras indígenas, ede terras públicas
aindasemdestinodefinido.
A MP 910, especificamente, tem
por argumentoregularizaraster-
ras dos pequenos proprietários,
diz o agrônomo.“Isso seria bom,
maso público-alvo da medida
não éopequenoagricultor”, con-

tinua, dizendo que otexto benefi-
cia grandesglebas. “A sinalização
destamedidaépéssima em um
momento de aumento do desma-
tamento. O pico de queimadas
em 2019foi pelodesmateque
ocorreu principalmente em terras
públicas”, segue. “A MP 910 cede
patrimôniopúblico para um pro-
cesso de grilagem,de violênciae
que éconcentrador. Écomose
dissesse: cada um ocupeseu espa-
ço, que depois regularizamos”.
Os alertas do sistemaDeter-B do
Instituto Nacionalde Pesquisas Es-
paciais (Inpe)mostramaumento
de 55,5% de janeiro a abrilem rela-
çãoaomesmoperíodode2019.
ParaGuedesPinto,aMP910“in-
centiva um cicloperversoe preda-
tórioqueéruimparaaimagemdo
Brasil, para os nossos compromis-
sos internacionaiseaté para o
Acordo União Europeia-Merco-
sul”. Segue: “É decisão que afeta a
todos que constroemaboa ima-
gemdoagronegóciobrasileiro”.
O estudo avança nas análises de
dados dos estabelecimentos rurais
dos censos agropecuários do IBGE
comdadosdoAtlasdaAgropecuá-
ria Brasileira, iniciativa do Imaflo-
ra edo GeoLab,da faculdadede
agronomiadaUSP(Esalq/USP).

O estudocompleto está em
https://www.imaflora.org/public/
media/biblioteca/15 8800646 0-
sustentabilidade_terras_agricolas.pdf

.

Custo de insumos


para soja deverá


subir em 2020/2 1


ANAPAULAPAIVA/VALOR

Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil: melhorestratégiaé garantirque o aduboesteja dentro da porteira o quanto antes

Grãos


Marina Salles
De São Paulo

O custoem realdos fertilizantese
defensivos usadosnas lavourasde
soja do país deverá superar,na safra
2020/21,opatamarobservadoneste
ciclo2019/20, cuja colheita está na
fase final.Embora os preços domés-
ticosdogrão tambémestejam infla-
dospelocâmbio, umavezqueoBra-
sil lidera as exportações globais da
oleaginosa,atendênciareforçaaim-
portânciadeoprodutoradotaruma
boapolíticadehedgeedefinirome-
lhormomentoparatravarvendas.
“Tudo em relação à safra 2020/21
será questãode timing. Ocusto de
produção estava maisbaixo que na
temporada passada até oiníciodo
ano, mas agora subiu.Aindatemos
sete mesesde comercialização pela
frente e o produtor tem que ficar
atentopara não comprometer seu
resultado”,disse DanielLatorraca,
superintendente do Instituto Mato-
Grossensede EconomiaAgropecuá-
ria (Imea). Em 2020/21, fertilizantes
e defensivos deverão representar
cerca de 40% do custo total dos soji-
cultoresdeMatoGrosso,maiorEsta-
doprodutordegrãosdoBrasil.
Qualquerdescuidono descasa-
mento do câmbiousado na compra
de insumos —grande partedos
quaiséimportada —enavenda da
soja poderá fazer do dólar, heróinas
últimas temporadas, um vilão. Con-
forme dadosdo Imea,51% dos insu-
mos que serão aplicados nas planta-
çõesmato-grossensesde soja em
2020/21 já foramcomprados, en-
quanto 30% de uma colheita previs-

taemcercade38milhõesdetonela-
das, foi comprometida por,em mé-
dia,R$109,16asacade60quilos.Em
2019/20, 81% das 34 milhõesde to-
neladas estimadas foram comercia-
lizadasaR$82,01asaca,emmédia.
No caso dos fertilizantes, a queda
dos preços em dólar no fim de 2019
estimulouaantecipaçãodecom-
pras pelos agricultores. Mas, em
março,ocusto do aduboemMato
Grossojá foi estimado pelo Imeaem
R$807,63porhectarenasoja,5%aci-
ma da média de outubro amarço.
Nacomparação,odólarsubiuquase
15%. “E um impactomaior será sen-
tido em abril, quando odólar supe-
rouR$5,50”,afirmouLatorraca.
Marcelo Mello, consultor da INTL
FCStone,pondera queosfertilizan-
tes fosfatados poderãorecuar. “Os
preçosem dólar subiram maisre-
centementeporcausadoperíodode
plantionosEUA,masatendênciade
curtoprazo édequedaem dólar”.
No caso dos nutrientes derivados do
potássio, porém, ele crê que a curva
debaixaestáperdendofôlego.
Acooperativaparanaense Coca-
mar,quetambématuaemSãoPau-
lo eMato Grossodo Sul, tem ins-
truídoseus associados a travarem
custos,porquea relaçãode troca—
sacas necessárias para acomprade
uma tonelada de insumos—ainda
está favorável. Enquantoa soja su-
biu 25% nas últimas semanas, os
principais insumostiveram alta de
6%. “Este não éumano para ficar
como negócio descasadoenem
tentaracertaroolhoda mosca”,
afirmouGeraldo Amarildo Gana-
za, gerenteda Cocamar,que tam-
bémtemeproblemaslogísticos.
Lair Hanzen, presidente da Yara
Brasil, líder em vendas de fertilizan-
tes no mercadodoméstico, concor-
daqueamelhorestratégiaégarantir
queoaduboestejadentrodaportei-
ra o quanto antes.“Até agorative-

mos poucas interrupções logísticas
por causada pandemia,mas vejo
com preocupaçãoos efeitos de um
possívellockdown”,observouele.
Naáreadeagrotóxicos,emmarço
houvealta de preçosem real em to-
das as categorias de produtos em
MatoGrosso.Em relaçãoaos custos
da safra 2019/20, os fungicidas fica-
ram 16% maiscaros, os herbicidas
subiram3%eosinseticidas,10%.
Matheus Almeida, analista do
Rabobank, afirmouque no merca-
do internacional houvequeda de
preços, consumidapelo câmbio no
Brasil. “Se olharmos os preços em
dólarvamos ver que o custo para o
produtorestá numnívelbem pró-
ximodo que foi a safra passada”.
No inícioda pandemia,em janei-

ro e fevereiro, Almeida lembrou que
problemas com embarques da Chi-
na, queexporta parcela importante
de matérias primas de agrotóxicos,
geroudificuldades para países que
necessitavam de pronta entrega,
mas em março a situaçãose norma-
lizou.“Nãovejoproblemasparaasa-
fra brasileira com relaçãoàs entre-
gas da China, porquetemosum
bom tempoparareceber essesinsu-
mosefazeradistribuiçãointerna”.
Empresasdosegmentocomoais-
raelense Adama, controladapela
ChemChina e focadaem produtos
genéricos, deverão repassar ao me-
nos parte da valorizaçãodo dólar
paraomercado. “Em termosdos
preçosem dólar, nãotivemosgran-
de variaçãonos custosdo glifosatoe

demais produtos na China.O ponto
é que, com a alta do dólar, teremos
um aumentodos custos para o pro-
dutor em real”,disse RomeuStan-
guerlin,CEOdaAdamanopaís.
A percepçãoda multinacional
alemã Basf é maisou menos a mes-
ma.“Estamosmonitorandodeperto
asituaçãoe odesenvolvimento de
fatores comocâmbio epreçodas
commodities. Mas a desvalorização
do real impacta nos custos e, conse-
quentemente, na formaçãode pre-
ços”, afirmou Eduardo Novaes, dire-
tor de marketing da Basf no Brasil.
Paramitigarriscos,eledissequeéin-
dicadogerenciamentodoscustosde
produção via ferramentas comoo
barter, comopagamentodos insu-
moscompartedaprodução.

BRFteve


prejuízono


primeiro


trimestre


Balanço


Luiz HenriqueMendes
De São Paulo

O acordoparaencerraruma
ação coletivamovidapor investi-
doresnos EUA e oimpactoda va-
lorizaçãodo dólarsobreoendi-
vidamento em moedaestrangei-
ra impedirama BRF de fecharo
primeiro trimestre com lucro,
apesarda geraçãode caixaedo
bomresultadooperacional.
Entre janeiro e março, adona das
marcas Sadia e Perdigãoteve prejuí-
zo líquido de R$ 45,9 milhões. Trata-
se,porém,deumaperdabemmenor
quereportada no primeiro trimes-
tre de 2019, quando a empresa
amargouprejuízodeR$1bilhão.
Para firmaroacordo coletivo nos
EUA —indenizandoos detentores
de recibos de açõesnos EUA (ADRs)
quepediramressarcimentoporpre-
juízos relacionados à Operação Car-
ne Fraca—, a BRF pagará US$ 40 mi-
lhões. O montante já foi provisiona-
do no primeiro trimestre,oquege-
rouumimpactodeR$204milhões.
Alémdisso,oaumentoemreaisde
parceladasdívidasdenominadasem
moedaestrangeirapesousobreo re-
sultado—emboranão tenhaefeito
sobreo caixa.A BRF reconheceuum
impactode R$ 109 milhõescom va-
riaçãocambialdeativosepassivos.O
índicede alavancagem(relaçãoen-
tre dívidalíquidae Ebitdaajustado)
subiu0,18vez,passandode2,5vezes,
emdezembro,a2,68vezes.Aindaas-
sim, éum dos menoresindicadores
dealavancagemdaindústria.
Operacionalmente, no entanto,
a BRF teve um desempenho positi-
vo—nessecaso,aaltadodólaraju-
dou,impulsionandoareceita em
reais.Entre janeiro emarço, are-
ceita líquida da empresa de ali-
mentos somou R$ 8,9 bilhões, in-
crementode21,6%nacomparação
com os R$ 7,3 bilhões reportados
emigualperíododoanopassado.
Olucroantesdejuros,impostos,
depreciaçãoeamortização(Ebitda,
nasiglaeminglês)tambémmelho-
rou. No primeirotrimestre, o Ebit-
da ajustado(que exclui efeitos não
recorrentes, comooimpacto nega-
tivodo acordonos EUA)totalizou
R$1,2bilhões,aumentode67,2%.A
margem Ebitdaajustada chegou a
14%, um incrementode 3,8 pontos
percentuaisnacomparaçãoanual.
No Brasil, oEbitda ajustado da
BRF aumentou63,1%,para R$ 611
milhões.Além disso, ogrupo ga-
nhou participação nosmercados
defrios,congeladosemargarinas.
Noexterior,oEbitdaajustadoda
BRF cresceu82,7%na comparação
anual,para R$ 682 milhões.Amar-
gem Ebitda aumentou5,3 pontos,
para 17%. O desempenho se deve,
principalmente, àmaior demanda
da China, que aumentouas com-
pras de produtos da BRF em quase
90% —ospreçosem dólar dos itens
importados pelopaísasiático fo-
ram,emmédia,24,6%maisaltos.
No mercado halal, que atendeos
preceitos muçulmanoseéumdos
principaisdiferenciaisdaempresa,a
BRF ainda enfrentadificuldades, co-
mo oembargo do Iraque ao frango
da Turquiae asuspensão das vendas
da fábrica de alimentos processados
de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes
Unidos, à ArábiaSaudita,principal
mercado do golfopérsico. Nos últi-
mos anos,os sauditas vêm restrin-
gindooacesso do frango estrangei-
roparaestimularaproduçãolocal.
Nesse cenário, amargemEbitda
da BRF no mercado halal caiu 3,8
pontos. A companhia tambémviu a
participaçãonomercadodealimen-
tos processados na regiãocair 6,5
pontos percentuais. Não àtoa, a BRF
anunciou na sexta-feira um acordo
paraadquirirumafábricadeproces-
sados na ArábiaSaudita, por US$ 8
milhões. A BRF tambémpretende
investirUS$ 7,2milhões paraquin-
tuplicaracapacidadedessafábrica.

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