O Estado de São Paulo (2020-05-12)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 Metrópole A


FERNANDO


REINACH


A


ntes que sua eficiência fosse
cientificamente comprova-
da, as máscaras caseiras fo-
ram adotadas pela população e já se
tornaram obrigatórias em algumas
cidades. Agora os cientistas começa-
ram a estudar sua eficiência. Desco-
briram que dois fatores são impor-
tantes para seu funcionamento. Um
é o material com que são feitas, ou-
tro é a vedação entre a máscara e o
rosto.
As famosas máscaras N95 usadas
nas UTIs para impedir que os profis-
sionais da saúde sejam contamina-
dos pelo SARS-CoV-19 garantem
que todo o ar que entra e sai dos
pulmões passe por um material fil-
trante capaz de reter gotas e micro-
gotas (aerossóis) dos líquidos pre-
sentes no ar.
São nessas partículas que o vírus
viaja de uma pessoa para outra. Algu-
mas partículas são relativamente
grandes (0,5 milímetro de diâme-
tro), outras muito pequenas (10 na-
nômetros, ou seja 0,00001 milíme-
tros). Para você ter uma ideia, uma
partícula do vírus SARS-CoV-19 me-
de 125 nanômetros em diâmetro.

Para que o ar esteja estéril é necessá-
rio que o material filtrante retenha es-
sas gotas e microgotas e elas não esca-
pem por espaços que existem entre a
borda da máscara e a pele da face da
pessoa. Essa vedação é o que provoca
as marcas na pele e as feridas que apare-
cem nas fotos de enfermeiros que
usam essas máscaras por longo tempo.
O que os cientistas fizeram agora foi
medir a capacidade filtrante dos vários
tipos de tecidos usados na confecção
de máscaras caseiras, usando um equi-
pamento relativamente simples. Um
cano separa dois compartimentos e o
material da máscara é colocado sobre a
entrada desse cano como um filtro, res-
tringindo o fluxo de ar entre os compar-
timentos. Um gerador de gotas e gotí-
culas produz uma mistura de partícu-
las de diversos tamanhos e as injeta no
primeiro compartimento. Um ventila-
dor cria uma pressão que força um flu-
xo de 35 ou 90 litros de ar por minuto
através dos 59 centímetros quadrados
do tecido que cobre o cano. Esse é o
volume de ar que passa por nossa boca
quando estamos respirando lentamen-
te ou quando estamos ofegantes. Em
cada um dos dois compartimentos fo-

ram instalados equipamentos que me-
dem a quantidade e o tamanho das go-
tas e microgotas. Comparando a quan-
tidade e o tamanho das partículas de
cada lado do “filtro” (o tecido da más-
cara), é possível medir a capacidade de
retenção das máscaras. Para simular o
vazamento de ar pela área de contato
da máscara com a pele, pequenos furos
foram feitos no tubo, de modo que o ar
pudesse passar sem atravessar obriga-
toriamente o tecido. Esses buracos cor-
respondiam de 0,5% a 2% da área do
tecido. Essa é a área que existe entre a
máscara e a face das pessoas.
Construído o equipamento, os cien-
tistas testaram 15 diferentes tipos de
tecido no equipamento e mediram a

capacidade de filtragem de cada um.
Foram medidas as capacidades de fil-
tragem de diversas camadas de tecido,
de combinações de tecidos, e, para ca-
da um desses materiais filtrantes, foi
medida a filtragem com os buracos
abertos e os buracos fechados.
Os resultados estão em longas tabe-
las e gráficos descritos cuidadosamen-
te no artigo e no seu apêndice. Vou des-
crever alguns dos resultados que po-
dem interessar aos fabricantes casei-
ros de máscaras. O tecido que melhor
segura todos os tamanhos de gotas e
gotículas é o algodão, mas ele precisa
ter uma trama de 600 fios por polega-

da, ou seja, tem de ter uma trama bem
fechada. O algodão de 80 fios por pole-
gada é praticamente permeável a to-
dos os tamanhos de partículas. O me-
lhor resultado é obtido quando se usa
uma camada de seda natural e uma ca-
mada de algodão. Nesse caso a filtra-
gem é até melhor que a obtida com
uma máscara profissional N95. Do pon-
to de vista prático (a seda natural é ca-
ríssima), duas camadas de tecido de
algodão de 600 fios por polegada têm
aproximadamente a mesma capacida-
de de retenção do material usado nas
máscaras N95.
Até aqui a notícia é ótima, pois exis-
tem materiais facilmente disponíveis
que filtram tão bem quanto o material
usado nas N95. A má notícia se relacio-
na ao problema dos buracos ou fendas
entre a pele e a máscara. No caso da
N95, quando ela é testada nas condi-
ções em que existem os buracos no apa-
relho (o que equivale ao espaço entre a
máscara e a face), a retenção das partí-
culas cai violentamente. Sem os espa-
ços, ela retém quase 100% das partícu-
las de todos os tamanhos. Mas com os
espaços essa retenção cai para 40%.
Ou seja 60% das partículas não são reti-
das. Essa queda é ainda mais acentua-
da nas máscaras feitas com tecido, que
perdem até 70% da retenção com a pre-
sença de fendas entre a pele e a másca-
ra. Não é à toa que os enfermeiros
usam máscaras com bordas que aper-
tam a pele e até causam feridas.
A conclusão desse trabalho é que as
máscaras caseiras podem reter as gotí-
culas presentes no ar de maneira seme-

lhante às máscaras profissionais,
contanto que sejam produzidas
usando o tecido correto. Mas, tanto
as máscaras profissionais quanto as
caseiras perdem grande parte de sua
eficiência pelo mal contato entre a
máscara e o rosto. Finalmente é bom
lembrar que nesses testes não foi me-
dida diretamente a capacidade das
máscaras de diminuir a contamina-
ção, mas somente a capacidade de
reter as gotículas que devem levar o
vírus de uma pessoa para outra.
Esse trabalho sugere que para ter-
mos máscaras eficientes feitas em
casa são necessários dois cuidados.
Um é a escolha adequada do tecido
ou combinação de tecido; a outra é
melhorar o encaixe das máscaras na
face de quem usa. Como temos no
Brasil costureiras capazes de fazer
vestidos que aderem perfeitamente
às curvas naturais do ser humano,
me parece que essa habilidade pode-
ria ser posta a bom uso, aperfeiçoan-
do o desenho de nossas máscaras.
Esse é um trabalho científico que
tem o potencial de influenciar a mo-
da feminina e masculina nos próxi-
mos meses.

]
MAIS INFORMAÇÕES: AEROSOL FILTRA-
TION EFFICIENCY OF COMMON FABRICS
USED IN RESPIRATORY CLOTH MASKS.
ACSNANO
HTTPS://DX.DOI.ORG/10.1021/ACSNA-
NO.0C

É BIÓLOGO

Roberta Jansen /RIO


O novo coronavírus já estava
circulando havia pelo menos
20 dias no Brasil quando mul-
tidões tomaram as ruas de
grandes cidades para cele-
brar o carnaval, revela um es-
tudo divulgado ontem pelo
Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz).
O trabalho mostra que o
Sars-CoV-2 começou a se espa-
lhar no País ainda na primeira
semana de fevereiro, ou seja,
mais de 20 dias antes de o pri-
meiro caso ser diagnosticado
oficialmente em um viajante
que retornou da Itália para São
Paulo. O caso foi detectado em
26 de fevereiro, Quarta-Feira
de Cinzas, quase 40 dias antes
das primeiras confirmações ofi-
ciais de transmissão comunitá-
ria, em 13 de março.
Observa-se ainda que, quan-
do os primeiros blocos foram
para as ruas, já havia transmis-
são comunitária da doença. Es-
sa provavelmente foi muito ace-
lerada pelas aglomerações. Os
primeiros casos seriam do fim
de janeiro. O estudo foi feito
com uma metodologia estatísti-
ca de inferência, a partir dos re-
gistros de óbitos, e publicado
na revista Memórias do Instituto
Oswaldo Cruz de forma prévia,
ainda sem revisão de pares.
O trabalho também revelou
que o vírus começou a circular
muito antes do registrado ofi-
cialmente na Europa e nos Esta-
dos Unidos. Os autores desta-
cam que, em todos os países
analisados, a circulação da co-
vid-19 começou muito antes
que fossem implementadas me-
didas de controle, como restri-
ção de viagens aéreas e distan-
ciamento social. Na Europa, a
circulação da doença começou
aproximadamente em meados
de janeiro na Itália e entre fim
de janeiro e início de fevereiro
na Bélgica, França, Alemanha,
Holanda, Espanha e Reino Uni-


do. O começo de fevereiro tam-
bém foi o período de início da
disseminação na cidade de No-
va York, nos Estados Unidos.
A pesquisa é a primeira a
apontar o período de início da
transmissão comunitária no
Brasil e reforça evidências preli-
minares de pesquisas conduzi-
das na Europa com análises ge-
néticas. Corrobora ainda acha-
dos de estudos realizados nos
Estados Unidos, que indicaram
começo da propagação viral na
cidade de Nova York entre 29
de janeiro e 26 de fevereiro.
Apesar de vários países te-
rem o início da transmissão co-
munitária em momentos mui-
to próximos, a expansão da epi-
demia em cada localidade pare-
ce ter seguido uma dinâmica
própria. “Muito provavelmen-
te, a dinâmica de expansão da
epidemia foi definida por fato-
res locais, como características
ambientais de temperatura,
precipitação e poluição do ar,
densidade e demografia da po-
pulação”, acrescenta o pesqui-
sador do Instituto Gonçalo Mo-
niz (Fiocruz-Bahia), Tiago
Graf.
Os autores destacam ainda
que os resultados obtidos refor-
çam a importância da imple-
mentação de ações permanen-
tes de vigilância molecular,
uma vez que o novo coronaví-
rus pode voltar a circular e cau-
sar surtos ao longo dos próxi-
mos anos. “A intensa vigilância
virológica é essencial para de-
tectar precocemente a possível
reemergência do vírus”, diz

Gonzalo Bello, pesquisador do
Laboratório de Aids e Imunolo-
gia Molecular do IOC/Fiocruz,
coordenador da pesquisa.

Técnica. Para estimar o perío-
do de início da transmissão vi-
ral comunitária do novo corona-
vírus, os pesquisadores desen-
volveram um novo método, par-
tindo do crescimento exponen-
cial do número de mortes nas
primeiras semanas de surto.
Já que a carência de testes de
diagnóstico e o grande porcen-
tual de infecções assintomáti-
cas dificultam a contagem de ca-
sos da doença, os registros de
óbito são considerados a infor-
mação mais confiável sobre o
progresso da epidemia. Podem
ser usados como um rastreador
“atrasado”, que permite obser-
var o curso da doença de forma
retrospectiva. Considerando
que o tempo médio entre a in-
fecção e o óbito por covid-19 é
de cerca de três semanas e a ta-
xa de mortalidade da doença é
de aproximadamente 1%, os
cientistas aplicaram um méto-
do estatístico para inferir o mo-
mento de início da epidemia a
partir do número acumulado
de mortes nas primeiras sema-
nas de surto em cada país.
“Observando os dois países
onde já existe grande número
de genomas sequenciados – Chi-
na e Estados Unidos –, constata-
mos que a estimativa obtida a
partir do número de mortes foi
semelhante à obtida a partir da
análise genética, validando a no-
va abordagem”, afirma a pesqui-
sadora da Udelar Daiana Mir.
No Brasil, outras evidências
apoiam a estimativa de que a
transmissão local começou no
início de fevereiro, coincidin-
do com a expansão da epide-
mia na América do Norte e Eu-
ropa. De acordo com o InfoGri-
pe, sistema da Fundação
Oswaldo Cruz que monitora as
hospitalizações de pacientes
com sintomas respiratórios
agudos graves (SRAG), o núme-
ro de internações encontra-se
acima do observado em 2019
desde meados de fevereiro de
2020.
Além disso, análises molecu-
lares retrospectivas de amos-
tras de SRAG detectaram um
caso de infecção por Sars-
CoV-2 no Brasil na quarta se-
mana epidemiológica, entre 19
e 25 de janeiro. O aumento sus-
tentado de infecções foi obser-
vado a partir da sexta semana
epidemiológica, entre 2 e 8 de
fevereiro, conforme o Monito-
raCovid-19, da Fiocruz. “Esses
dados epidemiológicos confir-
mam a introdução do Sars-
CoV-2 no Brasil desde o fim de
janeiro e claramente susten-
tam nossos resultados, que
apontam que o vírus estava cir-
culando na população brasilei-
ra desde o início de fevereiro”,
pontua Gonzalo.

E-MAIL: [email protected]

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


A morte do cofundador da Sobloco Cons-
trutora, Luiz Carlos Pereira de Almeida,
comove e entristece o setor imobiliário como
um todo. Vítima de uma insuficiência cardíaca,
o engenheiro civil faleceu em sua residência, no
último dia 6 de maio, aos 94 anos.
Em 1958, Luiz Carlos cofundou a Sobloco
Construtora junto com seu sócio Mário Najm.
Seu esforço, desde então, contribuiu para
que a empresa se destacasse no âmbito do
desenvolvimento urbano brasileiro, tendo atuado
nos mais diversos segmentos de construção,
promovendo obras em edifícios comerciais,
shopping centers, hotéis, terminais de transporte
e indústrias.
No final dos anos 1970, a Sobloco foi
a responsável pela construção da Riviera
de São Lourenço, um verdadeiro marco do
desenvolvimento urbano sustentável.
Visionário, o engenheiro paulistano presidiu
o capítulo brasileiro da Federação Internacional
Imobiliária (FIABCI-BRASIL) de 1984 a


  1. Entre 1991 e 1992, enquanto atuava em
    diversos cargos na FIABCI Mundial, idealizou
    o Prix d’Excellence, conhecido em
    todo o mundo como o “Oscar” do
    mercado imobiliário internacional.
    No Brasil, o Prix d’Excellence
    influenciou a criação do Prêmio
    Master Imobiliário, que já está em
    sua 26ª edição. Não obstante, entre
    1993 e 1994, Luiz Carlos também
    presidiu a FIABCI Mundial.
    O reconhecimento gerado pelo Prix
    d’Excellence e pelo Master Imobiliário está
    diretamente relacionado ao próprio legado
    deixado por Luiz Carlos, que recebeu diversas
    homenagens ao longo da vida. Até o ano passado,
    o empresário ainda fazia questão de comparecer
    pessoalmente às reuniões da FIABCI-BRASIL e
    do Secovi, entidade da qual era conselheiro nato.
    Sua atuação, entretanto, nãoficou restrita ao
    setor. Em 1993, foi o responsável pela criação
    da Fundação 10 de Agosto, na Riviera de São
    Lourenço, que realiza diversas iniciativas sociais
    voltadas a jovens e crianças carentes de Bertioga


(SP). Semfins lucrativos, a entidade oferece
educação e qualificação profissional à população
da cidade, e já atendeu mais de 22
mil pessoas desde a sua abertura.
Luiz Carlos deixa a mulher
Vera e setefilhos. Deixa também
um amplo legado, que será per-
petuado por meio das ideias ino-
vadoras que ajudou a implantar, e
também por meio da atuação das
entidades que presidiu e com as
quais tanto contribuiu.
O engenheiro foi um homem de ideias que,
com determinação e persistência - características
de sua personalidade -, concretizou projetos
urbanísticos ousados e sustentáveis. Com esta
sua visão vanguardista, influenciou no desenvol-
vimento de um setor inteiro.
Uma grande perda para o Brasil, para a
FIABCI e para todo o setor imobiliário. Em
nome da Federação no Brasil, deixo aqui meus
profundos sentimentos à família.
Por José Romeu Ferraz Neto, presidente da
FIABCI-BRASIL

COLUNA FIABCI-BRASIL INFORME PUBLICITÁRIO

Engenheiro presidiu
a FIABCI Mundial
e seu capítulo
brasileiro, além de ser
o cofundador da
Sobloco Construtora

SÃO PAULO, 12/05/

Coluna publicada às terças-feiras sob responsabilidade da
FIABCI-BRASIL (Federação Internacional Imobiliária)
Rua Dr. Bacelar, 1.043 - CEP: 04026-002 - São Paulo/SP
Tel: (11) 5078-7778 - http://www.fiabci.com.br
Produção gráfica: Publicidade Archote

Foto: Ken Chu

O adeus a Luiz Carlos Pereira de Almeida,


idealizador do Prix d’Excellence


lDesafio

Vírus chegou


ao País em


janeiro, diz


Fiocruz


“Esse período bastante
longo de transmissão
comunitária oculta chama a
atenção para o grande
desafio de rastrear o novo
coronavírus.”
Gonzalo Bello
PESQUISADOR DO DO IOC/FIOCRUZ

Estudo indica que no carnaval já havia


transmissão comunitária da doença


Ciência da Máscara Caseira


É preciso escolher o tecido
adequado e garantir o
melhor encaixe
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